Subsistem dúvidas sobre o caráter definitivo da renúncia de Lionel Messi à seleção Argentina, hoje anunciada pelo jogador. “Para mim chega. Custa-me mais do que a qualquer um, mas é evidente que não é para mim”, atirou o esquerdino, de 29 anos, após a derrota na final da Copa América, frente ao Chile. Mas, se não voltar com a palavra atrás, o argentino junta-se a um clube de estrelas do futebol mundial que nunca conquistaram qualquer troféu em representação dos seus países. Lembra-se deles?
Sócrates
“A beleza está primeiro. A vitória é secundária. O que é interessa é o prazer.” Não se sabe quantas vezes o brasileiro iria bocejar durante os jogos deste Euro 2016, se ainda fosse vivo (morreu em 2011, com 57 anos), mas sabe-se que não somou qualquer título ao serviço da seleção canarinha. E isso importa? “Pelo menos perdemos a lutar pelos nossos ideais”, disse um dia sobre a eliminação frente à Itália, no Mundial de 1982. Era o maestro no meio campo daquela geração, a última que o Brasil teve “irreverente, alegre, criativa, livre para correr”, na opinião deste filósofo da bola. O doutor, como também ficou conhecido por ter tirado o curso de medicina à custa de faltas aos treinos, vivia para desfrutar o momento. Foi esse o seu maior troféu. “Eu bebo, eu fumo, eu penso”. E também jogava muito.
Paolo Maldini
Representou a Itália dos 19 aos 34 anos, num total de 126 partidas. Esteve em sete fases finais, quatro em Mundiais e três em Europeus, capitaneou a seleção em cinco, jogou duas finais (Mundial de 1994 e Europeu de 2000). E, no entanto, o defesa que conquistou por sete vezes o título de campeão italiano e venceu cinco edições da Liga dos Campeões, sempre pelo AC Milan, não conseguiu levantar qualquer troféu pela squadra azzurra.
Eric Cantona
Antes do pontapé à Bruce Lee num adepto do Crystal Palace, em janeiro de 1995, já tinha sido suspenso da seleção francesa em duas ocasiões, ambas por causa da língua afiada: na primeira, em 1988, chamou “saco de merda” ao selecionador Henri Michel; e na segunda, em 1991, tratou cada membro do conselho de disciplina da federação francesa por “idiota”, durante uma audição para se defender de um pontapé na bola contra um árbitro. Após o famoso golpe de kung fu, ao serviço do Manchester United – onde foi preponderante a quebrar um jejum de títulos que durava há 26 anos -, nunca mais voltou à equipa nacional. Tinha 28 anos, 45 jogos e 25 golos. Ficou o trauma: quando soube que seria excluído da convocatória para o Mundial de 1998, que viria a ser ganho pelos franceses, decidiu pendurar as chuteiras. E passou a apoiar a Inglaterra. Pela França, acabou por jogar apenas no Europeu de 1992, sem passar da fase de grupos.
Ferenc Puskas
Estrela do Real Madrid dos anos 50 e 60, o goleador húngaro colecionou cinco títulos nacionais de Espanha seguidos e conquistou três Taças dos Campeões Europeus. Mas foi na seleção que se deu a conhecer. Ao todo, 84 golos em 85 jogos, com o ponto alto no Campeonato do Mundo de 1954. Contra todas as expetativas, a Hungria quebrou na final perante a Alemanha, quando na primeira fase da prova tinha goleado a rival por 8-3.
Johan Cruyff
Duas décadas mais tarde, foi um holandês a emergir como principal figura do futebol europeu e mundial. E de novo a Alemanha atravessou-se à frente da equipa que mais tinha brilhado até então. O já tricampeão europeu pelo Ajax apagou-se na final, supostamente como consequência de uma noite mal dormida. Diz quem lidou de perto com a situação que Cruyff se manteve agarrado ao telefone até horas impróprias. Do outro lado da linha, a sua mulher, Danny. Exigia-lhe explicações sobre a notícia de um tabloide alemão com o sugestivo título de “Cruyff, champanhe e mulheres nuas”. O artigo falava numa festa de quatro jogadores holandeses e duas alemãs na piscina do hotel. A oportunidade de ser campeão do mundo em 1974 esfumou-se e, quanto anos depois, o talentoso holandês recusou ir à Argentina. Não por um protesto contra a ditatura militar, teoria que vigou durante três décadas, mas por medo de ser raptado, segundo esclareceu o próprio há uns anos. Além do Mundial de 1974, jogou o Europeu de 1976 e a Holanda ficou-se pelo terceiro lugar.
Raúl González
Era, até outubro passado, o maior goleador da história do Real Madrid (Ronaldo superou-o). Do seu currículo constam duas Ligas dos Campeões (com golos seus), em 2000 e 2002, e seis campeonatos de Espanha, mas na seleção o sucesso só chegou após a sua saída de cena, no Mundial de 2006. Desde então, os espanhóis venceram dois Europeus (2008 e 2012) e o Mundial de 2010 sem o contributo do segundo melhor marcador de sempre da equipa nacional (44 golos em 102 jogos).
Zico
Quando, no final dos anos 80, abandonou a seleção, apenas um jogador permanecia à sua frente na lista de melhores marcadores de sempre do Brasil: Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé. Com 66 golos (em 89 partidas), este talentoso avançado, da mesma geração de Sócrates, só perdeu um jogo nos três Mundiais que disputou – contra a Itália, em 1982. Em 1978 e 1986 não participou nos encontros que ditaram a eliminação da canarinha. Também nunca ganhou a Copa América. A ‘glória’ pela seleção chegaria anos mais tarde, em 1995, mas ser campeão do mundo de futebol de praia está longe de ser um sonho de criança para craque brasileiro que se preze.
Eusébio
Lenda do Benfica bicampeão europeu dos anos 60, deixou a sua marca com a camisola da seleção no Mundial de 1966. Os ingleses não mais esqueceram aquelas arrancadas pelo campo fora, aliadas ao poderoso remate, que tanto os preocuparam antes do duelo das meias-finais. No fim, Bobby Charlton e companhia levaram a melhor, mas a imagem do português a chorar, com um chapéu de polícia na cabeça, correu mundo e alimentou a lenda. Foi a primeira e única vez que participou numa fase final de uma grande competição.