Bruno Pernadas já não é um segredo para quem acompanha não apenas o seu trabalho a solo mas também a série de projetos em que vem participando nos últimos anos. E se todos estes têm algo de especial, é nos seus discos em nome próprio que o músico concretiza todo o seu potencial.
Depois do aplauso quase unânime aos seus primeiros três álbuns, chega agora este Private Reasons, que parte dos caminhos explorados nesses registos anteriores e os leva à sua lógica conclusão. Reconhecemos aqui a matriz pop, com requintes clássicos, permeada por influências da world music e um delicioso retrofuturismo space age. Pernadas vem do jazz, e isso percebe-se. Não necessariamente pelo que se ouve, mas pela forma inteligente e nada óbvia como as músicas são construídas. Se parece um caldeirão demasiado estranho, é uma questão de ouvir e dissipar quaisquer dúvidas: soa tudo mais simples e harmonioso do que se poderia imaginar pela descrição.

Com Private Reasons fecha-se um ciclo, que começou com How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge, de 2014, e continuou com Those Who Throw Objects at the Crocodiles Will Be Asked to Retrieve Them, dois anos depois.
Em entrevista recente à agência Lusa, o músico assumiu isso mesmo, que pretende deixar para trás o seu habitual processo de composição solitária (que depois ganha vida, em disco e em palco, com um grupo alargado de músicos), em favor de um registo mais coletivo, em que diferentes contributos estão lá desde o início. Não é claro o que isto significará, mas parece seguro que o resultado será sempre interessante.
Para já, Private Reasons dá-nos uma promissora banda sonora para o verão que se aproxima. É um disco luminoso, exótico, elegante e com mundo, que atira para muitas direções sem nunca perder a coesão.
Ouça aqui o tema Theme Vision