A minha relação com o Benfica é muito mais do que isso. Sou metódico, racional e calculista. Vivo tudo como se de uma partida de xadrez se tratasse. Antes de dar um passo, penso em todos os possíveis, e em todas as possibilidades que esse passo dá ao outro jogador. Sou assim em tudo, menos com o Benfica.
Pelo Benfica canto até ficar sem voz, pelo Benfica salto até não aguentar mais, pelo Benfica bato palmas sem nunca me cansar e ergo os braços até ao apito final. E quando a adrenalina do jogo acaba, as forças renascem para festejar um campeonato ou um taça, ou uma simples vitória perante o adversário do dia.
O Benfica faz-me sorrir, sonhar e esquecer tudo, cada vez que a bola rola entre António Silva, Otamendi que a coloca na esquerda para Aurners (ou na posição em que ele estiver a jogar) que deixa para o Neves levar até ao último terço do terreno, para entregar no Di Maria que descobre o Cabral no segundo poste (ou o avançado escolhido para este jogo, ou não avançado, mas que joga nessa posição) que remata (ou falha a bola ou a baliza como foi normal esta época).
Eu vibro na mesma, continuo a acreditar que ainda vamos melhorar, ainda a tempo de ganhar o jogo. Comento que se devia mexer na equipa, que devíamos testar jogar com dois avançados, que temos no banco jogadores demasiado caros, que ainda não tiveram minutos de jogo para mostrarem o que jogam.
Volto a comentar, já com ar rezingão, que vamos no minuto 75 e ainda não mexemos na equipa, mais à frente digo que mudamos jogador por jogador, e a tática é sempre igual, que somos previsíveis, assim não dá.
O Benfica para mim é ganhar, são golos, remates perigosos, defesas avassaladoras, estar a ganhar e não estar satisfeito, pedir sempre mais um golo, mais um cruzamento perigoso para a área, mais uma finta e uma desmarcação pelo flanco, ir à linha, passe para trás, onde à entrada da área vai surgir um remate vitorioso.
Benfica é jogar na Champions, sentir que o adversário entra na Luz com respeito, que disputamos todos os pontos, que os jogadores se motivam ainda mais quando se batem neste palco. Ser cabeças de série, ir até ao fim, com orgulho, cair de pé onde for, mas sempre com um dos nossos, grande.
O Benfica é bifana, é cheiro a carvão na mata do Jamor, é estar com os amigos todo o dia à espera de entrar no estádio nacional, sentir o hino, orgulhosos de sermos portugueses e benfiquistas. Começar o jogo com sol e com calor e erguer a taça ao noitecer, já com o casaco vestido.
O Benfica é marquês, é festa de norte a sul e em todos os cantos onde há portugueses.
Esta época não foi Benfica. Que comece amanhã a próxima.
Depois disto, quero ganhar nas modalidades, quero sentir que o meu clube comunica, que tem mensagem e estratégia, quero que o Benfica continue a ser uma instituição maior que o desporto e quero saber dos estatutos e das contas, por esta ordem.
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