O primeiro painel da terceira edição das ESG Talks, que ocorreu a 23 de maio no Algarve, teve como convidados Ana Paula Pais – diretora e coordenadora da área de formação do Turismo de Portugal – e Carlos Leal – CEO da United Investments Portugal – que refletiram sobre o tema “Atrair e reter talento no motor da economia portuguesa”. O painel contou com a moderação de Tiago Freire, diretor da Exame.
Questionada sobre os desafios atuais do turismo atual, Ana Paula Pais abordou o estado atual do setor e avanços que têm sido feitos. “Portugal tem as melhores infraestruturas de turismo que existem. Temos o desafio da atração do talento, muito grande para quem trabalha no setor, mas também para nós. A nossa missão [do Turismo Portugal] é estar ao serviço dessas empresas e pessoas para que possam ter o melhor enquadramento possível nesta atividade profissional”, contou. A convidada referiu ainda que a organização tem procurado atuar em três áreas chave que passam pela captação de talento internacional, captação de talento nos setores mais jovens e pela retenção de talento.
A captação dos mais jovens para esta atividade profissional é um dos grandes focos de ação e desafios que o setor atravessa atualmente. “O setor tem características que não são atrativas por ser um setor difícil e de trabalho intensivo e onde existe uma perceção que não corresponde à realidade. Temos de trabalhar na perceção que os jovens portugueses têm sobre o turismo”, explicou Pais.
Esta é a terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo Novo Banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC.
No arranque, ainda antes da discussão, foi a vez de Hugo Coelho, Diretor Coordenador do Departamento Empresas Sul do novobanco, dar o tom daquilo que o setor financeiro tem de fazer nesta área. Para o responsável, a banca está e continuará a estar disponível para financiar o setor turístico, até pelo peso que tem na economia nacional. Mas alertou que a opção por projetos com uma componente sustentável marcada e comprovada trará vantagens imediatas e financeiras, uma vez que o próprio custo do financiamento terá de levar em linha de conta o impacto dos investimentos em causa.
Já para Carlos Leal, CEO da United Investments Portugal e segundo convidado do painel ligado ao talento, o maior desafio que o setor enfrenta centra-se na escassez de mão de obra no País. “A indústria perdeu muita gente no pós-Covid, que foi para outras indústrias e isso causou uma escassez. Havia escassez antes, mas não ao nível que é hoje. Também temos de ter apoio, o nosso grupo [United Investments] tem vindo a ter várias iniciativas para atrair mão de obra internacional, temos empreendimentos em vários países, onde é contraciclo. Torna-se muito difícil de conseguir competir e reter bom talento, especialmente quando se trabalha com marcas internacionais”, explicou.
Para os convidados, a transição digital é também uma das questões que se impõem na continuidade do setor. “Há outra componente, a questão da tecnologia e a substituição das funções que são mais facilmente industrializadas ou automatizáveis e, portanto, temos de acelerar a transição digital para que os recursos humanos fiquem para as tarefas que não podem ser feitas de forma automática. E isto leva a outro desafio: nós não somos um país de formação dual. Vamos ter de repensar o nosso sistema de formação profissional de apoio ao setor”, explicou Pais.
Já durante as suas conclusões, Carlos Leal sublinhou a importância de se criarem condições que permitam o crescimento do setor. Para o empresário, Portugal tem problemas de logística que devem ser resolvidos o mais rapidamente possível – referindo-se às capacidades atuais do aeroporto de Lisboa – de forma a possibilitar a entrada de mais turismo no País. “Se não criarmos condições para as pessoas virem e para os turistas virem não crescemos nada. O grande problema que Portugal tem em termos de crescimento, acima da falta de mão de obra, é a logística. Se nós não levarmos a sério a questão da logística e de como é que trazemos para cá os clientes, isso é um ‘bottleneck’. Podemos formar quem quisermos, mas se o cliente não vem, então é um ‘game over’”, concluiu Leal.
A abertura da sessão ficou a cargo do anfitrião e também parceiro nesta iniciativa, na figura de Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, que salientou o valor que significa para a região caminhar para um turismo cada vez mais sustentável.