O pai de Benjamim Pestana vendia sapatos. Era um homem minúsculo, silencioso, todo voltado para dentro, como um caramujo, e sem nenhum outro interesse ou paixão que não fosse o seu negócio. Homens assim costumam ter sucesso no que fazem. O senhor Pestana teve. O negócio prosperou. Comprou uma segunda loja, depois uma terceira e, finalmente, criou a própria fábrica.
O sucesso do senhor Pestana despertou invejas. Os homens convexos e ruidosos, inteiramente voltados para fora, à maneira das araras, não compreendiam como um sujeito tão inexistente (era como o definiam) pudesse existir mais do que eles; de entre esses sujeitos rancorosos distinguia-se outro vendedor de sapatos, atlético, ruivo e bem-falante, chamado Apolinário Rangel.