“É uma atrocidade contra o planeta e contra a espécie humana”

Foto: José Carlos Carvalho

“É uma atrocidade contra o planeta e contra a espécie humana”

É impossível ignorar a baleia na sala, até porque se trata de um esqueleto com dez metros de comprimento, feito exclusivamente de plásticos brancos apanhados na praia. Uma peça de “artivismo” apontada ao problema do plástico nos oceanos que, apesar de todas as campanhas, continua a crescer à razão de mil toneladas por hora, o equivalente a um camião TIR cheio de plástico por minuto. Todos os minutos. “Uma atrocidade contra o planeta e contra a espécie humana”, comenta à VISÃO Ana Pêgo, bióloga marinha e coautora desta Baelena Plasticus que, depois de cumprido o trabalho em muitas exposições, repousa agora no quintal desta investigadora e educadora extraordinária: “Gosto muito de misturar ciência, arte e biologia para tentar fazer com que as pessoas conheçam e gostem dos oceanos, porque só assim vão estar predispostas a protegê-los.”

Nascida e criada junto à Praia das Avencas, na Parede, estudou Biologia Marinha na Universidade do Algarve e trabalhou dez anos como investigadora no Laboratório Marítimo da Guia, em Cascais, antes de enveredar por esta área da Educação Ambiental.

Ana Pêgo admite que despertou para o problema dos plásticos por volta de 2011: “O plástico já ali estava, mesmo à minha frente, só nunca tinha feito esse clique.” Mas desde então que se dedica de corpo e alma a esta luta: “Comecei a limpar a praia compulsivamente. Chegava a ir de noite, e a minha família já se interrogava se eu não teria enlouquecido.” Era uma luta naturalmente inglória, e o entusiasmo acabou por dar lugar à angústia e à indignação: “Como era possível que mais ninguém estivesse preocupado com este problema?!”, perguntava-se. “Claro que havia quem estivesse, como a professora Paula Sobral (presidente da Associação Portuguesa do Lixo Marinho, já aqui entrevistada), e outros que também apanhavam lixo na praia. Mas éramos muito poucos, e nem sequer estávamos ligados.”

Começou então a descobrir grupos que faziam esse trabalho no resto da Europa, sendo que muitos “não se limitavam a apanhar o lixo. Traçavam-lhe a origem, as rotas, emitiam alertas quando as mesmas peças surgiam em pontos diferentes, sinal de que tinham caído contentores em alto-mar”, ideia que apelou à sua formação científica. “Percebi que o lixo tinha uma história para contar, que podia ser catalogado, e foi assim que a angústia deu lugar à determinação e desta nasceu, em 2015, a página Plasticus Maritimus, no Facebook.

O plástico nos mares continua a crescer à razão de mil toneladas por hora, o equivalente a um camião TIR cheio de plástico por minuto

Dava assim início ao trabalho de identificação de exemplares desta terrível espécie invasora, provenientes dos EUA, do Canadá, e de todo o mundo, mas muitos também de Portugal, onde tem algumas irritações de estimação, como é o caso das placas de Alerta de Arriba em Perigo, colocadas pela própria Agência Portuguesa do Ambiente (APA). “Essas placas são de plástico, e quando chega o mau tempo caem e partem-se. Já foram alertados várias vezes, por mim e por outras organizações, e nada mudou. A APA já deveria ter percebido que não pode continuar a fazer sinaléticas em plástico.”

Ana Pêgo, bióloga marinha e educadora ambiental portuguesa, criadora do termo da espécie invasora que classifica como Plasticus Maritimus. Foto: José Carlos Carvalho

Plasticus Maritimus foi também o nome escolhido para o belíssimo livro editado pela Planeta Tangerina em 2018, cujo impacto ultrapassou as nossas fronteiras. Traduzido em dez línguas, chegou longe, a países como a Coreia do Sul e, brevemente, a China. O livro contém muita informação sobre a relação entre o plástico e os oceanos, descrita de uma forma lúdica, e inclui até um guia para preparar idas à praia, com o objetivo de colecionar e analisar exemplares desta espécie. Tornou-se, aliás, uma das ferramentas preferidas de professores e alunos para abordarem o tema nas escolas, ao ponto de Ana ter conhecido em Coimbra dois irmãos gémeos que sabiam de cor várias frases do livro. Mas o melhor estava guardado para o fim, quando uma das crianças lhe disse que tinha dois ídolos no mundo: “Eu e a Greta Thunberg. Até fiquei sem jeito. Elevou-me a um patamar muito alto.”

Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a Rolex, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar voz a pessoas e a organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis. Saiba mais sobre esta missão comum.

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