Com o programa “Cultura que somos”, Pedro Adão e Silva pretende “conhecer aquilo que é a produção cultural e artística em Portugal na sua diversidade, do território, mas também social”.
“Quis começar pela cultura urbana, porque acho que é fundamental trazer para o centro, dar visibilidade, dar voz, àquilo que se faz fora dos espaços institucionais, fora dos espaços dos museus, das editoras, dos teatros e dos cineteatros”, afirmou aos jornalistas, em Chelas, onde visitou o estúdio Kriativu e teve um encontro com responsáveis da associação Chelas é o Sítio.
O dia começou na zona da Matinha, no recinto que entre quinta-feira e domingo vai acolher o festival Iminente, onde o ministro visitou a exposição “Bairros”, onde serão mostrados projetos desenvolvidos desde junho por vários artistas com crianças e jovens de bairros sociais de Lisboa.
Pedro Adão e Silva considerou os projetos que conheceu no Iminente e em Chelas “muito diferentes e muito interessantes”, salientando que “são atravessados por uma mesma característica que é a importância dos espaços comunitários, que nascem das pessoas que vivem dos bairros, como espaços e contextos para a criação artística e cultural capazes de produzir coisas muito interessantes”.
“Uma das funções do ministro da Cultura é dar visibilidade, dar voz àquilo que é feito no país, e quando o tema é cultura urbana há outra dimensão importante: seja na música, no graffiti, na arte, há um espaço para dar voz e representar tensões que existem e que atravessam as nossas sociedades e que encontram aí espaço de representação. E isso também é importante: estarmos atentos, sensíveis e disponíveis para ouvir tudo”, afirmou.
Embora se olhe para associações que desenvolvem atividade em bairros sociais “como associações de cariz social”, Pedro Adão e Silva pretende “chamar a atenção para a dimensão cultural e artística daquilo que é feito nestes contextos”.
Uma das pessoas com quem o ministro falou em Chelas foi o ‘rapper’ Sam The Kid, que nasceu, cresceu e vive naquela zona e é um dos fundadores da associação Chelas é o Sítio, criada para “tentar combater um estigma”. “Por cada coisa má que se ouve na comunicação social [sobre Chelas], tentamos fazer 10 boas”, disse.
Ricardo Gomes, outro dos fundadores da associação, recordou que vivem em Chelas cerca de 40 mil pessoas, mas ainda há quem esconda que é dali.
Uma das “coisas boas” que nasceram por ali foi o Estúdio Kriativu, espaço que ocupa um dos espaços de loja do Bairro do Armador, também conhecido como zona M de Chelas.
Ali há “sempre bicicletas disponíveis para a comunidade”, um estúdio de música e todos os meses são organizadas formações, dirigidas às crianças e jovens do bairro.
“Assim que abrimos o espaço mudámos a dinâmica do bairro”, disse à Lusa Wilson Lopes, um dos responsáveis pelo Kriativu.
Os ‘miúdos’, com idades entre os 6 e os 20 e muitos anos, vão lá “sobretudo pelas bicicletas e também o estúdio”.
No estúdio, o ministro da Cultura ouviu música criada por um dos frequentadores do espaço, salientando a importância de se “pensar como se podem criar espaços para que surjam mais nomes novos, a partir dos territórios urbanos para os quais se olha com alguma estranheza e distância social”.
Hoje, o ministro ia ainda conhecer projetos nas Olaias, Amadora, Queluz e Cascais.
A próxima paragem do programa “Cultura que somos” será a Norte. De acordo com o Pedro Adão e Silva, “a ideia é fazer algo na Área Metropolitana do Porto e também no distrito de Braga, que será à semelhança do dia em Lisboa”.
“É muito importante estar sensível, aberto e ouvir aquilo que acontece fora dos contextos institucionais. Gostava de deixar esta marca de perceber e sentir que há outra dinâmica cultural complementarmente e em paralelo com essa que é mais conhecida. E foi por isso que quis começar estes percursos com a cultura urbana”, reforçou.
JRS // TDI