“O governo mais radicalizado desde 1976”. Foi assim que Paulo Portas descreveu, este domingo, durante a convenção da Aliança Democrática (AD), uma eventual vitória do PS nas eleições de 10 de março, sem maioria absoluta, da qual sairia uma nova aliança com o PCP e o Bloco de Esquerda ou, como o antigo presidente do CDS/PP denominou, uma “geringonça 2.0”.
No discurso no Centro de Congressos do Estoril, Paulo Portas recuperou o espírito da capa da revista TIME de 1975, na qual Portugal – com Vasco Gonçalves, Costa Gomes e Otelo Saraiva de Carvalho – foi descrito como uma “ameaça vermelha”. Quase 50 anos depois, o antigo presidente do CDS/PP alertou para o mesmo “perigo”, dizendo que, desta vez, o BE o o PCP estarão “sentados no Conselho de Ministros”, considerando que os dois partidos “estão em rota de colisão” com as alianças internacionais de Portugal, como a NATO, o que vai “gerar desconfiança”.
“Fica bastante claro o que está em causa: ou a AD ganha, ou o que teremos é uma repetição da ‘geringonça’ com um primeiro-ministro inexperiente e com o BE e o PCP sentados no Conselho de Ministros. Seria o governo mais radicalizado desde 1976”, declarou Portas perante os militantes dos partidos que compõem a AD.
Nunca nomeando o Chega, Portas recordou o exemplo do Brexit, a invasão do Capitólio, nos EUA, ou a liderança de Jair Bolsonaro, no Brasil. “Não somos pela desordem. Não somos pela insurreição. Somos pelas reformas e pela estabilidade”.
Numa espécie de cartilha para os atuais líderes do PSD e CDS/PP – Luís Montenegro e Nuno Melo -, Paulo Portas instou-os, por um lado, a colocar na agenda quatro discussões: “A nossa demografia, a nossa produtividade, a nossa inovação e a nossa poupança”. “Sem mudarmos com muita competência a nossa balança demográfica teremos um problema nos nossos sistemas sociais. O aumento da nossa produtividade é a condição virtuosa para se poder fazer um aumento de rendimentos constante. Portugal foi ultrapassado em matéria de nível de pesquisa e desenvolvimento no seu PIB. Finalmente, a poupança: sem poupança não há investimento”, referiu.
Portas apresentou ainda um roteiro para a campanha da AD: “Estamos melhor ou pior do que há dois anos quando o PS recebeu a sua maioria absoluta? Está pior a saúde, a educação, a habitação, a carga fiscal, a segurança, a execução dos fundos e a contingência com que temos de executar o PRR”, disse, apontando a Luís Montenegro e a Nuno Melo a fórmula para a campanha eleitoral: colar o atual secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, a todas as decisões em áreas críticas, como a Educação, Saúde, impostos, habitação. “Pedro Nuno Santos leu, viu, concordou”, disse.
“O PS quer vender a imagem de Pedro Nuno Santos como o político que decide. Decidir bem é muito mais importante do que decidir mal. Se como ministro revelou tantas vezes impulsividade, o que seria como primeiro-ministro. Um político que revela tanta leviandade e tanta amnésia não é o mais qualificado para chefiar o Governo de Portugal”.
“A 10 de março, a AD deve vencer, deve vencer com margem, o PS deve ir para a oposição, será bom para Portugal e para o próprio PS ter uma cura de oposição. Portugal deve ter um novo governo e esse governo deve ser um governo de mudança”, apelou.
No entanto, o atual comentador televisivo avisou que “a eleição ainda não está decidida”, considerando que há uma enorme franja de eleitores indecisos a quem a AD deve prestar especial atenção: “A meu ver, a principal missão da AD até 10 de março é dar garantias a quem ainda tenha receios, substituir o ressentimento e desesperança por dar uma oportunidade à mudança e não deixar prevalecer a resignação com o que temos e que não é bom”, disse.