A universidade britânica de East Anglia conduziu um estudo que detetou uma maior incidência de casos de demência nos pacientes a quem foram prescritas grandes quantidades de alguns tipos específicos de anticolinérgicos, medicamentos usados no tratamento da depressão, da doença de Alzheimer e de problemas na bexiga.
Em Inglaterra, país onde foi desenvolvido o estudo, estima-se que 1,5 a 2 milhões de pessoas tomem este tipo de medicamentos.
Os especialistas alertam os pacientes para não deixarem de tomar os anticolinérgicos abruptamente, já que os riscos podem ser muito inferiores aos seus benefícios. E esclarecem que o estudo não encontrou qualquer problema associado ao consumo de anticolinérgicos usados no tratamento da febre, enjoos ou dores de estômago.
A investigação, publicada no British Medical Journal, analisou os registos médicos de 40 770 pacientes, com idades entre os 65 e os 99 anos, diagnosticados com demência, entre julho de 2015 e abril de 2016. Os resultados foram, depois, comparados aos de 283 933 pessoas sem demência. Ao todo, analisaram-se mais de 27 milhões de prescrições.
À BBC, o médico e professor Ian Maidment, da Universidade de Aston, recomendou aos doentes que não parassem de tomar a medicação e aconselhou-os a agendarem uma consulta com o seu médico para esclarecerem quaisquer dúvidas.
“Deixar de tomar medicação prescrita pode ter sérias consequências”, disse o médico ao canal público britânico. “Abandonar os antidepressivos representa um perigo elevado, que pode pôr a vida das pessoas em risco, é essencial equilibrar os riscos e benefícios dos medicamentos”, acrescentou.
O presidente da organização Alzheimer Society, que também financiou o estudo, considera o risco de desenvolver demência devido a um estilo de vida pouco saudável muito superior ao risco associado ao consumo destes medicamentos. “Não sabemos exatamente quem tem uma probabilidade acrescida de desenvolver a doença ou não”, explicou James Pickett.
O professor da Universidade de College London Rob Howard considera a hipótese de “algumas destas drogas serem usadas precisamente para tratar sintomas iniciais de demência, ainda antes do seu diagnóstico, que incluem depressão e infeções urinárias”, ou seja, doenças que podem ser tratadas com anticolinérgicos, o que poderia justificar a associação entre a sua prescrição e a incidência de demência.