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La pivelina traz uma das mais jovens revelações da história do cinema, Asia Crippa. Com apenas dois anos a menina domina o ecrã e as outras personagens, por mais que pintem o cabelo ou o nariz de vermelho. E se, como é sabido, a maior parte dos realizadores foge da utilização de crianças (e de animais) dada a imprevisibilidade dos mesmos, Tizza Covi e Rainer Frimmel souberam usar essa imprevisibilidade a seu favor. Ou então, se quisermos colocar as coisas numa outra perspetiva, é a menina-bebé, Asia Crippa, que tem um extraordinário sentido de improvisação.
Ela é extraordinária, não há dúvida, mas brilha pela liberdade conquistada pelos realizadores, que, obviamente, afastaram-se de um guião de deixas decoradas e confiaram no bom trabalho dos atores adultos. Na senda do que tem sido visto em muito cinema europeu, em especial o romeno, La Pivellina é filmado como se fosse um documentário. Usando as mesmas armas naturalistas, de um extremo realismo, que até contrasta com o mundo da história. O ambiente criado é, de resto, a primeira das virtudes.
Os minutos iniciais mostram logo a força cénica e sugerem a atmosfera. Num descampado no meio de nenhures, com um parque infantil decadente, uma mulher de cabelo vermelho (como uma versão benfiquista da Maria José Valério) e ar vivido, grita pelo seu cão e acaba por encontrar uma menina. É verdade, como se a ousadia da pivellina não bastasse, no filme entra também um cão, mas que, diga-se, faz menos do que um ator secundário e mais do que uma figuração. Temos, por isso, a perspetiva de quem encontra e não a de quem perde.
Asia encontra o amor maternal, ou até mesmo de avó, no ambiente mais inesperado e aparentemente instável: uma família de membros do circo. Trabalhadores de circo que nem circo têm, e vivem isolados da realidade nuns pré-fabricados de uma Roma oculta. É brilhante o retrato daquele microcosmos solitário e solidário, onde se desvanecem as regras, a magia é algo de quotidiano e a existência de Asia um truque de ilusionismo. São muito boas as três personagens que a acompanham, assim como a mãe Godot, pela qual esperamos e esperamos.
O único truque desta riqueza é uma certa fusão com a realidade. Os atores têm os mesmos nomes das personagens. E o casal é italo-germânico assim com os realizadores. E a outra grande participação, também nada fácil, é de Tairo Carolli, de 13 ou 14 anos, que faz estrondosamente o papel de irmão mais velho de ocasião. Embora sem os mesmos ingredientes, nem a mesma estática, La Pivellina faz jus à riquíssima tradição neorrealista italiana e é mais um exemplo, depois do fenomenal Eu sou o Amor, de um novo cinema italiano que quer voltar a ser grande.