É a partir do mote Amanhã Hoje/Tomorrow Today que a 4ª edição da Bienal de Fotografia do Porto, com direção de Virgílio Ferreira e co-direção artística de Jayne Dyer, apresenta este ano mais uma programação ambiciosa que coloca a fotografia no centro da reflexão e experimentação artística, com os olhos postos no futuro.
A decorrer até 29 de junho, em espaços como o Centro Português de Fotografia, a Reitoria da Universidade do Porto, a Estação de Metro de São Bento, a Reitoria da Universidade do Porto, a Casa do Infante, mas também, pela primeira vez, a ocupar o Museu Nacional Soares dos Reis, a Galeria da Biodiversidade, a Maus Hábitos e a Galeria Municipal do Porto, que vão acolher muitas exposições e atividades – todas com entrada gratuita.
Nesta 4ª edição, e porque, dizem, “o futuro se constrói no presente”, o programa está organizado em torno de quatro plataformas interligadas: Conectar, Sustentar, Vivificar e Expandir. Diz a organização que estas “operam como zonas de ensaio para projetos expositivos, residências artísticas, investigações colaborativas e processos de mediação territorial”, com a Bienal a acolher práticas “que atravessam territórios urbanos e rurais, comunidades locais e redes internacionais, promovendo modos plurais de relação entre imagem, ecologia, tecnologia, afeto e memória”. Tudo para que o presente estabeleça pontos de contacto e compromisso com o futuro.
Sustentabilidade, tecnologia, alterações climáticas, memória, relação entre a sociedade humana e as paisagens naturais, são linhas de força, a refletirem o tempo de profunda transformação social e a transição para os novos paradigmas humanos. Aplique-se a grande angular sobre as propostas patentes nas 16 exposições desta 4ª Bienal de Fotografia do Porto.

Antes deste programa, patente até fim de junho, há igualmente um programa de visitas guiadas, inserido nos três dias de comemoração, que se iniciaram esta quinta-feira e que se prolongarão até sábado, 17. Nomeadamente, esta sexta-feira, dia 16, às 13h, os curadores Romea Muryń e Francisco Lobo fazem uma visita guiada com os artistas do Coletivo ADS11 2024-25 na Fundação Marques Silva. Mais tarde, às 16h30 é a vez da artista Joana Dionísio na exposição Rizomas, na Estação de metro de São Bento.
Também neste sábado, 17, duas visitas guiadas estão disponíveis ao público: a primeira, às 14h40, faz do Museu Nacional Soares dos Reis ponto de encontro entre os curadores Gabriela Vaz-Pinheiro, Jayne Dyer e Virgílio Ferreira e os artistas Augusto Brázio, James Newitt e Lara Jacinto; a segunda visita tem lugar às 16h30 na Maus Hábitos, com o curador Rui Mascarenhas e o artista Odair Rocha Monteiro a fazerem as honras da casa.
Explorar a luz
Em CONECTAR abre-se “um diálogo internacional” e promove-se “parcerias que aproximam ecossistemas artísticos diversos” em seis exposições diferentes: Luminófilos [Lightseekers] reúne obras de cinco artistas contemporâneos dedicadas a “experiências de revelação espiritual e política”, com o foco sob “histórias apagadas, gestos de resistência aos legados coloniais e práticas visionárias ou rituais”.
A luz, elemento fundador da fotografia, é explorada em todas as suas dimensões, físicas e metafísicas: Claudia Andujar desvenda um genocídio; Coletivo Pariacaca e Christo Geoghegan desconstroem os estereótipos dos exploradores europeus e as cerimónias do Amazonas; Hoda Afshar e Smith exploram o deserto e as narrativas a este associadas. Noutro espaço, trabalhando vídeo, performance e instalação, a artista visual Mónica de Miranda questiona a história, a ficção e a realidade na exposição Profundidade de Campo, trazendo as suas imagens sempre questionadoras das narrativas históricas.
Pelo seu lado, Kathrin Stumreich interroga as “implicações ecológicas de infraestruturas de energia solar de concentração na exposição Choques no Céu [Mid-air Collisions]. Num outro espaço, uma paisagem desértica vê-se iluminada por tecnologia, noutra, máquinas desenham uma invasão territorial: Luca Locatelli questiona os paradigmas dominantes de crescimento e a mutação das relações entre humanidade, tecnologia e natureza, em Estudos do Futuro [Future Studies].
Também partindo de investigação, aqui assente na relação entre tecnologia e cultura, Sara Orsi recorre a composições generativas de vídeos disponíveis no Youtube sobre arquiteturas alternativas, hackeamento de sistemas e ações de resistência, em Estruturas Abertas [Open Sctrutures]. Por fim, Peles de Imagens, Espelhos Luminosos é a leitura crítica e poética do tempo, memória e representação, resultante da residência de Sofia Borges nas coleções do Museu de História Natural e da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Ecologia e ativismo social
Em SUSTENTAR, ambiciona-se uma reflexão sobre a sustentabilidade ecológica e social em quatro territórios portugueses distintos: Porto, Algarve, Vila Real, Alqueva. O fotógrafo Carlos Trancoso revela o seu olhar sobre o projeto Porto BioLab, um bosque-laboratório concebido para otimizar serviços ecossistémicos ao serviço da comunidade urbana na exposição Urbanário. Já Joana Dionísio explora em Rizomas o “ativismo social enquanto ferramenta de construção de práticas comunitárias colaborativas e transformadoras” em torno da sustentabilidade no Geoparque Algarvensis e a sua potencialidade como instrumento de articulação entre justiça ambiental e coesão social.
Por sua vez, Catarina Braga acompanhou a investigação científica desenvolvida na Escola das Transições na Casa de Mateus, que reúne especialistas e propostas transdisciplinares para a transição climática, traduzindo investigação científica em formas visuais digitais no projeto Práticas de um Arquivo Vivo. E em Um Lago Acima do Deserto, o fotógrafo Gonçalo C. Silva reflete sobre a dicotomia entre as margens áridas atacadas pelas alterações climáticas e a vida submersa do maior lago artificial da Europa, o Alqueva.

Comunidades rurais
VIVIFICAR é o projeto curatorial que estabelece entre artistas em residências e comunidades rurais da região do Douro. Os temas convocados? As relações entre humanos e natureza, sustentabilidade do território, migração e identidade.
Resultante da sua residência em Sabrosa, a fotógrafa Lara Jacinto torna visível a vida das comunidades migrantes chegadas da Europa e da Ásia numa região historicamente marcada pela emigração na exposição No Tempo das Cerejas. Também Augusto Brázio continua a sua cartografia do território português, dissecando a “pertença humana” no ecossistema envolvente, no caso Torre de Moncorvo, na exposição Incisão. E a instalação vídeo Material em Bruto, concebida em Mêda por James Newitt, parte das práticas mineiras e agrícolas como “metáforas pata atravessar camadas temporais”, explorando as ligações entre passado e futuro, ou futuros possíveis.

Artistas emergentes
EXPANDIR, quarta plataforma explorada na 4ª edição da Bienal Fotografia do Porto, visa apoiar o desenvolvimento de projetos e exposições de artistas emergentes, cujas práticas exploram as ligações e cruzamentos entre tecnologia, ecologia e resiliência humana.
Na mostra A Extraterritorialidade da Toxicidade [The Extraterritoriality of Toxicity], estudantes do Royal College of Art apresentam uma pesquisa sobre a toxicidade gerada artificialmente e os seus efeitos em corpos humanos e não-humanos, tomando o rio Douro como “arquivo fluido de relações pós-naturais”.

Apresentada em colaboração com a plataforma europeia FUTURES, a exposição itinerante Laços que Unem [Ties that Bind] explora “formas contemporâneas de pertença, ligação e parentesco”, e as “fracturas do mundo contemporaneo”, através das obras de oito artistas: Dev Dhunsi, Ihar Hancharuk, Jan Durina, Donja Nasseri, Sheung Yiu, Angyvir Padilla e Sasha Chaika. Já o fotógrafo Odair Rocha Monteiro faz em Não Vejo Cor uma decomposição desta expressão e da noção de neutralidade racial, lê-se, “para questionar os modos de ver e de nos posicionarmos perante o outro”.
Outro coletivo, outra exposição: a turma de mestrado em Fotografia documental da Universidade de South Wales experimentam uma abordagem lúdica e aberta à fotografia, numa variedade de registos, em In Your Head: Obras-Conceitos-Processos. E por sua vez, Paula Preto desenvolveu um projeto de cocriação com um grupo de jovens do Centro Paroquial Nossa Senhora da Ajuda, do bairro da Pasteleira, centrado numa “ecologia dos afetos e das emoções”, na “urgência da presença, do sentido da comunidade e da pertença com a natureza”, e na curiosidade e imaginação como “forças coletivas para pensar a mudança e a transição para um futuro sustentável” – o resultado poético e esperançoso está patente na exposição Com as Imagens Bonitas do que Desapareceu.
4ª Bienal de Fotografia do Porto > programação completa aqui bienal25.bienalfotografiaporto.pt