Regressa o tempo mais frio, aumentam os casos de certas doenças. A queda das temperaturas e o início da época das chuvas facilitam a propagação de diversas bactérias e vírus responsáveis pelo aparecimento de várias patologias, especialmente entre os mais novos. Para além das típicas constipações, viroses e gripe são muitos os agentes patógenos que parecem passar de criança em criança, espalhando-se de forma muito rápida pelas escolas, infantários e creches. Uma dessas doenças é o VSR – Vírus Sincicial Respiratório – que pode ser particularmente perigoso para os mais pequenos.
O que é o VSR?
O Vírus Sincicial Respiratório é um vírus respiratório comum que, por norma, provoca sintomas leves e semelhantes aos de uma constipação ou de uma gripe. Apesar de poder ser contraído por pessoas de qualquer idade, este vírus infeta a grande maioria das crianças até aos dois anos de idade, e é a causa mais comum de doença das vias respiratórias inferiores em bebés até aos 12 meses.
Este é um vírus, descoberto na década de 1950, para o qual o ser humano não tem grande capacidade de criar imunidade. Ao instalar-se no organismo, este tende a descer e alojar-se nos brônquios, sobretudo em crianças mais pequenas, provocando sintomas semelhantes aos de uma crise de asma. A infeção por VSR causa frequentemente outras doenças como a pneumonia, bronquiolites graves – com grande inflamação nos brônquios e sintomas como a falta de ar ‒, traqueobronquite, conjuntivite e otite média aguda.
O VSR é responsável por um grande número de internamentos hospitalares de crianças abaixo dos dois anos – sobretudo devido a bronquiolite infantil – e é uma das principais causas de mortalidade infantil a nível mundial. De acordo com as estimativas da Organização Mundial da Saúde, ocorrem anualmente 33 milhões de infeções das vias aéreas inferiores causadas pelo vírus em crianças abaixo dos 5 anos – das quais 3 milhões são hospitalizadas.
A doença pode ser ainda mais grave se contraída por crianças com idades inferiores. Em bebés com menos de 6 meses, as infeções respiratórias associadas ao VSR são responsáveis por cerca de 1,4 milhões de hospitalizações e mais de 27 mil mortes intra-hospitalares.
Só em Portugal, entre outubro e dezembro de 2023, foram internadas 145 crianças até aos dois anos devido a infeções pelo vírus sincicial respiratório.
Entre os grupos mais vulneráveis a esta infeção estão os recém-nascidos (com menos de 6 meses de idade), bebés prematuros, crianças com doenças cardíacas, pulmonares ou neuromusculares congénitas ou com um sistema imunitário enfraquecido e doentes com asma ou Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC).
Sintomas do VSR
Os sintomas da infeção por VSR podem variar consoante a idade ou o estado de saúde da pessoa. Entre os sintomas mais comuns, semelhantes aos de uma constipação, encontram-se:
- Secreções nasais e oculares;
- Diminuição do apetite;
- Tosse;
- Febre;
- Prostração (debilidade física);
Em casos mais graves, os infetados com o vírus podem vir desenvolver outros sintomas, de maior gravidade, que podem vir a resultar no desenvolvimento de outras complicações de saúde (como as pneumonias ou bronquiolites). Fazem parte destes sintomas:
- Pieira;
- Dificuldade em respirar;
- Respiração semelhante a assobio;
- Pausas durante a respiração (apneia);
O desenvolvimento destes sintomas, sobretudo por serem do foro respiratório, pode significar a necessidade de assistência médica e de uma melhor adequação do tratamento administrado.
Em bebés mais pequenos ou recém-nascidos, é possível que os sintomas passem apenas pelo aumento da irritabilidade, diminuição da atividade, recusa alimentar ou dificuldade respiratória.
O período de incubação do vírus, por norma, dura entre dois a oito dias. Contudo, algumas pessoas – com um sistema imunitário enfraquecido – podem continuar a passar o vírus durante quatro semanas mesmo já não apresentando sintomas.
Como é feita a transmissão?
Esta é uma doença sazonal que circula, tipicamente, nos meses mais frios do ano. Em Portugal, os surtos por Vírus Sincicial Respiratório ocorrem tipicamente nos meses de dezembro e janeiro, podendo existir alguns casos em outubro e novembro.
À semelhança de outros vírus causadores de infeções respiratórias, a transmissão do VSR é feita através do contacto com secreções do nariz ou da boca. O contágio pode ocorrer por contacto direto – através de gotículas expelidas quando se fala, tosse ou espirros – mas também através de objetos, dado que o vírus permanece em superfícies ou objetos durante várias horas após o contacto com infetado.
O facto de se ter sido infetado uma vez não significa que não se possa ser infetado de novo. Contudo, durante uma segunda infeção, os anticorpos que se desenvolveram contra o VSR contribuem para uma diminuição da gravidade da doença.
Que tratamentos existem?
O diagnóstico de VSR é feito através da colheita e análise de secreções respiratórias, como as secreções do nariz ou dos brônquios. À semelhança do que se faz para a generalidade das constipações, os casos ligeiros de VSR acabam por desaparecer após alguns dias, não sendo necessário mais do que o alívio dos sintomas. Em crianças mais congestionadas, gotas salinas nasais podem ajudar a melhorar a respiração.
Em 2023, a União Europeia aprovou a primeira vacina contra o VSR para bebés até aos seis meses de idade, bem como duas vacinas para adultos mais velhos
É possível prevenir a infeção pelo vírus sincicial respiratório?
À semelhança de outros vírus, o VSR pode ser prevenido com a adoção de medidas de higiene, como a lavagem frequente das mãos ou cobrir a boca e o nariz quando se tosse ou espirra.
Segundo a Direção Geral de Saúde, outra forma de prevenção passa pela imunização com anticorpos. Ou seja, pela administração, de forma gratuita, do medicamento de anticorpos monoclonais de ação longa nirsevimab – ainda não considerado uma vacina – em meios hospitalares ou maternidades.
Este ano, a administração do medicamento decorre entre 1 de outubro de 2024 e 31 de março de 2025. O medicamento, contudo, oferece uma imunidade com a duração de apenas seis meses, pelo que a sua toma pode ser feita todos os anos.