Uma nova revisão sistemática publicada na revista científica Environmental Health Perspectives concluiu que existe uma associação forte entre a menor concentração de espermatozoides em homens adultos e a maior exposição a pesticidas geralmente utilizados no setor agrícola. A publicação – que envolveu investigadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade George Mason e da Universidade de Northeastern – analisou dados de várias investigações científicas sobre o tema conduzidas nos últimos 50 anos um pouco por todo o mundo.
Ao todo, a equipa de especialistas analisou sistematicamente 25 estudos sobre a exposição de homens adultos a pesticidas e os impactos que esse contacto teve na sua saúde. A investigação baseou-se sobretudo em dois compostos muito utilizados na agricultura – os N-metilcarbamatos e os organofosforados – que mostraram estar associados às baixas contagens de espermatozoides. “Ao longo de 50 anos, a concentração de espermatozoides diminuiu cerca de 50% em todo o mundo. O que não se sabe é quem é o culpado. Embora existam provavelmente muitas outras causas, o nosso estudo demonstra uma forte associação entre dois pesticidas comuns – organofosforados e n-metilcarbamatos – e o declínio da concentração de esperma”, explicou Melissa Perry, principal autora do estudo.
Sendo um dos compostos mais utilizados globalmente, os organofosforados são os principais componentes de herbicidas, pesticidas e inseticidas, podendo também ser encontrados na criação de plásticos e solventes. Já os n-metilcarbamatos são sobretudo utilizados na exterminação de insetos ao provocarem danos no seu sistema nervoso. É recorrente serem encontrados no fabrico de inseticidas muito aplicados em várias culturas agrícolas, frutícolas e hortícolas.
De acordo com as conclusões retiradas do estudo, os homens que trabalham em setores agrícolas são os que possuem uma menor concentração de espermatozoides, por terem uma maior exposição aos organofosforados e n-metilcarbamatos. “Compreender como os pesticidas afetam a concentração de espermatozoides nos seres humanos é fundamental, dada a sua omnipresença no ambiente e os riscos reprodutivos documentados. Os pesticidas são uma preocupação para a saúde pública e para todos os homens, que estão expostos principalmente através do consumo de alimentos e água contaminados”, esclareceu Lauren Ellis, uma das investigadoras envolvidas no estudo.
Segundo os especialistas, a exposição aos pesticidas nos alimentos pode ser reduzida através de um conjunto de ações na preparação dos alimentos. Por exemplo, a preferência por alimentos biológicos é uma forma de reduzir a exposição a estes químicos. Para além disso, a lavagem dos alimentos e das mãos antes de cozinhar e a secagem dos mesmos com uma toalha de papel podem também ajudar a reduzir as bactérias presentes nos vegetais e frutas.
A exposição aos pesticidas através da alimentação continua a ser uma questão importante que tem despertado a atenção da comunidade científica através de vários estudos. “Trata-se efetivamente de uma questão de saúde pública. Podemos adotar uma abordagem individual, mas é numa base populacional que as pessoas estão a ser expostas a pesticidas e a outros fatores. É necessário tomar medidas para reduzir a exposição aos pesticidas, para que os homens que queiram ser pais possam fazê-lo sem se preocuparem com a redução global da concentração de espermatozoides”, acrescentou Perry.