O “ficamos onde estamos”, sugerido por Zelensky para um acordo de cessar-fogo com a Rússia, bem como a não entrada na NATO por vontade própria, tem um cheiro intenso a desistência. A derrota. O fracasso. A insucesso. Por muito que o presidente ucraniano deseje uma paragem na guerra, os termos não podem alinhar-se com os interesses russos, muito menos com os americanos.
Mais do que de Putin, Zelensky transmite um receio incontrolável de Trump, na certeza de que o presidente norte-americano está claramente a desempenhar o papel de Moscovo. Como irão reagir os ucranianos? Aceitarão congelar as linhas de contacto na esperança de que exista, um dia, um acordo para a retirada das tropas russas?
Nestas negociações tripartidas — Ucrânia, EUA, Europa e aliados — não há ingénuos. Zelensky aceita vergar em troca de garantias de segurança ao estilo do artigo 5.º da NATO, envolvendo diretamente os Estados Unidos. Bonito, mas pouco confiável. Trump faz o que lhe apetece, mesmo se jurar garantir a segurança territorial da Ucrânia, que, entretanto, ficaria desde logo sem 30% do seu território.
Há também outro desequilíbrio notório e gritante nestas conversas. Chefes de Estado e primeiros-ministros dão a cara, aparecem, discutem e tentam encontrar uma solução, mas do lado americano surgem o empresário do imobiliário amigo de Trump e o seu genro, o que dá sempre ao presidente norte-americano a possibilidade de negar ou renegar tudo o que venha a ser dito ou acordado. Não é um bom sinal para ninguém. Witkoff fala por dois: Trump e Putin. Não está à altura, diga-se. Não tem estatuto nem estatura. Que é feito de Marco Rubio?
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