No último ano produzimos 350 milhões de toneladas de plástico. Mais do que no ano anterior, em que já tínhamos produzido mais do que no precedente… O problema está longe de estar resolvido e a razão, explica a cientista canadiana Miranda Wang, é sempre a mesma: “O plástico é mais barato e funciona melhor do que as alternativas.” Dá o exemplo de uma fralda, na qual os hidrogéis utilizados conseguem absorver até 300 vezes o seu peso: “Não há nada no mundo natural que se compare, mas estes hidrogéis não são biodegradáveis, pior, são tóxicos e esse é o problema com os produtos sintéticos: aquilo que os faz realmente bons é, geralmente, aquilo que os faz tão prejudiciais também.”
Assim, a esmagadora maioria dessas toneladas acabará no lixo, em aterros e, eventualmente, nos rios e oceanos, nunca chegando a ser reciclada – porque menos de 10% dos plásticos o são. Mas em breve esta realidade poderá mudar, graças – em parte – a esta jovem de apenas 26 anos que descobriu uma forma de transformar os plásticos que hoje não são reciclados nos mesmos compostos químicos que servem de base à produção de novos plásticos, num exemplo perfeito de economia circular.
“Estamos a trabalhar com polietileno (PE). É o plástico mais simples de todos, mas corresponde a um terço do total produzido. É também aquele que tem as taxas de reciclagem mais baixas, até por serem artigos (sacos e embrulhos a nível industrial) que, por princípio, não compensa reciclar. Mas, com o nosso processo, o tipo de produto torna-se indiferente, porque a estrutura química é a mesma e o que vamos fazer é desfazê-los a um nível molecular.” Produzindo assim a matéria-prima que pode dar origem a novos plásticos, em vez de a ir buscar aos derivados de petróleo, como agora.
O plano será conseguir reciclar centenas de toneladas por ano, já a partir de 2023, eliminando também mais de 4 500 toneladas de emissões de CO2 que seriam lançadas na atmosfera ao produzir novos plásticos.
O método está dominado a nível laboratorial, estando neste momento em processo de industrialização, por forma a torná-lo uma solução viável: “Trabalhamos com várias marcas que estão a testar o nosso material reciclado e a produzir novas peças. Contamos, no próximo ano, anunciar algumas dessas colaborações.”
Miranda Wang fundou, juntamente com a sócia, amiga de liceu e colega de universidade, Jeanny Yao, a startup BioCellection na Califórnia. Despertaram ambas para este problema ao mesmo tempo, durante uma visita de liceu a uma estação de reciclagem, e desde então que são as melhores parceiras no crime: “A Jeanny é uma pessoa incrivelmente prática e persistente, com um coração enorme. Já eu tenho mais tendência para um pensamento conceptual, e para descobrir as ligações improváveis. Complementamo-nos muito bem, e por isso é tão fácil trabalharmos juntas.”
O mundo parece acreditar nas suas possibilidades, como provam os prémios Young Champion of the Earth Award, das Nações Unidas, o Pritzker Environamental Genius Award e, mais recentemente, o Rolex Award for Enterprise. O seu trabalho captou a atenção das grandes empresas do ramo, mas Miranda não coloca grande fé nestes gigantes: “Não acredito que as empresas químicas estejam interessadas em mudar muita coisa. Estão preocupadas com o ambiente, naturalmente, mas mais em tentar mitigar os seus problemas. São empresas cotadas, com dividendos a distribuir pelos acionistas que não estão dispostos a fazer este tipo de investimentos a longo prazo. Isso não acontece numa startup como a nossa. Este é o nosso único produto, queremos que seja um sucesso.”
(Créditos das Fotos: Bart Michiels /Rolex)
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