Quer ser um embaixador da imagem do Porto. Um símbolo de excelência da cidade e do lugar onde se encontra. É o primeiro hotel de luxo do Centro Histórico e não perde de vista “a ambição” de se tornar “o melhor do País”. Com uma das mais belas vistas sobre a Avenida dos Aliados, o InterContinental recebe os primeiros hóspedes desde quinta-feira, dia 7. Resguardado de olhares indiscretos durante meses, o emblemático Palácio das Cardosas está agora à vista de todos e de “portas abertas à rua”. E nem precisa de reservar quarto para entrar. Para já no bar ou no café, dentro de uma semana no restaurante. Mas disso daremos conta mais tarde.
Poucos dias antes da abertura, contemplamos a fachada desenhada pelo arquiteto José Champalimaud, em 1798, à qual adicionaram uma pequena cobertura em ferro e vidro, deambulamos pelos corredores, observamos a Câmara Municipal da varanda, e debruçamo-nos à janela, por cima dos telhados de prédios vizinhos, para quase tocar a Sé do Porto. Nas traseiras espiámos as obras no interior do quarteirão das Cardosas, a revitalização dos edifícios está ainda longe de terminada. Ao lado de casas recuperadas avistam-se prédios em obras ou mesmo esventrados. Na página online da empresa Lúcios, responsável pela empreitada, conta-se que serão recuperados 18 edifícios, num total de 53 apartamentos e 19 lojas. Terminado está o parque de estacionamento e a praça interior, a primeira do género na cidade e, embora o quarteirão só fique concluído em julho de 2012, os trauseuntes já a podem atravessar.
Quem aqui dormir vai acompanhar de perto o movimento, sem ficar perturbado com o ruído. A insonorização é total. “Entramos no lobby e estamos no interior do quarteirão, estamos na Baixa.” Para Pilar Monzon, a diretora, não há dúvida que “tudo aqui é distinto”. Não só por ser um InterContinental, por estar num palácio classificado pela UNESCO, bem como pelo posicionamento diferente de outras unidades cinco estrelas. “Este é o único que reproduz o ambiente do século XIX, com um estilo clássico tradicional que responde às necessidades de um cliente específico”, explica.
Se podia ser Paris, Cannes ou Londres? Podia, mas não era a mesma coisa. Há muitos pormenores da cidade, da região, que nunca seriam usados por Alex Kravetz responsável pela decoração, noutra cidade do mundo. É assim com a seleção de fotografias onde se observam lugares já desaparecidos, bem como outros de visita obrigatória. E, claro, os móveis feitos à mão, os tetos artísticos, as louças Vista Alegre. “A equipa trabalhou estuques, madeiras e mármores muito bem por serem portugueses “, realça a diretora.
Distinta é também a entrada no InterContinental do Porto. A receber os hóspedes está Carla Brandão, a concierge. “Ela será o rosto do hotel, o primeiro contacto de quem chega”, conta Teresa Vanzeler, a relações públicas. Será ela quem trata de fazer chegar as malas ao quarto. Daqui acede-se não só à receção, situada logo depois das escadas à direita, onde não há balcão mas três cadeiras para se sentar enquanto faz o chek-in. Ao lado, encontra-se o Bar das Cardosas, que à semelhança do Café Astória tem entrada direta para a Avenida.
REGRESSO AO PASSADO
A fazer lembrar uma livraria italiana do século XIX, mas onde não faltam confortáveis cadeirões, sofás e balcão em madeira esculpida à mão, no bar servem-se petiscos portugueses elaborados e sandes em pão de caco, bem como vinho a copo. “É uma espécie de retiro”, garante Rui Pires, o responsável. À entrada, encontra-se um expositor decorado com vinhos magnum e premium “difíceis de encontrar no mercado”. Na carta há mais de 175 referências, das quais 60 são provenientes da região do Douro. À mesa ou ao balcão chegam vinhos oriundos da África do Sul, da Austrália, do Chile e da Polónia. Está aberto todos os dias, das 11 à 1 e 30, mas para ali tomar um copo terá de pagar entre €5 a €20.
Do lado oposto, o mesmo é dizer com a fachada virada para a Estação de S. Bento, mas com entrada pela Avenida dos Aliados, fica o Café Astória. Se o hotel é de luxo, o café também o é. Encerrado na década de 70, reabre com uma nova construção inspirada no histórico espaço que ali existiu. Os candeeiros, a coluna central, mesas e cadeiras de madeira são apenas alguns dos elementos usados na decoração. Dizem ter a melhor seleção de cafés da cidade, bolos assinados e uma ementa de fusão, onde não faltam os típicos pratos portugueses. “É uma cozinha de café do Porto, simples, rápida e com qualidade.” O Astória tem menu de degustação e executivo (€18) ao almoço, e serviço de take-away. Está aberto das 8 às 20 horas, todos os dias.
Entre o bar e o café, ficam as três lojas que, ao contrário daquilo que foi dito durante meses, se encontram vazias. “Ainda não está nada definido”, esclarece Pilar Monzon. Ainda no rés-do-chão, com vista para jardim interior do quarteirão das Cardosas, descobre-se o restaurante que pretendem seja “um lugar de encontro não só para hóspedes mas também executivos, turistas e portuenses”. Emmanuel Soares é o chefe do InterContinental. Depois de ter passado por luxuosos restaurantes em Casablanca, São Paulo e Paris, e, nos últimos dois anos, ocupado o cargo de chefe executivo no Grupo CONCORD, está no Porto para desenvolver “uma nova interpretação da cozinha portuguesa”. Privilegiar a utilização de produtos nacionais associados a ingredientes de todo o mundo será um conceito a explorar em cada prato. A isto somam uma lista de vinhos de excelência, o brunch de domingo em família e o show cooking.
RESERVADO A HÓSPEDES
Até agora não era necessário efetuar qualquer reserva, mas para ter uma vista de 360 graus sobre a cidade tem mesmo de ficar para dormir. Os três pisos onde se acomodam 105 quartos, dos quais 16 suites, não abrem a visitas guiadas. No entanto, podemos contar-lhe que todos os corredores remetem para a cidade onde nos encontramos, o percurso faz-se através de fotografias a preto e branco. “Pretendemos oferecer um conhecimento do destino e oferecer experiências únicas.” “Mesmo quem não têm tempo para visitar a cidade ficará a conhecer o Porto”, garante a diretora.
O confronto entre o novo e o antigo está presente em quase todo o projeto. A mistura entre os dois sente-se no exterior, onde o InterContinental se une ao quarteirão das Cardosas, ou no interior onde os mármores, as madeiras e os candeeiros parecem dar um toque de autenticidade a este lugar. Todos os quartos estão equipados com ecrã plano de alta definição, e no armário encontra tábua e ferro de engomar. O ar condicionado é absolutamente silencioso, para não perturbar o sono. “É o primeiro hotel a ter este sistema”, afiança Pilar Monzon.
Embora dormir cá não esteja acessível a qualquer um (€150), a maior extravagância está mesmo reservada só para alguns. Para ficar alojado numa das duas suites presidenciais terá de pagar, no mínimo, €1 500 por noite. É uma espécie de apartamento duplex, com sala de jantar e de estar.
A decoração, tal como em todos os quartos, denota uma elegância e luxo contemporâneo muito característica no trabalho do designer Alex Kravetz. Mesmo sem estar associado a uma marca, o Palácio das Cardosas é um símbolo da cidade e, a partir de hoje, está aberto a todos. Seja por uma noite ou por um par de horas.
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BILHETE DE IDENTIDADE
Inserido num dos quarteirões-piloto identificados no masterplan da Porto Vivo, SRU, o edifício é propriedade da empresa Solitaire Hotels que assinou um contrato de gestão com a InterContinental Hotels Group (IHG), por 20 anos, para aí instalar uma unidade hoteleira. O valor do investimento, incluindo a compra do palácio, a remodelação e o equipamento, ronda os 30 milhões de euros.
HOTEL INTERNACIONAL
Palácio das Cardosas, Pç. da Liberdade, 25, Porto
T. 22 202 2500
www.intercontinental.com/porto