Indignado com Zelensky, Trump entrou no seu “modo” de bully (intimida, humilha, ameaça) por causa da alegada falta de gratidão da Ucrânia relativamente ao «Plano de Putin» para acabar com a guerra. E esse modo agressivo aplica-se também à Europa, que está chocada com o «tratado» de rendição apresentado a Kiev. A espiral adensa-se na cabeça do presidente dos EUA. Ou aquilo, ou nada, mesmo que por vezes diga o contrário. Mesmo apesar do progresso admitido em Genebra.
Uma coisa já se percebeu: o plano escrito a duas mãos, Putin/Trump, não vai — nem pode — ser aceite pelos ucranianos ou pelos europeus nos termos em que está concebido. Seria uma catástrofe coletiva. Amanhã seria a Polónia, ou a Estónia, a entrar em dificuldades, e o modelo a apresentar seria o mesmo, tendo em conta que poucos acreditam que este presidente cumprisse as suas obrigações na NATO.
Trump não gosta de Zelensky nem da Europa, no seu conjunto. E a invocação dessa falta de gratidão diante do «Tratado de Rendição Incondicional à Rússia», quando estão a negociar em Genebra, é um sinal do que pode resultar dessas conversas. Curiosamente, a Ucrânia, os EUA e a Europa até estão a trabalhar num modelo de entendimento que assenta em algumas das premissas minimamente aceitáveis dos 28 pontos (podiam ser só 10!), mas esse sinal positivo tanto pode esbarrar em Moscovo como em Washington.
O «bullying» de Trump assenta na chantagem: ou aceitas ou deixo de apoiar — e isso é temido pelos ucranianos. Sem a ajuda militar americana, abre-se uma severa lacuna na defesa antiaérea (talvez a componente mais importante nesta fase), que Moscovo certamente procuraria explorar. A Europa, no seu conjunto, não consegue suprir as necessidades constantes das Forças Armadas ucranianas. É neste jogo que estamos.
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