Os opositores na Índia, o líder supremo do Irão, a conta da embaixada da China nos EUA, os antigos chefes das FARC, na Colômbia, outra série de contas associadas ao governo na Venezuela, uma congressista americana conotada com a extrema-direita, entre outras 70 mil presenças ligadas ao movimento QAnon – depois, claro, do próprio Donald Trump, no momento em que era acusado de insurreição e incitação à violência. As suspensões de contas no Twitter têm, neste início de 2021, marcado regularmente a atividade daquela rede social. No final da semana passada, noticiou-se a suspensão da jovem autora do discurso antissemita feito em Madrid, Espanha; agora o alvo foi a página de memes portuguesa conhecida como Insónias em Carvão.
Trata-se de uma conta famosa por apresentar caricaturas várias, particularmente de figuras ligadas ao mundo do futebol. Os seus mais de cem mil seguidores fizeram do seu autor uma espécie de rei da manipulação visual que procura criar comédia com a atualidade, no ar desde que, em 2013, nas vésperas de ser pai, transformou as suas noites mal dormidas em desenhos em carvão sob fotografias da atualidade. Da ideia ao Facebook foi um passo, até que chegou ao Instagram e ao Twitter. Agora, só encontramos uma página de backup que o autor fez, entretanto: “Só naquela…”.
Direitos de autor e teorias da conspiração
“Nem sei o que aconteceu”, conta Luís Rodrigues, de 41 anos, e autor da página em causa. “Há uma semana, recebi um aviso sobre um tweet com três anos, que já nem aparece na totalidade. Sei que era sobre Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, e que era acompanhada de uma música qualquer, que devia ter direitos de autor”.
Mas se é certo que o bloqueio com que se deparou se deverá a uma denúncia, a razão para tal permanece oculta. “Uns dizem que foi o PS, outros que foi o Luís Filipe Vieira…”, prossegue, “mas eu passo a vida a gozar com os mais diversos momentos, é o que eu faço. É verdade que ontem foi um dia mau para o Benfica, mas mesmo assim.…”, desabafa, antes de rematar que também já lhe garantiram que “foi o Chega”. “Enfim, há toda uma série de teorias da conspiração”.
“Fiquem lá com Olivença!”
Não é a primeira vez, diga-se ainda, que o Twitter bloqueia a conta a Luís Rodrigues, que agora se dedica em exclusivo aos memes do Insónias em Carvão, depois de anos na equipa de guionistas da produtora televisiva Plural e de ter colaborado com o programa Gente Que Não Sabe Estar, a convite de Ricardo Araújo Pereira. Há dois anos, no fim do verão, o mesmo Insónias em Carvão foi suspenso por violação de direitos de autor – uma das razões apontada pela rede para ter a conta bloqueada – por causa do uso de uma música a acompanhar o meme. Tal como acontece agora, seguiram-se uma série de piadas sobre a suspensão, e até o próprio Insónias entrou na brincadeira, criando uma página chamada “Insónias de Castigo” – a mesma que agora chamou de “Insónias de Backup, só naquela, nunca se sabe”.
Sem saber a razão para ter a sua página oficial bloqueada, seguiu-se o apelo ao Twitter em Espanha, onde é feita a gestão daquela rede social na Península Ibérica, o que explica tweets como “Puedes ficar com Olivença!”.
“É que nem dizem quanto tempo estará assim…”, desabafa Luís, que voltou a provocar todo um rol de tweets naquela rede. Enquanto se aguarda que a conta volte a estar disponível, um dos hashtags do dia é #freeInsoniasEmCarvao e a adesão à página de substituição conta o resto: de manhã, tinha 10 mil seguidores; a meio da tarde, já eram mais de 16 mil.