Os prognósticos não falharam, desta vez: os trabalhistas não só vão voltar ao poder no Reino Unido, com Keir Starmer como primeiro-ministro, como conseguiram uma vitória histórica, com a maior maioria absoluta de que há memória.
Mas a vitória retumbante do ainda discreto Keir Stamer está longe de poder ser considerada como o início de um longo e glorioso reinado para os trabalhistas – até porque o novo primeiro-ministro parece estar muito longe do carisma e do entusiasmo que Tony Blair imprimiu à política britânica do final dos anos de 1990. É verdade que os trabalhistas ganharam, mas é ainda mais verdade que os conservadores perderam.
Se há lição que podemos tirar destas eleições é que, atualmente, os eleitores são capazes de, rapidamente, mudar de opinião. E, perante os erros de quem está no governo, basta a alguém, na oposição, saber esperar pela sua oportunidade.
A história recente das ilhas britânicas é eloquente nessa matéria. Há apenas cinco anos, em 2019, quando se olhava para a realidade política do Reino Unido, tudo indicava que os conservadores iriam manter-se durante muitos e longos anos no poder, liderados por um carismático Boris Johnson que, nas urnas, tinha conseguido reduzir os trabalhistas, chefiados por Jeremy Corbyn, à mais completa insignificância. Nas eleições de dezembro desse ano, quando ainda ninguém sabia que o mundo ia entrar, dentro de poucas semanas, num longo e controverso período pandémico, os eleitores ingleses deram aos conservadores uma ampla e confortável maioria: uma margem de 78 deputados, que lhes permitia ganhar qualquer votação na Câmara dos Comuns, mesmo contando com as habituais deserções ou rebeldias tão frequentes na política do lado de lá do canal da Mancha.
Essa vitória arrasadora de Boris Johnson foi vista como um sinal de consolidação do poder dos conservadores, após tempos conturbados. Ela surgiu depois do partido se ter dividido com o referendo do Brexit e da demissão do líder, David Cameron, que o convocou, de forma imprudente. E também após o curto reinado de Theresa May, que ganhara as eleições de 2017 por uma unha negra, e que, ao contrário do que muitos lhe auguraram, nunca conseguiu transmitir nada que se parecesse com o carisma e a determinação de Margareth Thatcher.
A verdade é que, desde a pandemia e da gestão caótica da mesma por parte de Boris Johnson, os conservadores passaram os últimos anos a destruir, meticulosa e pacientemente, a larga maioria de 2019. Primeiro, com a escolha de Lizz Truss, cuja experiência ultraliberal não conseguiu resistir aos primeiros 50 dias de governo que, mesmo assim quase destruíram o sistema financeiro do país. E, a seguir, ao penoso e errante mandato do milionário Rishi Sunak, que conseguiu, com erro atrás de erro, abrir o caminho para vitória retumbante dos trabalhistas – e que, por isso mesmo, não ficará na história.
Quando se observam o último par de anos da política britânica, o veredito é claro: Keir Starmer só teve que manter nervos de aço e não ceder ao impulso de querer empurrar os conservadores para fora do poder – Lizz Truss, primejro, e Rishi Sunak, depois, encarregaram-se dessa tarefa, um pouco à semelhança daquela final de velocidade no gelo, nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, em que o australiano Steven Bradbury ganhou a medalha de ouro, depois dos quatro adversários da final terem caído a poucos metros da meta.
A comparação não é exagerada. A acreditar nos resultados provisórios, os conservadores arriscam-se a ter o pior resultado da história, enquanto os trabalhistas alcançam a melhor votação do último século e meio. A dúvida, no entanto, vai persistir: até quando vai durar esta maioria? Quem vai ser o próximo a cair?