As pessoas nuas a tomar banho no rio, a multidão de mochila às costas que rumou à boleia para uma isolada aldeia minhota, os charros fumados em público pela primeira vez, o pop rock a assumir-se como banda sonora de uma nova geração, já influenciada pela cultura hippie mas ainda amordaçada pelo regime marcelista… São tantos os “postais” que poderiam desatar esta viagem no tempo. Vilar de Mouros foi um momento histórico, tanto em Portugal como na Europa – à exceção de Inglaterra, um festival de música com mais de 20 mil pessoas era um fenómeno inédito. Mas durante três fins de semana de agosto de 1971, este festival foi o “Woodstock português”, palco para grandes bandas e músicos, e cenário para algumas revoluções de costumes que, coisa inédita, desafiaram, coletivamente, os anacrónicos cânones morais impostos pela ditadura.
Mas contar toda a história deste festival mítico implica recuar até 1965, quando António Barge, um médico natural de Vilar de Mouros e radicado em Lisboa, decidiu organizar, na pequena aldeia do concelho de Caminha, um festival dedicado à música folclórica do Minho e da Galiza. Três anos depois, em 1968, alargou a programação ao fado e à música erudita, mas também à chamada canção de intervenção, ficando para a História as atuações de Zeca Afonso e de Adriano Correia de Oliveira. As “canções proibidas” destes cantautores resistentes à ditadura foram “cantadas em coro pelo público”, referiram os zelosos relatórios da PIDE.