“Evoluímos imenso na medicina de precisão”, disse Sérgio Dias, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular (IMM), num painel realizado este domingo, 23, subordinado ao tema da “Ciência da Longevidade”, no âmbito do VISÃO Fest, que decorre no Planetário de Marinha, em Belém (Lisboa). O cientista, que apontou o cancro como a doença do envelhecimento que mais preocupa os investigadores clínicos, afirmou que estes se encontram agora numa “fase muito entusiasmante”.
Tal deve-se ao avanço nas “terapias dirigidas a cada tipo de cancro”, exemplificando o investigador principal do IMM com o êxito no tratamento da leucemia mielóide crónica. Se há poucos anos era uma patologia devastadora, com os pacientes a morrerem, em média, ao fim de 12 meses, hoje tornou-se, na prática, uma “doença crónica gerível”. A descoberta do oncogene que provoca a patologia levou à produção de um fármaco que bloqueia aquela mutação genética específica e que cura “mais de 90% dos doentes”, explicou Sérgio Dias.
Outra participante no painel, Filipa Mota e Costa, diretora executiva da farmacêutica Janssen, acrescentou que, “desde 2015, 90% dos tratamentos de oncologia são dirigidos a mutações genéticas específicas”, e que essa medicina de precisão tem conduzido, “em muitos casos, à transformação do cancro em doença crónica gerível”.
Também presente no painel, a atriz Fernanda Serrano contou a sua experiência de doente, a quem há 13 anos foi diagnosticado um cancro na mama. A doença estava “mascarada por uma gravidez” e, ao princípio, um “professor doutor” descansou-a, dizendo-lhe que “não era nada de preocupante”. Acrescentou a atriz: “É muito grave quando existe a negligência médica, à luz do que a medicina é hoje.”
Mas Fernanda Serrano acabaria, depois, por ter “a sorte” de se “cruzar com excelentes profissionais de saúde” e diz agora que “chegar aos 97 anos” é a sua meta.
Professor jubilado da Faculdade de Motricidade Humana, Carlos Neto, igualmente participante no painel, destoaria do tom esperançoso da sessão. Se, como disse, “o melhor medicamento de eficácia comprovada é o movimento físico”, a verdade é que os portugueses surgem nos estudos internacionais entre os “campeões do sedentarismo”.
Carlos Neto deu uma imagem elucidativa: “Quando saio à rua, não vejo crianças a brincar, mas cães a passear.” Acrescentaria que “uma boa longevidade prepara-se desde as primeiras idades” e que “é inaceitável termos crianças e adultos aprisionados a uma vida inativa”.
E deixaria um alerta: “O corpo está pior porque se encontra esquecido. Andamos só a falar da doença.”