Subiu ao púlpito sob a famosa ária de Puccini, “Nessum dorma” [“Ninguém durma”], com os versos “Vincerò! Vincerò!” [“Vencerei! Vencerei!”] a serem debitados no Portimão Arena, e a mensagem de Costa foi clara: o Governo demonstrou que há cinco lições a tirar do último ano de pandemia – entre as quais, a importância do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o seu reforço -, em que o PS conseguiu fazer face “a momentos terríveis”; agora, é altura de os autarcas socialistas aproveitarem o capital adquirido e vencer as eleições.
Houve ainda tempo para piscar o olho ao populismo de direita, lembrando que o combate à corrupção teve pelas mãos do Executivo o seu melhor exemplo; de defender alguns dos ministros que mais expostos às críticas têm estado, como Eduardo Cabrita; e mostrar disponibilidade para responder às exigências da esquerda, sobre o reforço dos direitos laborais.
Contra as “contas de tasquinha”
Primeiro, falou para fora. O Governo comprovou, desde março de 2020, que o SNS era imprescindível em momentos de aflição como os que se viveram durante os picos das ondas pandémicas. “Depois de anos de campanha contra o SNS, quando as coisas apertaram à séria, foi mesmo o SNS que deu a resposta às portuguesas e portugueses”, disse, destacando que “só no ano passado o SNS foi reforçado mais do que nos quatro anos da legislatura anterior”. Tais palavras arrancaram aplausos, inclusive de e para Marta Temido, que integrou – a convite do presidente do PS, Carlos César – a mesa do congresso.
Costa frisou que o Governo poderia ter ido pelo caminho seguido pelo Governo de Passos Coelho, numa aposta de cortes e diminuição de direitos. Mas não: “ao contrário do que a Direita pensa, não é cortando nos rendimentos que damos confiança em quem quer investir”, ao ponto de Portugal estar a “crescer acima da Zona Euro e da União Europeia”.
“Às crises responde-se com solidariedade e não com austeridade”, apontou, dando como exemplo a prontidão com que a Segurança Social agiu. “Convém nunca esquecer: hoje, não podemos andar a fazer contas de tasquinhas para não fazer as despesas que devemos fazer para salvar e salvaguardar o serviço público e as empresas”, acrescentou, elogiando a atuação da União Europeia – liderada por “uma direita”, de Ursula von der Leyen, que deu lições à direita portuguesa -, principalmente nos seis meses em que Portugal dirigiu os destinos dos 27 Estados-membros.
Enfrentar temas sensíveis
Logo após ter assegurado que os trabalhadores da Cultura irão ser “tratados como merecem”, até por terem sido dos profissionais mais atingidos pela crise pandémica, Costa pegou numa das bandeiras mais acenadas à direita, a corrupção, e apropriou-a para o PS. “Enquanto a pandemia decorria, aprovámos uma estratégia contra a corrupção”, que está em discussão no Parlamento, argumentou. “Vamos continuar a combater essa chaga da corrupção”, reforçou.
Mais uma vez, e já depois de arrancar aplausos para Temido e até para Pedro Nuno Santos – “fomos capazes de não hesitar em salvar empresas como a TAP” -, houve espaço para defender aquele que é apontado nas recentes sondagens como o ministro mais impopular do Governo. Sem falar no nome de Eduardo Cabrita, Costa disse que “passámos de 18º lugar entre os países mais seguros do mundo, em 2014, para 4º lugar, em 2021” e que “nos últimos três anos diminuímos, em 55%, o número de incêndios e, em 65%, a área ardida”.
Batuta apontada para 26 de setembro: “o único partido que tem autarquias” em todo o lado
Finalmente, para dentro. O secretário-geral terminou a falar para o partido, a um mês de ir a eleições e com o PSD a escassos quilómetros de Portimão a realizar, este sábado, a sua convenção autárquica.
“Este é o tempo de arregaçar as mangas, não só daqueles que estão no Governo, mas também daqueles que estão nas freguesias e nas câmaras ou em todos os locais em que se pode fazer a diferença”, apelou, destacando que o PS não é “um partido qualquer”.
“Somos o maior partido autárquico português. Somos um grande partido nacional popular. Somos o único partido que tem autarquias nos Açores, na Madeira, no Algarve, no Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo, no Centro e no Norte”, incentivou, colocando a fasquia alta: “queremos continuar a ser o maior partido nas freguesias e nas câmaras”. A ária “Ninguém durma” voltou a fazer-se ouvir, principalmente pela mensagem para quem tenha estado menos atento às palavras do líder socialista.