O avô Aurélio, de 77 anos, é um sentimentalão que se desfaz em lágrimas em todos os eventos de família, quase sempre por duas razões: por tudo e por nada. Já a avó Maria José, de 76 anos, também é senhora para se emocionar de vez em quando mas não da mesma maneira que o marido.
Foi deles que José Vaz, o neto, se lembrou quando lhe surgiu a oportunidade de criar uma banda desenhada num jornal regional onde trabalhava como designer gráfico. A partir dali, Lelo (Aurélio) e Zezinha (Maria José) passaram a servir-lhe de inspiração para as tiras que semanalmente desenhava para o semanário Vivacidade, de Gondomar. Quando viram pela primeira vez os seus nomes no jornal a reação foi a que se podia esperar: muitos sorrisos e gargalhadas, o neto cheio de beijos e abraços e, claro, o avô Lelo a chorar.
Mas, e após uma breve passagem por um outro jornal regional, o VivaDouro, Lelo e Zezinha decidiram partir para o mundo virtual. A BD não permitia a José Vaz, ou Zez, como é conhecido por todos, agora com 30 anos, dar largas a tanta imaginação. Na internet fez crescer a paisagem e aumentou o número de personagens. O cenário é agora São Mamede em Festa, “o nome que eu, em miúdo, achava que era o da terra dos meus avós. Só mais tarde descobri que, afinal, era São Mamede de Infesta”, conta a rir.
Nos seis episódios da série, ou webcomic, como é designada no mundo virtual, aparece uma rua inspirada na avenida do Conde e um bar, cujo dono tem os mesmos tiques e expressões de um senhor de um café da praça Carlos Alberto, no Porto. “O senhor nem faz ideia disso mas eu sempre que lá ia com o meu irmão, que é quem dá voz a essa personagem, pedia-lhe para estar atento a todos os pormenores do senhor, do comportamento à maneira de falar”, revela Zez. No mesmo bar animado também há uma miúda chamada Vespa, que é o nome de uma amiga do autor e um brasileiro chamado Hansen.
Os guiões da série andam à volta da forma como Aurélio e Maria José “se relacionam com a cultura pop e as novas tecnologias” e também com episódios do quotidiano de Zez. Sim porque, “a minha ideia é que as histórias não sejam muito datadas, para que possam ser vistas e compreendidas daqui a muitos anos”, explica.
Pouco adepto do isolamento, bem pelo contrário, José Vaz, que estudou animação no Reino Unido e design de multimédia na Escola Superior Artística do Porto, decidiu partilhar a mesa de trabalho num espaço de cowork. É na sede da Circus, uma organização cultural cujo objetivo é promover e divulgar a arte portuguesa, que conversa com os colegas e vai desenvolvendo as ideias para o futuro de Lelo e Zezinha.
Por agora, a série de seis episódios, já concluída, vai poder ser vista ainda este ano no canal Q. Em 2017 Zez espera estrear uma nova temporada e ideias é o que não lhe falta. “Sabe muito bem escrever e produzir estas coisas. Era interessante fazer vida disto mas, infelizmente, em Portugal quase não há indústria desta animação. Eu gostava que houvesse mais gente a trabalhar nisto, até para ter colegas com quem trocar ideias”, conclui a sorrir.
VEJA AQUI DOIS EPISÓDIOS DE Lelo e Zezinha
O Primo do Toy
Elevador