A história já foi contada em várias ocasiões: um homem pretende receber autorização para procurar numa lixeira pelo disco rígido do computador portátil no qual tem a chave que dá acesso a milhares de Bitcoin mineradas em 2009 e que valem uma fortuna atualmente. James Howells tenta obter esta aprovação desde 2013, altura em que referia que, por lapso, o disco rígido tinha sido deitado fora e continha a chave para cerca de 8000 Bitcoin.
Ao preço de mais de 95 mil dólares cada, atualmente a fortuna que está naquela lixeira passa os 733 milhões de dólares, cerca de 713 milhões de euros. O juiz britânico Keyser KC acabou, na semana passada, por rejeitar o apelo dizendo que Howells não tem qualquer hipótese de ter sucesso no tribunal. Howells pedia que o dono da lixeira “entregasse o disco rígido ou permitisse que a equipa de peritos escavasse o aterro para o encontrar ou, em alternativa, lhe desse uma compensação equivalente ao valor da Bitcoin a que já não pode aceder”.
As autoridades camarárias de Newport defendem que escavar no aterro como Howells pretende iria permitir que substâncias tóxicas escapassem com “sérios riscos para a saúde pública e preocupações ambientais”.
A decisão definitiva do juiz agora foi de rejeitar o pedido de Howells, defendendo que não há “realisticamente qualquer probabilidade de ter sucesso em tribunal”. A decisão cita um artigo de 1974 que diz que “qualquer coisa entregue às autoridades por outra pessoa no decurso do uso das instalações deve pertencer à autoridade e será tratada em conformidade”. No seu caso, Howells defende que este artigo apenas refere que os objetos pertencem à autoridade, mas não clarifica que “deixem de pertencer ao seu antigo proprietário”.
Outro argumento usado pelo juiz é o do tempo: Howells sabia dos factos desta queixa em novembro de 2013, mas apenas iniciou os processos legais em maio de 2024, passando os seis anos de limitação estabelecidos na lei. Howells tem tentado, desde novembro de 2013, aceder ao local da lixeira, em Newport, País de Gales, para encontrar o disco de duas polegadas e meia onde está o ficheiro wallet.dat com a chave privada que desbloqueia o acesso a esta recheada carteira, lembra o ArsTechnica.
Howells já reagiu, lamentando que o caso não possa sequer seguir para tribunal, não lhe dando a oportunidade de se explicar ou a “oportunidade de ter justiça sob qualquer forma”. “Não se trata de ganância, não me importo de partilhar os lucros, mas ninguém numa posição de poder está a querer ter uma conversa decente comigo… Esta decisão tirou-me tudo e deixa-me sem nada. É o grande sistema de injustiça britânico a funcionar”. Em 2021, Howells tinha oferecido às autoridades um quarto do lucro total das Bitcoin que poderiam ser distribuídos pelos residentes locais.
Sobre a razão pela qual o disco foi parar ao aterro, Howells já explicou que se tratou de um lapso, pois tinha dois discos iguais, um sem nada e outro com a chave das Bitcoin, e que pretendia deitar fora o primeiro. O aterro contém atualmente 350 mil toneladas de lixo e recebe 50 mil toneladas todos os anos. O queixoso acredita que consegue restringir a busca para uma área com aproximadamente dois mil metros quadrados e um volume entre 10 e 15 mil toneladas de lixo e que o disco, mesmo estando soterrado, ainda pode ser recuperado, pois tem uma camada de cobalto anti-corrosivo a revesti-lo.