É caso para dizer: não há fome que não dê em fartura. O passado colonial, tema chave da História e da construção de Portugal moderno, tem sido timidamente abordado no cinema, com um número menor de filmes do que a riqueza e importância do tema sugerem. Contrariando esta tendência, com uma diferença apenas de um mês, estreiam-se em sala dois documentários que fazem essa reflexão. Primeiro fora Fantasmas do Império, da francesa Ariel de Bigault, com uma análise sobre o colonialismo através das abordagens do próprio cinema português. Agora, estreia-se Visões do Império, de Joana Pontes, que passou no último Doclisboa, com uma perspetiva diversa.
A realizadora socorre-se sobretudo de fotografias para construir um olhar sobre este passado. Com uma estrutura bem organizada, parte dos colecionadores particulares, que sobretudo por motivos pessoais, geralmente saudosistas, guardam memórias em formato de imagens. O interesse é tal que nota-se grande procura de elementos desse passado africano em alfarrabistas, antiquários e feiras. A memória individual confunde-se com e ajuda a construir a memória coletiva. Depois, passa para os grandes arquivos, como o imenso Arquivo Histórico Ultramarino. Aí, saímos da perspetiva individual e passamos à análise histórica, por quem realmente estuda o assunto. E, aqui, o filme entra num aspeto decisivo: o de averiguar até que ponto a captação e divulgação de imagens condicionaram ou espoletaram a própria guerra. Visões do Império é um competente documentário que nos convida à reflexão.
Veja o trailer do filme:
Visões do Império > De Joana Pontes, 93 minutos