Filipe Araújo, um dos braços direitos de Rui Moreira no executivo autárquico portuense, assumiu recentemente a liderança da associação cívica Porto, o Nosso Movimento. Este pode ter sido o primeiro passo para que venha a ser o novo candidato independente à Câmara do Porto nas eleições de 2025, dando assim continuidade aos três mandatos consecutivos
“Se me pergunta se eu gostaria, acho que seria sempre uma enorme honra, para qualquer portuense que ama a cidade como eu, ser presidente da câmara”. Foi assim que Filipe Araújo respondeu, pondo fim a uma sequência de perguntas que tinham por objetivo saber se iria ou não candidatar-se à presidência da Câmara do Porto. Para já, vai protagonizar a continuidade dessas ideias, não deixando morrer o movimento de independentes que foi sendo responsável pela eleição de Rui Moreira por três mandatos consecutivos e que conta com cerca de “400 associados”.
Conhecido por ser “o delfim” de Rui Moreira, Filipe Araújo, 46 anos, engenheiro eletrotécnico, tem quase três anos para testar o seu potencial eleitorado e tornar-se um rosto mais conhecido da cidade. “Vão ser anos importantes para dar notoriedade a um trabalho feito e que aponta para um futuro promissor da cidade”, diz, a mais um episódio do Irrevogável, o programa de entrevistas políticas da VISÃO.
Depois de ter sido militante da JSD e de ter tido mesmo alguns cargos nas estruturas locais do PSD, Filipe Araújo acabou por romper a sua carreira partidária quando Luis Filipe Menezes deixa a autarquia de Gaia e se candidata ao Porto, nas eleições de 2013, o primeiro ano da vitória de Rui Moreira.
“Quando percebi que havia propostas para a cidade, nomeadamente do PSD, com as quais eu não me identificava, obviamente tentei dizer que isso não era o caminho certo. A partir do momento que percebi que era esse o caminho que o partido queria seguir, achei, como cidadão livre, que podia estar a trabalhar noutra solução em prol da cidade”, conta. É então que adere à candidatura independente de Rui Moreira. “Estou absolutamente convicto que tomei a decisão certa. Este movimento em que poucos acreditavam em 2013 veio a ter uma vitoria histórica”.
Filipe Araújo, antes deputado na assembleia municipal, torna-se vereador da equipa de Rui Moreira, acumulando os pelouros da Inovação e Transição Digital e do Ambiente e Transição Climática. Em 2017, o autarca do Porto dá-lhe o segundo lugar na equipa, entregando-lhe a vice-presidência. Para Filipe Araújo, é “um orgulho” merecer esta confiança e “uma honra” servir a cidade.
Agora, a pouco menos de três anos de umas eleições a que Rui Moreira já não se pode candidatar por ter atingido o limite de três mandatos consecutivos, Filipe Araújo assume a liderança do movimento independente que tinha Rui Moreira como “cola, para que ele não se extinga. “Este é um caminho importante para o movimento, que quer continuar a dar força àquilo que é o legado que se foi construindo. Há um grande trabalho feito desde 2013 para cá”, diz. “É um movimento livre, sem amarras ideológicas, que quer continuar a ser uma plataforma forte de discussão e participação e trabalhar as melhores ideias.”
Há futuro para um movimento destes sem Rui Moreira? “A minha missão é assegurar que o Porto vai continuar a ser gerido de forma livre e independente, que a gestão seja feito sem amarras ideológicas, sem diretórios partidários que imponham outra visão. Foi o que me motivou a apresentar propostas de continuidade aos portuenses”.
E diz mais: “Queremos evitar que haja ímpetos populistas ou pseudorreformistas, aqueles que normalmente querem fazer a diferença pela diferença. O que está em causa é um movimento de continuidade e que, em 2025, haja uma proposta de futuro para a cidade, que deve garantir esta estabilidade e continuidade”.
Partidos e Independentes
Filipe Araújo não se quis pronunciar acerca do recente abandono do Movimento, por parte de Ricardo Valente, vereador da Economia e Finanças, que no último ano aderiu à Iniciativa Liberal (partido que apoiou a última eleição de Rui Moreira). O Porto, o Nosso Movimento, reúne, aliás, gente do PSD – como o barão do Norte, Valente de Oliveira, que agora deixou de ter cargos sociais – e pessoas da IL e do CDS. “O movimento de cidadãos agrupa pessoas com vários espectros ideológicos, mas isso não nos separa. O que nos une é a ligação à cidade”, frisa Filipe Araújo.
Considerando que os partidos “são essenciais à democracia”, Filipe Araújo acha que muitas vezes estes falham por se focarem mais nos seus próprios interesses do que nos problemas dos cidadãos. Aponta o exemplo da liderança de Luisa Salgueiro (PS) na Associação de Municípios aquando da transferência de competências na educação do Estado Central para o poder local e que levou à saída da Câmara do Porto.
“Temos de dar murros na mesa sempre que vemos que o Porto não está a ser defendido. E não é uma questão de levantar a voz sem ter razão, é uma questão de defender as pessoas e o Porto. Sempre que for preciso mostrar a nossa indignação, temos de o fazer”, adianta. “Os movimentos cívicos conseguem trazer à cena política o que é a vontade dos cidadãos e que muitas vezes não está alinhada com os diretórios partidários.”
No seu entender, “apresentar, em 2013, uma estratégia diferente das que estavam em cima da mesa”, algo mais “focado” nos problemas do Porto, “foi um momento transformador”. Porque “há sempre a tentação de os partidos apresentarem candidatos com grande notoriedade, mas que não conhecem o Porto”. E “é preciso calcorrear as ruas do Porto” para conhecer “os problemas dos cidadãos” e “não ter medo de os trazer para a praça pública”.
Filipe Araújo diz ainda que trabalhar com Rui Moreira nestes 10 anos, foi “uma aprendizagem contínua”, por se tratar de alguém “muito perspicaz”, que “faz uma leitura muito rápida das situações, uma leitura política e dos seus contextos muito clara”. E isto foi algo que foi aprendendo com ele. “É importante, porque todas as decisões que tomamos com políticos têm um contexto”.
Venha a regionalização sem referendo
Depois de passar em revista os problemas centrais da cidade, como a habitação ou a droga, a regionalização foi também tema em destaque.
“Estou absolutamente convicto de que o desenvolvimento assimétrico e a falta de coesão territorial que o país tem está muito associado a não termos cumprido o que está na constituição, que é a regionalização. O poder de decisão está muito centralizado, não só nos ministérios, mas também nas direções regionais, na subalternização das direções regionais face ao diretório de Lisboa”, considera.
Critica o facto de o PRR ser “completamente centralizado em Lisboa, sem a participação das regiões e dos municípios”, o que “não faz qualquer sentido”. E nem os recentes alegados casos de corrupção autárquica, como o de Espinho ou Caminha, o demovem da ideia de que o poder municipal é mais capaz de resolver os problemas dos cidadãos. O resto, “é olhar para a árvore sem ver a floresta”.
“Sabemos que a regionalização está encravado num putativo referendo que terá de ser feito, algo que veio adiar a regionalização que já deveríamos ter tido. É um processo dilatório”, conclui.
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