Há mais de um século, pelo menos desde os Vencidos da Vida, que nos habituámos a dizer que determinadas coisas só acontecem em Portugal – como se fossem exclusivas do modo de ser português, como se estivessem cravadas no nosso ADN, como se fossem absolutamente únicas e irrepetíveis noutras zonas do mundo, noutros países. “Isto só mesmo em Portugal…”
Esta perceção resultará, em grande parte, do nosso isolamento sociocultural e da posição geográfica de Portugal face ao restante continente europeu e, noutra parte igualmente relevante, da nossa tendência para o masoquismo. Nos ensaios de Eduardo Lourenço, aprende-se muito sobre esse estranho modo de ser português, sempre a meio caminho entre a autodepreciação ilimitada e a autoconfiança desmesurada, como se oscilássemos entre o trágico naufrágio de Camões e as grandezas revestidas a ouro de D. João V. Num ápice, seguimos da euforia à depressão, do on ao off, do up ao down, na linguagem moderna da tecnologia. O mais certo é mesmo a moderação e o meio-termo terem pouco a ver connosco. (Nunca os li, mas acredito que os manuais de psiquiatria também devem dizer mais qualquer coisa sobre o assunto…)