Agosto chegou com uma novidade: a compra da Tapada do Chaves, em Portalegre, propriedade e marca de vinhos de reconhecida qualidade, pela Fundação Eugénio de Almeida, de Évora, detentora da Cartuxa. A ideia de ver o Tapada do Chaves ao lado do Pêra-Manca é estimulante. Sabem os mais antigos e os interessados pelas coisas do vinho que o Tapada do Chaves começou a ser engarrafado em meados da década de 60 e que se tornou um ícone do setor vitivinícola do Alentejo, com presença destacada nas garrafeiras e nos melhores restaurantes de Lisboa. Estava, porém, em decadência, quando foi adquirido, no princípio deste século, pela Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa, que tem as Caves da Murganheira. A expectativa de que o Tapada do Chaves viesse a recuperar o prestígio perdido ainda chegou a animar as gentes, mas não se confirmou.
Além das marcas e do prestígio que as acompanha, apesar de tudo, a Fundação adquiriu uma herdade com 60 hectares de terra e 32 de vinhas, 23 dos quais de castas tintas – dos celebrados vinhos dos anos 70, 80, 90… –, e 9 hectares de brancas, incluindo duas das mais velhas parcelas de vinha do Alentejo, ainda em produção. A idade das vinhas vai dos 15 aos 116 anos, num terroir fortemente influenciado pela orografia (serra de São Mamede) e pela cobertura agroflorestal, que determina a qualidade e a tipicidade dos vinhos aí produzidos.
Em comunicado, a Fundação informa que a empresa de Portalegre – Tapada do Chaves – vai manter a mesma designação e que a nova administração pretende “reforçar a presença dos vinhos tintos e brancos no segmento topo de gama, criando vinhos de qualidade ímpar, assente num projeto que se pode traduzir como o artesanato do vinho”, pois reconhece que “a propriedade tem características e localização que lhe conferem a possibilidade ímpar de produzir vinhos únicos fruto de um terroir irrepetível”. Ora, o responsável pela enologia da Cartuxa, Pedro Baptista, membro do Conselho Executivo da Fundação e da nova administração da empresa que acaba de ser adquirida, tem acompanhado a produção dos vinhos da Tapada do Chaves nos últimos anos, e tem conhecimento privilegiado do potencial que ali existe. O propósito de fazer vinhos com edições limitadas ou, no dizer de um dos novos responsáveis, “poucos, mas ainda bons”, só pode ser motivo de satisfação. A recuperação da antiga imagem já no próximo engarrafamento do Tapada do Chaves, dentro de dois ou três meses, é um bom sinal. Outro, ainda mais importante, é o propósito de dar ao vinho a genuinidade, a qualidade e, enfim, o estilo dos bons velhos tempos do Tapada do Chaves. Reservem lugares nas garrafeiras.