“JP Simões canta José Mário Branco”, editado em 23 de fevereiro pela Omnichord Records, começa a ser apresentado ao vivo hoje, na Sociedade Musical União Paredense (SMUP), na Parede, em Cascais.

Em entrevista à Lusa, o músico, que nasceu em 1970, recordou que o primeiro contacto que teve com a música de José Mário Branco, de que se lembre e que o marcou, foi no início dos anos 1980.

“Tinha saído o álbum ‘Ser Solidário’ [em 1982], que tinha a ‘Inquietação’. Lembro-me de ouvir no velho radiozinho dos meus avós, a válvulas, e aquele tema nunca mais me saiu da cabeça. De certo modo era revelador de algum estado de alma que eu não conseguia explicar com a clareza com que a música mo devolvia. Tanto que uns anos mais tarde acabei por fazer uma versão desse tema [no álbum ‘1970’, editado em 2006]”, partilhou.

Embora na adolescência e no início da vida adulta tenha andado “mais interessado em muitas outras coisas”, o repertório do autor de, entre outros “Eu vim de longe, Eu vou p’ra longe”, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e “F.M.I.”, nunca foi indiferente a JP Simões.

A partir de 2019, “por causa de algumas solicitações de concertos em abril”, nos 45 anos da ‘revolução dos cravos’, o músico foi “pescando algumas canções” do repertório de José Mário Branco de que gostava, e de que foi “gostando cada vez mais”.

O que se ouve no disco, e o que se tem ouvido ao vivo nos últimos anos, “vem muito do trabalho do compositor e músico Nuno Ferreira”, salientou JP Simões.

“Desde o início, ele é que foi traduzindo tudo para os nossos instrumentos, tentando ao máximo salvaguardar toda a natureza dos arranjos do José Mário Branco e das músicas dele”, disse.

Entretanto, JP Simões foi desafiado pelo fundador da Omnichord Records, Hugo Ferreira, para gravar uma versão de um concerto de guitarra e voz que José Mário Branco tinha dado no Teatro Académico Gil Vicente.

“Como eu já vinha no contexto de tocar Zé Mario ao vivo há uns tempos, sugeri juntarmos as duas ideias. Eu pegar no trabalho já desenvolvido, estudar um pouco mais o repertório de criação do Zé Mário e no fim chegámos a estes [oito] temas”, contou.

Alguns dos temas são os que JP Simões já tocava ao vivo, mas acabou por ir buscar outros, nomeadamente “Sopram ventos adversos”, um tema pelo qual tem “particular carinho”, e “Travessia do deserto”.

“São dois temas que começavam em canções e depois acabavam num instrumental delirante, tanto que o subtítulo do ‘Sopram ventos adversos’ é ‘Maiden voyage’. Optei por ir buscar só a parte da canção, porque eram duas canções muito bonitas, mas que estavam sempre acopladas a um delírio instrumental, muito bom na verdade, mas não era isso que eu queria fazer”, referiu.

Das várias versões incluídas no disco, JP Simões destaca como “um dos exercícios mais simpáticos de construir” a versão “bastante psicadélica” de “Perfilados de medo”, “uma música musicalmente de uma aparente simplicidade, mas que funciona tão bem”.

“Acabei por estragá-la com psicadelismos, mas acho que ela merecia esse tratamento, essa riqueza mais delirante”, disse, a propósito do tema cuja letra é um poema de Alexandre O’Neill, que fala dos limites da loucura.

JP Simões mostra-se “muito satisfeito” com o álbum. Espera que as pessoas gostem de o ouvir e, “acima de tudo, que respeite a obra de José Mário Branco, que é o fundamental aqui”.

Em relação a “Inquietação” chegou a ter ‘feedback’ do próprio José Mário Branco, que morreu em novembro de 2019.

“Tive oportunidade de o conhecer e era uma pessoa extremamente simpática e afável. Era uma pessoa de uma suavidade e de uma gentileza imensa, já não falando da inteligência. Fiquei muito feliz, porque ele gostou da versão”, recordou.

Depois de um encontro no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de terem estado juntos num concerto em Coimbra, cruzaram-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

JP Simões era aluno de mestrado em Literatura e José Mário Branco estava a fazer o curso de Lógica. “Acabou como melhor aluno. Lembro-me sempre do ‘não meti o barco ao mar para ficar pelo caminho’ [da letra de ‘Inquietação’], portanto tinha que ser mesmo o melhor aluno”, partilhou.

Embora José Mário Branco já não possa ouvir o álbum — se pudesse, provavelmente JP Simões não o teria gravado -, os músicos envolvidos no projeto tiveram “o cuidado de falar com a família, para perceber se estariam de acordo”.

“Foi importante termos o aval e o consentimento da família. Fiz isto acima de tudo porque acho que conseguia fazer uma coisa decente, e nos últimos anos cada vez me dá mais gozo cantar estas canções”, afirmou JP Simões.

Editar o álbum que homenageia uma das ‘vozes de Abril’ no ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril “não foi nenhuma jogada de oportunismo”, até porque “é sempre oportuno recordar” José Mário Branco.

“Todos estes temas falam, acima de tudo, sobre natureza humana, e ela não tem variado muito ao longo dos tempos. Creio que as músicas continuam a manter a sua atualidade”, disse o músico, lembrando que “uma das características do José Mário Branco também era pegar as coisas de frente e falar dos assuntos”.

JP Simões tem dificuldades em escolher um só tema que caracterize o músico e compositor José Mário Branco, porque ele “é muito vasto”.

“Filosofa bravamente sobre a condição humana, no geral e no particular, e sobre o amor, o desamor, sobre tudo aquilo que nos compõe. Tenho muita dificuldade em resumi-lo, mas o coração de toda a obra dele, para mim, é ‘Inquietação’, parece que é um bocado o motor fundamental de quase tudo. A voz dele transporta isso. A voz, as palavras, a música, o intrincado da música. Nota-se que a música, ela própria, mastiga também as questões emocionais e filosóficas, especulativas, que as palavras dele também tão sobejamente acompanham”, defendeu.

Depois do concerto de hoje na Parede, JP Simões irá apresentar o álbum noutras cidades, cujas datas serão anunciadas em breve.

Ao vivo, serão tocadas as músicas de “JP Simões canta José Mário Branco”, mas também outros temas do autor de “Inquietação” e de outros músicos, como José Afonso ou Fausto.

Além de JP Simões, estarão em palco Nuno Ferreira (guitarra, arranjos e direção musical), Ruca Rebordão (percussões), Pedro Pinto (contrabaixo) e Márcio Pinto (marimba).

*** Joana Ramos Simões (texto) e José Sena Goulão (fotos), da agência Lusa ***

JRS // TDI

O novo festival Love Food Fest, organizado pela agência de promoção gastronómica Amuse Bouche e Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, começa neste primeiro fim de semana de março (1, 2 e 3) e continua até ao dia 24, sempre ao fim de semana, com exceção no dia 13, numa viagem à mesa entre o Ribatejo e o Alentejo. A rota gastronómica inclui 12 localidades, de Santarém a Sines, passando por Évora, Montemor, Estremoz, Beja, Reguengos de Monsaraz, Alter do Chão, Porto Covo, Montemor-o-Novo, Monforte e Melides, com paragens em 17 restaurantes que vão receber a ajuda preciosa de mais de 50 chefes de vários pontos do País.

“É um festival muito abrangente e que inclui muitos nomes reconhecidos da gastronomia, sangue novo e outros mais desconhecidos. Queremos mostrar o melhor cozinha do Ribatejo e Alentejo mas também o talento e a garra da nova geração de cozinheiras e cozinheiros, lado a lado com chefes de renome”, explicam Ana Músico e Paulo Barata, da Amuse Bouche. Nem o nome Love Food Fest foi escolhido ao acaso: “Vamos dar amor às regiões e aos seus protagonistas”, justificam.

Depois do arranque nesta sexta, 1, em Évora (restaurantes Tua Madre e Origens), o festival Love Food Fest continua nesta cidade alentejana neste sábado, 2, ao almoço, no restaurante Sabores do Alentejo (no Hotel M’Ar de Ar Muralhas), onde o chefe António Nobre receberá Luís Baena (Culinary Arts, Escola de Hotelaria de Lisboa) e Celestino Grave (São Lourenço do Barrocal).

Já o jantar será servido no Restaurante Convento do Espinheiro, onde Jorge Peças partilhará a sua cozinha com Hugo Silva (Estoril Palace, Estoril) e Paulo Florentino (Vila Vita, Armação de Pêra). Neste primeiro fim de semana, o ciclo de refeições ficará completo no domingo, 3, após a passagem pelo Poda, em Montemor-o-Novo. Ao almoço, o chefe anfitirão João Narigueta vai cozinhar com Filipe Bilro (Larau, Estremoz) e Letícia Silva (Malhadinha Nova, Beja).

O festival Love Food Fest regressa no fim de semana seguinte, dias 8 e 9, em Estremoz e Alter do Chão, rumando depois a outras paragens (ver lista em baixo). Para participar, será necessário fazer a reserva diretamente em cada restaurante.

Love Food Fest > até 24 mar > 17 restaurantes de Santarém a Sines > Programa completo em www.foodlovefest.pt

A lista completa do Food Love Fest para apontar na agenda

2 mar, sáb

Hotel M´ar De Ar Muralhas, Restaurante Sabores do Alentejo, Évora (almoço) Chefe anfitrião António Nobre. Convidados Luís Baena (Culinary Arts, Escola de Hotelaria de Lisboa e Celestino Grave (São Lourenço do Barrocal)

Restaurante Convento do Espinheiro, Évora (jantar) Chefe anfitriãoJorge Peças. Convidados Hugo Silva (Estoril Palace, Estoril) e Paulo Florentino (Vila Vita, Armação de Pêra)

3 mar, dom

Restaurante Poda, Montemor-o-Novo (almoço) Chefe anfitriãoJoão Narigueta. Convidados Filipe Bilro (Larau, Estremoz) E Letícia Silva (Malhadinha Nova, Beja)

8 mar, sex

Restaurante Larau, Estremoz (jantar) Chefe anfitrião Filipe Bilro. Convidados Margarida Cabaço (Antiga Chef São Rosas, Estremoz) e Guilherme Charão (Sushi Art, Estremoz)

Mercearia Gadanha, Estremoz (jantar) Chefe anfitrião Michelle Marques. Convidados Ana Moura (Lamelas, Porto Covo) e Angélica Salvador (In Diferente, Porto)

9 mar, sáb

Pátio Real, Alter do Chão (jantar) Chefe Anfitrião Filipe Ramalho. Convidados Alana Mostachio (Lisboa) e Gonçalo Queiroz(Origens, Évora)

Casa do Gadanha, Estremoz​ (jantar) Chefe anfitrião Ruben Trindade Santos​​​​​. Convidados Leopoldo Calhau (Taberna do Calhau, Lisboa) e José Júlio Vintém (Tomba Lobos, Portalegre)

13 mar, qua

Herdade do Esporão, Reguengos de Monsaraz (almoço) Chefe anfitrião Carlos Teixeira. Convidados António Galapito (Prado, Lisboa) e Francesco Ogliari (Tua Madre, Évora)

15 mar, sex

Hotel L´And Vinyards, Restaurante Mapa, Montemor-o-Novo (jantar) Chefe anfitrião David Jesus​​​. Convidados Bruno Rocha (Hilton, Porto Gaia) e Luís Gaspar (Sala de Corte, Lisboa)

​​​16 mar, sáb

Hotel Torre de Palma, Restaurante Palma, Monforte​​ (jantar) Cheee anfitrião Miguel Laffan​​​. Convidados Vítor Adão, Planto (Lisboa) e Miguel Peres, Pigmeu (Lisboa)

Restaurante Lamelas, Porto Covo (jantar) Chefe Anfitrião Ana Moura. Convidados Hugo Brito, Boi Cavalo (Lisboa) e Ruben Trindade Santos, Casa do Gadanha (Estremoz)

17 mar, dom

Restaurante Sem Nexo, Melides​ (almoço) Chefe anfitrião Diogo Águas​. Convidados Nuno Matos (Aethos, Ericeira) e Bernardo Syder (Chez Bernardo)​​

Hotel Sines Sea View, Restaurante Volta do Mar, Sines (almoço) Chefe Anfitrião David Proença. Convidados Daniel Costa (ex Alma) e João Pacheco (Maggo do Foggo, Santiago do Cacém)

24 mar, dom

Restaurante Herdade da Malhadinha Nova, Beja (almoço) Chefe Anfitrião Joachim Koerper​. Convidados Ricardo Costa (Yeatman) e Leonel Pereira (Check In, Faro)

Restaurante Amassa, Santarém​​​​​ Chefe Anfitrião Maurício Lage​​​. Convidados: a confirmar.

1. Exposição de Camélias do Porto, no Parque de São Roque

O Parque de São Roque recebe a 28ª Exposição de Camélias do Porto, neste sábado e domingo, dias 2 e 3, onde dezenas de produtores nacionais e internacionais mostram os mais bonitos exemplares daquela que é considerada a flor da cidade.

Foto: DR

Ao longo dos dois dias, haverá visitas guiadas por especialistas ao jardim oitocentista (onde existem mais de 200 camélias centenárias), degustação de chá e oficinas para crianças e adultos. Além de vários concertos: no sábado, 2, atuam o quarteto feminino Amara Quartet (15h30), Charlotte Akendhead (16h), Rodrigo Amado e Ricardo Toscano (17h00) e o dueto de violinistas Blue & White. Já no domingo, 3, será a vez de um recital de piano por Carlos Biachini (11h), Pedro Lima e João Miguel Braga Soares (17h) e, a fechar, na Casa de São Roque, o espetáculo Folhas Luzidias junta a harpista Ana Aroso, a saxofonista Isabel Anjo e a soprano Marina Pacheco. F.A. R. São Roque da Lameira, 2040, Porto > 2-3 mar, sáb 14h-19h, dom 10h-19h > grátis

2. Fantasporto, no Cinema Batalha

“A Normal Family”, do coreano Jin–Ho Hur, é exibido neste sábado. Foto: DR

Vai na 44ª edição o Festival Internacional de Cinema do Porto – Fantasporto que, até ao dia 10, exibe cerca de uma centena de filmes, oriundos de 34 países, no Batalha Centro de Cinema. Além das quatro competições habituais, o festival inclui retrospetivas dedicadas ao realizador belga Karim Ouelhaj (vencedor do Fantasporto 2023), ao cinema do Cazaquistão e da Hungria e à manga em imagem real. Neste fim de semana, serão exibidos filmes como Tokyo Revengers – Parte 1 (sáb 15h), A Normal Family, do coreano Jin–Ho Hur (sáb 19h), o thriller Cold Meat, de Sebastien Drouin (sáb 23h15), ou, entre outros, a antestreia mundial de Heart Strings, do holandês Ate de Jong (dom 19h15). F.A. Pça. da Batalha, Porto > sáb-dom, 2-3 mar > €5, sessão > programa completo em fantasporto.com

3. Concerto nº 3500, na Igreja dos Clérigos

De forma a assinalar os 3500 concertos diários de órgão de tubos no monumento de Nicolau Nasoni (começaram em 2015), a Igreja dos Clérigos recebe neste sábado, 2, às 12 horas, um concerto a dois ógãos com o organista italiano Federico del Sordo (músico especialista no repertório barroco) e o português Rui Soares. Bonelli, Antonio de Cabezón, Galuppi e Josef Blanco, são alguns dos compositores que vão interpretar. Uma forma de celebrar os concertos gratuitos diários, sempre às 12 horas, que a Irmandade dos Clérigos tem promovido desde 2015, aquando da requalificação da Igreja e da Torre dos Clérigos. F.A. R. dos Clérigos, Porto > 2 mar, sáb 12h > grátis

4. Terno e Cruel, no Teatro Nacional São João

Foto: João Tuna

A relação da Assédio com o britânico Martin Crimp, um dos grandes dramaturgos contemporâneos, é longa e profícua. Pela sétima vez, um dos seus textos é levado à cena pela companhia, com encenação de João Cardoso, numa coprodução com o Teatro Nacional São João. Em Terno e Cruel, Crimp partiu de uma adaptação, livre e enraizada no mundo contemporâneo, de As Traquínias, uma das tragédias menos conhecidas de Sófocles (já no espetáculo O Resto já Devem Conhecer do Cinema, que também esteve neste palco, o autor fazia uma versão subversiva de uma tragédia grega, As Fenícias, de Eurípedes). Foi escrita após a invasão do Iraque, em 2003, motivada pelo falso propósito de “combater o terrorismo”, e Crimp usou essa demanda como motor da peça.

Aqui, Amélia, a protagonista feminina que substitui Dejanira – a segunda mulher de Héracles, o maior e mais conhecido herói grego –, é casada com um general sem nome, incumbido da erradicação do terror. Exilada há mais de um ano numa casa temporária perto de um aeroporto, não pode abandonar o local nem falar com jornalistas, e desconhece por completo o paradeiro do marido. O desprezo pessoal e institucional a que está sujeita é reforçado com a chegada da jovem Laela e de um rapaz sem nome, únicos sobreviventes de um genocídio levado a cabo pelo general. Amélia descobre que lhe foram enviados, não por um gesto de compaixão mas porque o marido deseja ardentemente Laela – e por ela levou a cabo o massacre de uma cidade inteira. Contudo, recusa o papel de vítima e planeia uma terrível vingança. J.L. Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > até 3 mar, sáb 19h, dom 16h > €10 a €16

5. Um Dia no Mercado, no Sheraton Porto Hotel

É a primeira edição do ano deste mercado de marcas portuguesas fundado por Catarina Rio, já a pensar nas compras para a nova estação. Entre as marcas de decoração, joalharia, roupa de senhora, criança e bebé – Grace Baby & Child, Clou, Maria Bebé, Coisa Mais Linda, Marti, My Closet, Limoneta, Olivia Jewelry, Linha Tosca, entre outras – destaque para a estreia da primeira coleção de moda infantil da Maludi. Para entreter os mais novos, haverá babysitting, para além de jogos, pinturas faciais, balões e algodão doce. F.A. R. Tenente Valadim, 146, Porto > 3 mar, dom 10h30-19h > grátis

6. The Way to the High Mountain, de Eldad Rafaeli, no Centro Português de Fotografia

Foto: Eldad Rafaeli

Eldad Rafaeli nasceu em Israel, há 60 anos. Publicou as suas fotografias, desde 1991, em diversos jornais e revistas de todo o mundo e afirmou-se, depois, mais como artista visual, divulgador (foi um dos fundadores, em 2009, do Festival Internacional de Fotografia de Israel) e professor. Esta sua primeira exposição individual em Portugal não funciona só como mais uma antologia do seu trabalho ao longo de 40 anos, sobretudo em Israel e no Médio Oriente. Foi especialmente concebida para o Centro Português de Fotografia, inclui uma instalação audiovisual e uma secção em que o fotógrafo/artista reflete sobre o tema da morte.

Esta apresentação de The Way to the High Mountain, com curadoria de Ângela Ferreira (cofundadora dos Encontros da Imagem, em Braga), partiu também de um desejo do artista de mostrar o seu trabalho no edifício da Cadeia da Relação, onde funciona o Centro Português de Fotografia – “a partir da metáfora da prisão, o observador é guiado por uma jornada mental da escuridão à luz”, escreveu. P.D.A. Lg. Amor de Perdição, Porto > 2 mar-26 jun, ter-sex 10h-18h, sáb-dom e feriados 15h-19h > grátis

Não tive a sorte de ter uma família que me impulsionasse a cozinhar. Tenho glaucoma congénito, o meu olho direito nasceu sem qualquer funcionalidade, enquanto o esquerdo é muito mirrado. O problema surgiu quando, aos 25 anos, quis ir morar sozinha e só sabia abrir pacotes de batatas fritas, latas de salsichas e de atum, e que a massa se cozia em água.

Para aprender a cozinhar, pesquisava muito em blogues de receitas fáceis. Quando, pela primeira vez, tentei fazer um bolo, não sabia que se tinha de pré-aquecer o forno; então o bolo nunca mais cozinhava!

As pessoas acham que os cegos têm os sentidos mais apurados. Prefiro dizer que os temos mais trabalhados, é diferente. As investigações indicam que 80% da informação captada é visual. Portanto, os cegos, não tendo esses 80%, têm de trabalhar os outros 20% para tentar chegar o mais próximo possível aos 100% necessários.

Mas é verdade que, na culinária, os outros quatro sentidos ajudam muito. Se estiver a cozer batatas, não preciso de ir lá espetar o garfo para saber se estão prontas. O amido da batata na água a ferver gera um cheiro diferente. O som da água a borbulhar no início da fervura, ainda limpa, é diferente do da água a borbulhar quando já tem o amido da batata, ou da massa ou do arroz.

Para saber se algo está cozinhado quando o retiro do forno, o cheiro também é diferente, mas, se for com um garfo e bater um bocadinho, percebo o som da crocância. Outro exemplo: o pão, quando está cozinhado e lhe damos uma pancadinha, tem um som oco, porque o amido lá dentro já cresceu; quando a massa ainda está crua, gera um som baço. Isto vai-se aprendendo com o tempo.

Numa ida às compras, o pior são as embalagens. Existe legislação [lei nº 33/2008, de 22 de julho] a dizer que os hipermercados [área superior a 300 m2] têm de disponibilizar rotulagem em braille a pedido do consumidor. Quando faço as compras online, tenho de lhes dar 48 horas, no mínimo, para fazerem a nova etiquetagem e virem entregar. Estamos sempre dependentes – ou as impressoras estão avariadas ou a única pessoa que sabe fazer as etiquetas está de baixa médica. Há sempre problemas! Também posso ir às compras presencialmente e pedir um assistente para acompanhamento, mas isso implica passar horas e horas entre corredores e prateleiras.

Não gasto dinheiro em roupas e sapatos, mas perco-me com equipamentos de cozinha. Quando as máquinas são manuais, só com botões, não há problema nenhum, pois sei qual é a função de cada um. Mas a Bimby é um problema, porque quem desenvolveu este robô de cozinha não acrescentou uma voz a ler as instruções daquele sistema operativo. Consigo que o meu telemóvel com iOS vá lendo o que aparece no ecrã.

No meu podcast Cozinhar Com o Coração, o episódio a explicar como se usa a Bimby é o mais ouvido. As pessoas cegas estão ávidas de poder ter um robô de cozinha que fale.

A AirFryer é muito simples, é quase como usar o micro-ondas. A única coisa que tenho medo de usar na cozinha é o óleo quente – nem a panela de pressão elétrica, com tranca enquanto tem pressão, me assusta tanto.

“A cegueira não me chateia nada”

Gostava de saber mais sobre como fazer o empratamento e toda a questão estética das receitas, porque eu não vejo, mas à minha volta os outros veem; não estou isolada do mundo. Recebo amigos em minha casa e também tenho gosto em que olhem para o prato e digam que está bonito.

Gosto muito de comer, mas ser celíaca [intolerância hereditária ao glúten] limita-me muito; queria experimentar alguns restaurantes e comidas de outros países, mas não o faço. As outras pessoas não têm noção de quão complicada é esta doença. O glúten enfia-se nos poros da madeira de uma tábua de cozinha onde é cortado um pão ou outro alimento com glúten, por mais que a tábua seja lavada.

O único sítio onde me sinto 100% segura a comer é na minha casa. Sinto que a minha doença celíaca me limita muito mais do que a minha cegueira. Se me dessem a escolher entre as duas, dava já a doença celíaca de bandeja e ficava com a cegueira, que não me chateia nada – não conheço a vida de outra maneira.

Entre os ouvintes do meu podcast, há pessoas que me escrevem a dizer que também não veem e gostavam de fazer as receitas, outras que nunca pensaram que uma pessoa cega cozinhasse e perguntam como é que não me queimo no forno ou não me corto com a faca, e outras, que não sei se são cegas ou não, a dizer que foi graças aos meus episódios que começaram a cozinhar. Quando assim é, cumpri o meu objetivo.

Há muitos jovens que gostavam de ter a própria casa, mas a família não os apoia – dizem que, depois, não vão ser capazes de cuidar de si nem da casa. Muitas vezes, a família é o pior castrador que as pessoas com deficiência, qualquer que seja, têm

Infelizmente, também me escrevem a contar que gostavam de fazer tarefas em casa, de ter mais autonomia, mas que a família não permite. Há muitos jovens que gostavam de ter a própria casa, mas a família não os apoia – dizem que, depois, não vão ser capazes de cuidar de si nem da casa. Muitas vezes, a família é o pior castrador que as pessoas com deficiência, qualquer que seja, têm.

Quando se pergunta a alguém, sem qualquer deficiência, “se tivesse um acidente e ficasse com uma sequela permanente e limitadora, o que é que não queria?”, a maioria responde que a cegueira seria a pior. Mas as pessoas cegas são aquelas que conseguem atingir uma vida o mais parecida possível com a vida das pessoas sem deficiência.

Quem anda numa cadeira de rodas tem imensa dificuldade devido às acessibilidades; as pessoas surdas têm a barreira da língua, da comunicação. Nós conseguimos estudar, ter um emprego, bem ou mal ir aqui e ali, falamos com toda a gente, podemos pedir ajuda. Mas como o mundo é tão visual, as pessoas acham que, se não vissem, seria uma catástrofe, mas não era. Atravessar a rua sem ver pode parecer difícil, mas cortar um bife num prato de bitoque, sem deixar cair as batatas fritas à volta, é muito mais complicado.

Depoimento recolhido por Sónia Calheiros

Segundo a lei, as cirurgias de prioridade normal devem ser realizadas num prazo máximo de seis meses.

Os dados provisórios avançados à agência Lusa pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), a propósito do Dia Mundial da Obesidade, assinalado a 04 de março, indicam que o tempo médio de espera para cirurgia tem vindo a diminuir: 10,4 meses em 2021, 6,5 meses em 2022 e 5,5 meses em 2023.

Em 2023, foram operadas 1.965 pessoas com obesidade, menos 12 do que em 2022 e mais 391 comparativamente a 2021, no âmbito do Programa de Tratamento Cirúrgico da Obesidade (PTCO).

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), José Silva Nunes, afirmou que há uma redução do tempo de espera e não “há um aumento exponencial da procura, porque face ao tempo que as pessoas ainda têm que esperar, acabam muitas delas por recorrer ao setor privado ou social ou então vão fazer turismo de saúde”.

O médico responsável pelo Serviço de Endocrinologia do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, enfatizou que a cirurgia “é um dos pilares do tratamento”, está reservado para “uma pequena porção de pessoas que sofrem desta doença”, os casos mais graves.

Mesmo sendo “uma franja” da população global com obesidade, em termos absolutos “são muitas pessoas” e os centros de referência do Serviço Nacional de Saúde não conseguem dar resposta a todas, disse.

“Quem tem dinheiro” faz a cirurgia fora do SNS, quem tem “fracos recursos socioeconómicos, tem que esperar pela sua vez no Serviço Nacional de Saúde e a resposta não é aquela que seria desejável”, disse, observando que a prevalência da obesidade é maior nas classes desfavorecidas.

Por outro lado, o tempo de espera para uma consulta de obesidade também “é muito prolongado”, pelo menos, um ano, “muito mais daquilo que seria admissível para uma pessoa que vive com uma doença crónica”.

A presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, Paula Freitas, considerou, por seu turno, que “há alguma incompreensão em relação à obesidade” e mesmo “estigma e discriminação”.

“Muitas vezes há essa incompreensão não só pelas pessoas que têm a própria doença, mas também pelos próprios profissionais de saúde”, disse a endocrinologista, defendendo “é preciso treinar, formar, mais profissionais de saúde” nesta área.

Em Portugal, 67,6% da população tem excesso de peso ou obesidade, sendo que a prevalência da obesidade é de 28,7%, o que correspondendo a mais de dois milhões de adultos.

Estima-se que, em 2035, 39% da população adulta em Portugal seja obesa, perspetivando-se um crescimento anual da doença de 2,8% entre 2020 e 2035. Ao nível da obesidade infantil, esse crescimento anual será mais elevado (3,5%).

Para Paula Freitas, é necessário arranjar estratégias e soluções para tratar já quem tem a doença instalada.

José Silva Nunes acrescentou que estas pessoas têm que desenvolver diariamente “uma luta inglória contra aquilo que a natureza determina o seu organismo fazer, que é aumentar de peso”.

“Por isso, é que sem uma ajuda farmacológica ou cirúrgica, nos casos em que se aplica, é extremamente difícil só com medidas de alimentação, intervenção alimentar ou de exercício físico conseguir controlar esta doença”, que é crónica, recidivante, multifatorial e com caráter pandémico, realçou.

HN // CMP

Os Estados Unidos destruíram no Iémen um míssil terra-ar dos rebeldes Huthis, que constituía uma “ameaça iminente” para os aviões norte-americanos na região, anunciou hoje o comando militar dos EUA para o Médio Oriente (Centcom).

As forças norte-americanas conduziram, na sexta-feira, “um ataque de autodefesa contra um míssil terra-ar (…) que estava pronto para ser lançado a partir de áreas controladas pelos Huthis no Iémen”, afirma-se numa publicação do Centcom na rede social X.

O míssil representava “uma ameaça iminente para os aviões norte-americanos na região”, afirmou o comando, sem dar mais pormenores.

No mesmo dia, os Huthis lançaram um míssil antinavio que caiu no Mar Vermelho sem danificar embarcações, disse a mesma fonte.

Apoiado pelo Irão, o grupo xiita tem atacado desde novembro navios que acreditam estar ligados a Israel, alegando estar a agir em solidariedade com os palestinianos na Faixa de Gaza.

Em resposta aos ataques dos Huthis, os Estados Unidos, que apoiam Israel, criaram uma força multinacional de proteção marítima no mar Vermelho em dezembro e, com a ajuda do Reino Unido, lançaram ataques no Iémen contra os Huthis.

Desde então, os rebeldes alargaram os ataques a navios ligados aos Estados Unidos e Reino Unido.

Em resposta a estes ataques, as forças de Washington e Londres realizaram ofensivas contra 18 alvos Huthis em oito locais distintos no Iémen, a 24 de fevereiro.

Uma pessoa morreu e oito outras ficaram feridas, anunciou a agência de notícias oficial dos Huthis.

CAD // CAD

“Para aprofundar a nossa missão de terminar com os privilégios da política, estamos a enviar ao Congresso um pacote de leis ‘anticasta’ com várias componentes”, anunciou na sexta-feira Javier Milei durante um discurso no Parlamento por ocasião da abertura das sessões legislativas de 2024.

Segundo avançou o dirigente, o pacote inclui a eliminação de pensões de privilégio para presidentes e vice-presidentes, incluindo a futura reforma do próprio Milei quando terminar o mandato.

Outra modificação afeta os líderes sindicais argentinos, na maioria à frente dos sindicatos há mais de 30 anos em eleições sem o devido controlo do processo.

“Obrigaremos os sindicatos a elegerem as suas autoridades através de eleições periódicas, livres e supervisionadas pela justiça eleitoral, que limitará os mandatos dessas autoridades a quatro anos e estabelecerá um limite de uma única reeleição”, disse Milei.

O Governo e a Confederação Geral do Trabalho (CGT) estão em conflito aberto desde que Milei publicou um decreto com uma reforma laboral, atualmente suspensa por liminares da justiça. Em 24 de janeiro, quando Milei estava há apenas um mês e meio no cargo, a CGT realizou uma greve geral que, no entanto, teve baixa adesão.

O pacote inclui ainda a adoção da chamada “ficha limpa”, um mecanismo aplicado originalmente no Brasil que impede pessoas condenadas por corrupção em segunda instância de serem candidatas em eleições. Porém, Milei acrescentou outra penalização: “Todos os ex-funcionários públicos condenados em segunda instância por corrupção perderão automaticamente qualquer benefício por terem sido funcionários”.

Outra modificação será uma drástica redução na quantidade de assessores que deputados e senadores podem contratar.

“Tem sido uma prática comum que representantes do povo abram verdadeiras empresas com 30 ou com 40 assessores cada um, dilapidando os recursos dos argentinos”, criticou Milei.

Um funcionário do Estado que faltar ao trabalho para participar numa greve terá o dia descontado do salário.

“E também eliminaremos o financiamento público de partidos políticos. Cada partido terá de se financiar com contribuições voluntárias de doadores ou de afiliados próprios”, avisou.

Se o pacote for aprovado na íntegra, serão penalizados o presidente, o ministro da Economia, os funcionários do Banco Central ou os legisladores que aprovarem um orçamento que contemple financiar défice fiscal com emissão monetária sem respaldo.

“Essa prática inflacionária é insustentável e moralmente criminosa. Proporemos que esse delito seja imprescritível para que, cedo ou tarde, paguem o custo dessa decisão”, advertiu Milei.

O Presidente também confirmou que vai fechar a Agência de Notícias Télam, a agência oficial do Estado argentino.

Os anúncios que apontam para a redução do Estado visam dar um sinal à sociedade de que o drástico ajuste fiscal de 5% do produto interno bruto (PIB) tem sido maior no setor público do que na população em geral.

Desde que assumiu o cargo em 10 de dezembro, Milei descongelou preços e retirou subsídios, impondo uma forte perda do poder aquisitivo. Enquanto os salários ficaram estagnados, a inflação de dezembro fixou-se em 25,5%, a de janeiro em 20,6% e a de fevereiro deverá rondar os 18%, de acordo com um estudo do Banco Central do país.

“Aos argentinos, só lhes peço uma coisa: paciência e confiança. Falta um tempo para que possamos perceber o fruto do saneamento económico e das reformas que estamos a implementar. Estamos a atacar o problema na sua causa, o défice fiscal, e não nos seus sintomas. Por mais escura que seja a noite, o sol nasce sempre de manhã”, disse Javier Milei ao terminar o discurso no Parlamento durante a noite em Buenos Aires, já madrugada de hoje em Lisboa.

MYR // CAD

Os socialistas da União Europeia (UE), incluindo Olaf Scholz, António Costa e Pedro Sánchez, decidem hoje, em Roma, a nomeação de Nicolas Schmit para candidato à presidência da Comissão Europeia na próxima legislatura.

Com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia em exercício, já na corrida, os socialistas organizaram um congresso na capital italiana para escolher o luxemburguês Nicolas Schmit, que é o comissário para o Emprego e Direitos Sociais, como candidato do Partido Socialista Europeu (PES).

O primeiro-ministro demissionário e antigo secretário-geral do PS, António Costa, vai intervir pouco depois da cerimónia de abertura do congresso, prevista para perto das 09:00 locais (08:00 em Lisboa).

Participam ainda os primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez (que é também secretário-geral do PSOE), e os homólogos da Alemanha, Olaf Scholz, e da Dinamarca, Mette Frederiksen.

O presidente do PES e antigo primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, e a presidente dos Socialistas & Democratas no PE, Iratxe García Pérez, também estão presentes no congresso de Roma.

Schmit anunciou em janeiro que queria ser o candidato da família política de que também faz parte o PS nas eleições europeias de junho, que decidirão não só a composição do Parlamento Europeu na próxima legislatura, mas também a do executivo comunitário.

A Comissão Europeia é hoje encabeçada por von der Leyen, do Partido Popular Europeu (PPE), e que previsivelmente vai ser a “Spitzenkandidaten” daquele grupo político, a que pertencem PSD e CDS-PP.

+++ A Lusa viajou a convite do PES +++

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À Lusa, a mentora do Ciclopes — Achata Colinas, Catarina Martins, explica que o projeto visa a “promoção da mobilidade ciclável, principalmente nos bairros de intervenção prioritária”.

“Queremos criar um movimento que vá contra esta ideia de os miúdos não terem autonomia e estarem presos nas ‘ilhas’ [bairros sociais] e que promova a liberdade de deslocação e a liberdade de oportunidades”.

A experiência no Bairro Padre Cruz, situado na freguesia de Carnide e considerado o maior bairro municipal de Lisboa, tem sido gratificante, segundo a responsável, que acredita no projeto como um manifesto e no “poder transformador de duas rodas montadas numa estrutura de metal”.

“Achatar as colinas e reduzir as diferenças, achatar as colinas de rendimentos e achatar as colinas de Lisboa. A bicicleta é efetivamente um veículo que pode ser muito interessante como desobstrução para outras coisas”, considerou.

Todas as segundas e quartas-feiras, a Cicloficina abre portas, entre as 14:00 e as 19:30. Até ao momento, conta já com mais de 230 inscritos na base de dados. O processo é simples: à chegada é escolhida a bicicleta e escrito num papel o nome, a hora a que é levantada e o número que a ‘bike’ tem assinalado no quadro.

Anderson Mendes, Pedro Miguel e Frederico, que todos tratam por Kiko, foram dos primeiros a chegar no dia em que a Lusa visitou o projeto. Já se encontravam de volta das suas bicicletas, sob o olhar atento dos monitores Patrick Filipe, Pedro Bastos e do italiano Massimo Marano a dar umas últimas afinações.

Pedro Miguel começou por trocar a câmara-de-ar de um dos pneus da bicicleta, coisa que há uns meses diria ser impossível de fazer.

“Quando vim para aqui, vou ser sincero, não sabia trocar uma roda, agora já sei rodar isto tudo”, contou à Lusa, adiantando que, tanto o monitor Pedro como o Patrick, “que são os que tratam mais das ferramentas”, já o ensinaram a resolver vários problemas que podem surgir na bicicleta como a falta de travões ou a roda empenada.

Antes do Ciclopes chegar ao bairro, o jovem de 17 anos ia jogar futebol para a associação Bola pr’á Frente (projeto de cariz sócio educativo), mas agora é um dos frequentadores assíduos “desde que abre até que fecha” e faz tudo para entregar a ‘bike’ a horas, nunca depois das 18:30, porque há “castigos de não andar duas semanas”, se tal acontece.

“Venho sempre, nunca falto, isto aqui é como o ATL da escola”, contou à Lusa, adiantando que, entre uma ou outra queda, uns arranhões aqui e ali, na mão ou na perna, o que gosta mais é de “andar com a roda no ar e sacar cavalinhos” com os amigos, rolando pelas ruas do bairro.

Há coisa de cinco meses, Anderson Mendes descobriu que gostava de andar de bicicleta. Começou por ver os amigos “a sacar a bicicleta” e disse para si próprio que também o queria fazer e para isso tentou vários dias.

A Anderson aplica-se o ditado ‘não há duas sem três’, pois foi a persistência que o fez levantar três vezes do chão sempre que tentava “sacar” a roda dianteira para conseguir fazer o chamado cavalinho.

“A primeira vez que eu fiz isso, eu caí. A segunda vez, caí. A terceira vez, eu caí novamente e a quarta vez, eu comecei a andar assim, às vezes não ando bem (…), é por isso que agora estou a tentar sacar mais de baixo”, disse ao mesmo tempo que exemplificava.

Anderson, como a maioria dos rapazes da sua idade gosta de jogar futebol e admitiu que passava muito tempo em casa, na cama, a “jogar Play[station]”, mas agora reconhece que sempre que pode vai alugar a ‘bike’ para andar com os amigos.

Lembrando que vai buscar uma bicicleta também por causa da escola, Anderson afirmou, com a convicção do alto dos seus 13 anos que, no futuro, quando deixar de andar na escola do bairro, vai usar uma bicicleta em vez do autocarro para ir estudar.

“Vou conseguir, tenho certeza que eu vou conseguir [ir de bicicleta para à escola]”, afirmou.

É esta autonomia e confiança que o projeto também procura transmitir aos jovens, além de os ensinar a andar e a arranjar a bicicleta, conforme explicou o monitor Patrick Filipe.

“Sou de Évora e sempre fui habituado a ter bicicletas por perto, a destruir muita coisa e a ter de reparar muita coisa”, começou por contar, frisando que também cresceu num bairro da periferia, apesar de não ser bairro social.

Patrick está habituado a lidar com crianças e jovens, conforme contou, tendo passado por Atividades Extra Curriculares (AEC) e treinos de râguebi, entre outros, por isso a mecânica no Ciclopes é só uma ferramenta que lhes proporciona.

“A bicicleta aqui é apenas um pretexto para eles virem até nós. Temos a oportunidade de privar junto deles. Pode ser uma aprendizagem, quer em termos cívicos, quer em termos de conduta, em termos de alimentação. Perguntamos muita coisa sobre a escola. Vamos dando assim uns ‘highlights’ [luzes] daquilo que pode ser o futuro lá mais à frente se continuarem a estudar”, explicou.

O monitor reconheceu igualmente que a bicicleta não é apresentada só como algo lúdico, mas também pode ser um meio de transporte, um dos motes do projeto.

“Muitos dos miúdos acabam por ter a oportunidade de sair um pouco mais do bairro, visualizar mais para além do bairro digamos assim, não no sentido pejorativo, mas de terem uma porta aberta graças à bicicleta”, que é um “meio de transporte, além de entretenimento, desportivo ou de lazer”, salientou.

Patrick, que segundo Catarina Martins é também “um exemplo masculino para a maioria dos jovens do bairro”, reconheceu que o projeto tem tido sucesso ao nível das aprendizagens de mecânica, com alguns miúdos, “que antes não sabiam rigorosamente nada e hoje em dia conseguem desmontar e voltar a montar a bicicleta, se fica assim tão afinada ou não é secundário”, confidenciou.

“Eles sentem-se capazes de, têm essa noção e isso é um dos motes aqui também da Cicloficina”, concluiu.

A propósito das ferramentas que o projeto também dá a estes jovens, Catarina Martins lembrou o caso de um rapaz que já vai na quarta bicicleta montada, graças ao que aprendeu de mecânica com os monitores.

“Já assisti a dinâmicas muito giras, de uns ensinarem os outros como se faz depois de terem perguntado e aprendido”, lembrou Catarina Martins.

Segundo a responsável da cooperativa Drive Impact, que promove projetos de mudança social e impacto ambiental do qual faz parte o Ciclopes, houve um dia que tiveram 80 alugueres (gratuitos) de bicicletas, com jovens a ficar numa fila mais de uma hora, salientando que isso só demonstra o valor do projeto.

Atualmente, o projeto está à procura de apoios, pois funciona com recursos da cooperativa, disse Catarina Martins, apelando igualmente ao donativo de bicicletas.

*** Rosa Cotter Paiva (texto), Franque Silva (imagem) e André Kosters (foto), da agência Lusa)

RCP // MCL

“Quero convocar tanto os governadores quanto ex-presidentes e líderes dos principais partidos políticos para uma rendição dos nossos interesses pessoais e para que nos encontremos no próximo dia 25 de maio, na província de Córdoba, para assinarmos um novo contrato social chamado ‘Pacto de Maio’: um contrato social que estabeleça os dez princípios da nova ordem económica argentina”, disse Javier Milei num discurso no Parlamento por ocasião da abertura das sessões legislativas, na sexta-feira, já na madrugada de hoje em Lisboa.

O dia 25 de Maio de 1810 marcou o primeiro grito de liberdade que derivou na independência da Argentina seis anos depois. A data é considerada pelos argentinos ainda mais importante do que a própria independência e funciona como uma metáfora para os planos de liberdade do Presidente Milei.

“Esse ‘Pacto de Maio’ terá como finalidade estabelecer as dez políticas de Estado que o país precisa para abandonar a trilha do fracasso e começar a percorrer o caminho da prosperidade”, apontou Milei.

O líder enumerou cada um dos pontos que considera ser a base para o país sair da crise estrutural: a inviolabilidade da propriedade privada, o equilíbrio fiscal, a redução do gasto público a 25% do produto interno bruto (PIB), uma reforma tributária, uma revisão do regime de verbas da União às províncias, um compromisso por parte das províncias de avançarem com a exploração dos recursos naturais, uma reforma laboral moderna, uma reforma no sistema de pensões, uma reforma política e a abertura do comércio internacional.

“Essas dez ideias são a base do progresso de qualquer nação”, definiu Milei perante os legisladores.

No entanto, o Presidente colocou como condição para um consenso de base para o país a aprovação do pacote de leis conhecido como “Lei Bases”, rejeitado pela Câmara de Deputados em janeiro. Juntamente com essa condição, Milei acrescentou um “pacote de alívio fiscal para as províncias”, para seduzir os governadores provinciais.

“Aprovadas as duas leis (Lei Bases e Alívio Fiscal) como mostra de boa vontade, poderemos começar a trabalhar num documento comum baseado nesses dez princípios do “Pacto de Maio’, dando início a uma nova época de glória para o nosso país”, apontou Milei.

Com apenas 15% da Câmara de Deputados e 10% do Senado, o Governo de Milei tem uma minoria parlamentar que o impede de avançar com um ambicioso plano de desregulamentação do Estado e de reformas estruturais.

A estratégia do dirigente é deixar em evidência perante a sociedade quem está a favor e quem está contra a mudança do país, pela qual uma maioria votou nas eleições de novembro passado, quando Milei ganhou com 55,7% dos votos.

“Caberá a vocês saberem aproveitar a oportunidade de mudar a história ou continuar por este caminho da decadência. Veremos quem está sentado à mesa a trabalhar pelos argentinos e quem pretende continuar por este caminho de servidão”, desafiou.

Milei avisou que “vai ordenar as contas fiscais com ou sem a ajuda dos dirigentes políticos”. “Se a política apoiar, faremos mais rápido, melhor e com menor custo social”, disse.

“Devo ser honesto e dizer-vos que não tenho muitas esperanças de que aceitem esse caminho. Acredito que a corrupção, a mesquinharia e o egoísmo estão muito estendidos. Porém, embora eu não tenha muitas esperanças, não as perdi. Quero que me demonstrem que estou errado. Quero desafiar-vos a demonstrarem que estou errado em desconfiar de muitos de vocês”, interpelou Milei com o habitual estilo frontal.

Javier Milei disse que “não escolhe o caminho da confrontação política, mas que também não foge do confronto”.

“Se escolherem o caminho da confrontação, encontrarão um animal muito diferente daquele com o qual estão acostumados, porque ao contrário de alguns que estão aqui, a política para nós [Governo] não é um fim em si mesmo. Não vivemos da política e não temos ambição de poder. Temos sede de mudança. Não pensamos na nossa carreira política. A nossa causa sagrada é a defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada dos argentinos”, advertiu Milei, encerrando mais de uma hora de discurso com o clássico “Viva la libertad, carajo” (Viva a liberdade, caramba).

MYR // CAD