Faltam 283 dias para Portugal receber a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). E – apesar de a esta distância temporal serem mais as perguntas que ficam sem resposta do Comité organizador da JMJ Lisboa 2023 sobre os contornos do acontecimento do que as que são esclarecidas -, a equipa anunciou, nesta sexta-feira, durante a primeira sessão de apresentação aos jornalistas, uma parceria com a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima).
D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, coordenador da comissão de proteção de menores do Patriarcado de Lisboa e presidente da Fundação JMJ argumentou que esta colaboração tem como objetivo “diminuir a possibilidade de acontecer alguma coisa negativa” durante a reunião de milhares de jovens de todo o mundo e que contará com a presença do papa Francisco – sem rejeitar a relação de causalidade entre as medidas estudadas e as denuncias de abusos sexuais que têm deixado a igreja católica portuguesa debaixo de fogo.
Por recomendação da APAV, todos os envolvidos na organização do evento vão ter de apresentar o seu registo criminal e os peregrinos inscritos no encontro alojados em casas particulares terão de ficar, no mínimo, dois a dois – nunca sozinhos. Estas foram, para já, as indicações tornadas públicas pela organização, em resposta às perguntas dos jornalistas, na sede da Fundação das JMJ, no Beato, Lisboa, mas haverá outras em estudo.
D. Américo Aguiar admitiu que o momento por que a igreja católica portuguesa passa é delicado e tem “gerado preocupações” também na organização das Jornadas, até porque, admite, Portugal começou a investigar as denuncias de abusos mais tarde que outros países. Todavia, prefere concentrar-se na resposta que está a ser dada, sublinhando a importância do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que já recebeu, pelo menos, 424 testemunhos.
“Temos consciência do sofrimento” das vítimas e esta é “uma ferida aberta”, disse o responsável pelo encontro de jovens, que acontecerá entre 1 e 6 de agosto no Parque das Nações. Mas “é importante estarmos a passar agora por este processo da forma mais transparente possível”, “é muito positivo o que a igreja está a fazer” e “nada nos pode parar”. Por isso, acrescenta, há que “separar as águas”.
Além das conversações com a APAV, a organização está a trabalhar com o Governo, encarregue de criar os planos de segurança e de mobilidade, sendo a interlocutora a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes. Têm parcerias também com as autarquias visadas, como a de Lisboa e a de Loures e com a Associação Nacional de Municípios Portugueses, uma vez que na semana anterior às Jornadas chegarão a Portugal milhares de jovens para serem distribuídos pelas dioceses de todo o território nacional onde participarão em atividades religiosas e culturais.
“Ninguém paga para ver o papa”
Outra das questões suscitadas durante a apresentação foi o dinheiro pago pelos jovens que se vão inscrever nas JMJ. O valor pode ir de 50 a 235 euros (sem contar com a viagem para Portugal). D. Américo Aguiar nega qualquer tentativa de angariação de dinheiro, argumentando que os pacotes de inscrição servem apenas como forma de controlar o fluxo de participantes para efeitos logísticos e de segurança.
Inscrição no encontro pode ir até aos 245 euros. Voluntários também pagam
Mesmo os voluntários – que a organização estima que sejam entre 20 e 30 mil só na semana do evento – terão de pagar 145 euros, “uma contribuição para a jornada e uma forma de controlar o compromisso” destes, explica o bispo auxiliar.
Os preços variam consoante os pacotes escolhidos, que podem incluir alojamento, alimentação, transportes dentro do país e um kit de participação. Mas, em última análise, quem quiser aparecer no recinto (o Parque Tejo, nas margens do rio Trancão) sem fazer a inscrição pode fazê-lo: “ninguém paga para ver o papa”, refere o responsável. “Paga quem quer que a organização lhe trate da logística”.
A verdade é que isto pode não ser assim tão taxativo. Cerca de uma hora volvida desde que proferiu esta frase, D. Américo Aguiar admitia também que o recinto será organizado por zonas e que a preocupação da organização “é primeiro com as pessoas que se inscreveram”. Estas ficarão numa “zona A”. Os restantes distribuem-se por outros espaços e… “dificilmente conseguirão ter vista para o papa”, a não ser através dos ecrãs gigantes distribuídos pelo recinto.
Como ainda não se encontram abertas as inscrições, a organização tem dificuldade em estimar números de participantes. Mesmo assim, acreditam que chegarão pelo menos um milhão de jovens para participar nas JMJ, que, em Portugal, vão sofrer ainda uma inovação a nível de conteúdo. O momento das tradicionais catequeses deverá ser substituído por fóruns temáticos, onde se espera que os jovens apresentem e debatam ideias sobre assuntos da atualidade, como as alterações climáticas, tendo em vista a criação de propostas para serem entregues ao Vaticano.