É no Palais des Festivals, no sul de França – o mesmo que acolhe o reputado Festival de Cinema de Cannes – que parte do Grande Porto passa a ser “Greater Porto”: Porto, Matosinhos e Gaia participam em conjunto, pelo segundo ano consecutivo, no MIPIM, a maior feira mundial do setor do imobiliário. E a meta é superar os 100 milhões de euros captados para a região, na edição do ano passado.
“Começámos no ano passado a contar o impacto que a feira estava a ter na captação de investimento e identificámos mais de 100 milhões de euros. É notável para um projeto tão recente”, começa por explicar Ricardo Valente, vereador da CM Porto com o pelouro da economia, à margem da feira, que estabelece o objetivo de superar este montante na edição deste ano.
Os três municípios procuram em Cannes novos investimentos imobiliários, mas que não se cingem apenas à habitação. “Estamos de investimento para habitação, indústria, serviços, saúde, educação, mobilidade, escritórios, logística e hotelaria”, diz o vereador.
O espaço que ocupam neste espaço tem vindo a aumentar, tal o “sucesso” que estão a ter. Em 2019, o Porto veio sozinho com um stand de 45 metros quadrados, e na edição de 2024 são mais de 230 metros quadrados para convencer os maiores investidores do mundo neste setor.
No ano passado, Portugal bateu o recorde de investimento em imobiliário captado. Segundo o Banco de Portugal foram mais de 18 mil milhões de euros vindos de todo o mundo, que correspondem a 12% do total de investimento estrangeiro em Portugal, em 2023. Lisboa centrou as atenções dos investidores, mas os municípios do Porto, Matosinhos e Gaia foram as zonas com maior crescimento, garante Ricardo Valente.
Investimento do Ocidente é o preferido
“Não nos interessa captar todo o tipo de investimento”, começa por explicar Ricardo Valente, salientando as principais nacionalidades de investidores que têm entrado na cidade do Porto. Entre os três maiores estão Alemanha, Reino Unido e França, seguidos de perto pelos Estados Unidos. Em Gaia junta-se também Israel.
“Isso é muito relevante, porque significa que estamos a falar de investimento de países que pertencem ao G7. Estamos a falar de países de primeira linha”, continua o vereador. Já António Miguel Castro, presidente da Gaiurb, salienta que é “importante assegurar um ‘mix’ de investimento e não ter um só foco de investimento”.
Em 2023, contavam-se 3750 empresas estrangeiras com sucursais ou sedeadas no Grande Porto, de acordo com a organização, que trouxeram quase 6000 novos empregos à região que tem cerca de 1,7 milhões de habitantes.
Com os três municípios, acamparam nesta feira 15 empresas, como a Emerge, da Mota-Engil, Grupo Castro, Cilviria, Lionesa Business Hub, IDS Grupo, VPM Real Estate e Garcia – Garcia e a KEO, a única estrangeira (sede no Dubai).
O objetivo dos representantes é estar presente na feira até 2030, sendo que, para já, está assegurada a participação até 2025 – ano de eleições autárquicas. “Governar implica definir objetivos a longo prazo e depois alguém terá que os executar. Temos de ter um horizonte temporal alargado”, comenta Marta Pontes, vereadora da CM de Matosinhos.
Mais 45 mil fogos até 2030
Aos jornalistas presentes no evento, os representantes dos três municípios garantiram que entre 2024 e 2030 têm o objetivo de captar cerca de 10 mil milhões de euros em investimento total, em todos os setores, onde se inclui o imobiliário. E a presença nesta “Liga dos Campeões” do setor, “pode ser fundamental para isso”, diz Pedro Baganha, vereador da CM Porto com o pelouro da habitação.
Neste montante está a expectativa de construir mais de 45 mil fogos no mesmo período para habitação, que junta edifícios novos e reabilitados. Em 2023, Porto, Gaia e Matosinhos foram capazes de juntar mais de 6 mil casas ao parque habitacional total daquela região, tendo crescido 20% face ao ano anterior.
“É inegável o problema que a Europa ocidental enfrenta em termos de habitação”, diz Pedro Baganha, que olha para o aumento de oferta como uma das soluções para arrefecer o mercado. “A captação de investimento é essencial para aumentar a oferta”, acrescentando que a ambição de mais 45 mil fogos é realista, “olhando para o histórico de construção”.
Resolver este problema é uma espécie de “canivete suíço”, “é um exercício de enorme complexidade” que vai para além da oferta e tem um histórico de falhas sucessivas em Portugal, diz.
De acordo com o INE, os preços das vendas de habitações familiares escalaram no Porto (+19,2%), em Matosinhos (+23,2%) e em Gaia (+14,8%) no terceiro trimestre de 2023, em termos homólogos. A média nacional é de 10%.
O jornalista viajou até Cannes, para a MIPIM, a convite do Greater Porto.