Embrenhados nos jardins românticos da Aveleda, é difícil lembrarmo-nos que estamos em Penafiel. Resta o abundante verde e o cinzento do granito para nos localizarmos na quinta nortenha. A visita, aberta a todos os curiosos, é surpreendente em vários aspectos. Pelo exotismo da flora, pelo peculiar conjunto arquitectónico, pelos cuidadosos detalhes que enriquecem o percurso, pela história da família Guedes, proprietária, desde há vários séculos, da mundialmente conhecida marca de vinhos verdes.
Remontam a 1671 as primeiras construções na Quinta da Aveleda, nomeadamente a capela, anexa à casa principal. Foi igualmente no século XVII que os Guedes se tornam senhores da propriedade. Mas foi no séc. XIX, com Manoel Pedro Guedes – antigo deputado, visionário, romântico, exilado” voluntariamente em Penafi el – que o espaço ganhou consideráveis dimensões.
Durante o passeio, somos guiados por Francisco Guedes de Almeida, da 13.ª geração. A cada passo, cruzamo-nos com outros membros da família, sinal de que a sua presença na quinta não se faz por procuração. “Temos uma paixão única pela Aveleda, crescemos todos aqui. Há um cordão umbilical fortíssimo.”
Logo no início do percurso, surge a Casa do Guarda de Cima, junto a uma das entradas de serviço, uma construção semelhante à tentação de chocolate do conto infantil de Hansel e Gretel. É uma das várias follies, devaneios arquitectónicos sem funcionalidade específica, espalhadas pela propriedade.
“Apresento-lhe o meu avô e o meu tio-avô”, diz Francisco, apontando para duas sequóias que ambos trouxeram da Califórnia. Ladeiam, estrategicamente, a avenida principal que conduz à casa de família, como a dar as boas-vindas aos visitantes. Mas já lá chegamos. É hora de conhecer mais um encantador delírio, a Torre das Cabras, morada especialmente construída para estes bichos de instintos devoradores, colocando a salvo as plantas da quinta. “Como são uma raça de montanha, construiu-se uma casa em altura.”
Poucos passos à frente, no Lago dos Cisnes, outro ex-líbris da propriedade. A Janela Manuelina, resgatada da casa onde nasceu o Infante D. Henrique e donde se diz ter sido aclamado rei D. João IV. E, noutra pequena ilha, a Casinha de Chá, de estilo vitoriano, onde as crianças se divertem a recriar histórias dos livros de aventuras. Cobras, sapos, tartarugas e águias de louça, presos no tecto, compõem o cenário. São estes pormenores que contribuem para a magia da Aveleda. Veja-se outro caso, o do portão da Quinta do Ferro – uma antiga propriedade lisboeta da família, vendida nos anos 70 -, transladado para Penafiel com tal cuidado que parece ali pertencer.
Seguindo pelo caminho das azáleas, alcança-se a Fonte de Nossa Senhora da Vandoma, padroeira do Porto, rodeada de fl ores de todas as espécies. A um canto próximo, a gaiola das rolas, em estilo tosco indiano, remonta aos tempos da Condessa de Pangim, casada com Manoel Guedes e filha do vice-rei da Índia.
Estamos já perto da casa senhorial, dos finais do séc. XIX, ainda hoje habitada pela família. Coberta de videiras e de plantas exóticas, é mais um marco romântico da propriedade. À sua frente, a água volta a marcar presença, com a Fonte das Quatro Estações, obra do mestre João da Silva. Uma homenagem às senhoras da Aveleda, com os perfis de algumas gravados em medalhões de mármore, evocando as diferentes épocas do ano. Nas traseiras da residência, o lago dos gansos alberga uma castiça palhota, mais uma prova do espírito inventivo dos Guedes.
Não só de vinhos verdes é feita a fama da Aveleda. No edifício da Adega Velha, repousam as barricas de carvalho francês, onde se guarda a aguardente com o mesmo nome. Cantos gregorianos ressoam pelas paredes de granito, melodia adequada a uma bebida espirituosa. Entre a penumbra, apenas quebrada por alguns focos de luz, surge a garrafa original, trazida da Rússia no tempo dos czares.
A visita termina com uma prova de vinhos, acompanhada pelo queijo da quinta, no edifício fronteiro aos mais de 120 hectares de vinhas. Quem desejar, pode marcar, antecipadamente, almoço (para grupos superiores a 10 pessoas). Para ficar a conhecer um bocadinho da produção, foi criada uma nova ala para espreitar o processo de engarrafamento. Regressando ao ponto de partida, recomenda-se uma passagem pela loja Aveleda, para quem queira levar uma recordação da marca.
CONTACTO:
Quinta da Aveleda; T. 255 718 200, Penafiel
Preço: €2,50 visita, €4 com guia
Horário: Seg-Sex, 08h30-17h30