“Até ao final de 2023, mais de 54 meios de comunicação social e 16 espaços noticiosos foram confiscados, encerrados ou destruídos por ordem do regime de Ortega Murillo, numa tentativa de dificultar o trabalho do jornalismo nicaraguense na denúncia de graves violações dos direitos humanos”, refere um relatório do Coletivo de Direitos Humanos da Nicarágua, composto maioritariamente por ativistas exilados e com sede em San José, na Costa Rica.
Segundo a ONG, desde abril de 2018, quando começou a rebelião cívica na Nicarágua, os jornalistas e os meios de comunicação social do país centro-americano têm sido alvo de ameaças, perseguição, prisão, tortura, banimento, desnacionalização e desapropriação dos seus bens.
Salientou ainda que o encerramento de espaços noticiosos constituiu um grande desafio para o jornalismo nicaraguense.
O Coletivo de Direitos Humanos lembrou que o jornal nicaraguense La Prensa denunciou que, pelo menos duas vezes, o Departamento de Alfândega da Nicarágua manteve embargado por vários meses o papel necessário para imprimir jornais e, finalmente, em agosto de 2021, o meio de comunicação foi ilegalmente apreendido e suas instalações assaltadas.
“Toda a redação teve de se exilar para poder continuar a informar”, afirmou a ONG, que lembrou que o Confidencial, jornal, também sofreu “a investida da ditadura de Ortega Murillo ao ponto de confiscar as instalações e todo o equipamento”, enquanto o seu diretor Carlos Fernando Chamorro e grande parte da redação tiveram de se exilar.
Além disso, prossegue a ONG, o canal de televisão 100% Noticias foi tomado de assalto e o seu diretor Miguel Mora e a chefe de redação Lucía Pineda Ubau, respetivamente, foram detidos e mantidos ilegalmente durante quase seis meses em prisões sem que as suas famílias os pudessem visitar ou sem direito a um advogado de defesa.
Mora, que foi detido duas vezes, foi banido e perdeu a nacionalidade em fevereiro de 2023, enquanto Pineda Ubau foi expulso da Nicarágua, despojado da sua nacionalidade nicaraguense e viu a sua casa confiscada, de acordo com a queixa.
Segundo o relatório, entre 2018 e 2023, pelo menos 242 jornalistas foram forçados a deixar seu país devido a ameaças, perseguição ou mandados de prisão apenas por reportar.
“Para muitos deles, esta mudança foi difícil e representou um desafio nas suas condições de vida económica que os levou mesmo a procurar outros meios de subsistência”, alertou.
Atualmente, o jornalista Víctor Ticay, colaborador do Canal 10, está detido há quase 11 meses nas prisões do “regime de Ortega Murillo”, depois de ter sido condenado a oito anos de prisão sob a acusação de difundir informações falsas e conspirar para desestabilizar a integridade nacional apenas por transmitir uma atividade religiosa.
Apesar deste panorama, o grupo disse que “hoje, o jornalismo nicaraguense no exílio está a viver um ressurgimento de meios de comunicação que mantêm os nicaraguenses informados sobre os abusos dos direitos humanos que ocorrem diariamente naquele país”.
“Talvez esta seja uma das poucas coisas positivas que a atual geração de jornalistas nicaraguenses no exílio está a propor”, afirmou a ONG.
A crise na Nicarágua agravou-se após as eleições de novembro de 2021, nas quais o Presidente Ortega, no poder desde 2007, foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo.
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