Estamos prestes a dar início, especialmente nas regiões vitícolas mais a sul, à tão esperada vindima, onde todo o trabalho de um ano agrícola vai a provas. Todos nós, os que trabalhamos no campo e na adega, sabemos que podemos ter as melhores tecnologias, os melhores enólogos, a melhor das vontades, mas se as uvas não ajudarem, tudo se complica. E depois de um ano tão atípico é inevitável que a questão se levante: o que podemos esperar desta vindima?
Entrámos no ano de 2018 com o pé direito! Depois de um 2017 extremamente seco, a chuva finalmente voltou a encher grande parte das reservas de água e, após três anos em que a quantidade de uvas foi sempre prejudicada por falta de reservas de água no solo, tudo indicava que finalmente podíamos esperar um ano mais generoso para as videiras, o que, aliado a uma boa floração, nos fez calcular um aumento da produção na ordem dos 20%.
Mas, bem diz o ditado que “até ao lavar dos cestos é vindima” e quem anda neste meio sabe isso melhor que ninguém. A primavera húmida fez com que o míldio atacasse algumas vinhas que não foram tratadas a tempo, levando logo aí a uma quebra na produção. No norte, em Maio, Junho e Julho houve perdas significativas com a queda de granizo, ficando algumas vinhas mesmo sem uvas. E, por fim, nos primeiros dias de Agosto, em que uma onda de calor fez com que um terço das estações meteorológicas portuguesas marcassem as temperaturas mais altas de que há registos, muitas foram as vinhas, de norte a sul do país, que ficaram praticamente com toda a produção destruída devido ao “escaldão”, tendo as vinhas novas e com cachos expostos sido as mais afetadas. Contrariamente às expectativas iniciais, todos estes desenvolvimentos nos levam a entrar nesta vindima com a certeza que iremos ter novamente uma colheita curta em quantidade.
Contudo, se uma colheita curta é certa, no que toca à qualidade das uvas ainda é cedo para falar, já que as vinhas que foram atempadamente protegidas contra míldios e oídios, que conseguiram proteger os cachos das temperaturas altas e que não foram destroçadas pelo granizo, têm tudo para nos oferecer uvas sãs e de qualidade. Mais ainda, o timing da vindima aparenta ter voltado ao “normal” – depois de três anos seguidos com vindimas antecipadas, 2018 parece querer fazer tudo com tempo e calma. Os meses de Junho e Julho foram frescos, e mesmo Agosto, sem contar com aqueles dias infernais, também não tem sido especialmente quente, o que tem ajudado a uma maturação lenta das uvas, ideal para uma boa maturação fenólica destas. Basta agora esperar que Setembro e Outubro não nos castiguem com chuvas, e podemos afirmar que de 2018 ainda podem resultar vinhos extraordinários.