Washington está a discutir com Moscovo — sem incluir mais ninguém — um plano de rendição da Ucrânia, pior do que o acordo de Chamberlain em Munique. São 28 pontos que só sabiam o Kremlin e a Casa Branca, e cada um deles, dos que se conhecem, representaria uma verdadeira humilhação e submissão de Kiev a Moscovo. É o plano de Putin desde a invasão, numa versão mais dura.
A proposta não poderia ser mais direta: a Ucrânia cede o território do Donbass (Luhansk e Donetsk), mantém as linhas da frente em Zaporíjia e Kherson, reduz para metade as Forças Armadas, devolve determinadas armas ofensivas e defensivas, rejeita aderir à NATO, aceita o russo como língua oficial e repõe a obediência da Igreja Ortodoxa ao Patriarca de Moscovo.
Desconhecem-se os restantes pontos — nem é necessário conhecê-los. Eventualmente, até poderá existir uma cláusula que determine a demissão do presidente Zelensky, a realização de novas eleições, controladas por Moscovo, e a colocação de um general pró-russo no topo do comando das Forças Armadas da Ucrânia.
Isto não é apenas um plano de rendição, é também a entrega de um país soberano ao seu agressor. É uma negociação ultrajante entre a capital do invasor e um terceiro, conduzida por enviados especiais, concebida e montada para fazer aceitar uma invasão brutal e selvagem, em 2022, com milhares de mortos e feridos, aldeias, vilas e cidades destruídas e uma violação maciça dos direitos humanos.
A Europa foi apanhada de surpresa: não haverá paz nem plano sem a presença da Ucrânia e da Europa nas negociações. E acrescentou: esta guerra decorre na Europa e obriga diretamente os europeus a terem uma palavra mais forte do que os EUA em qualquer futuro plano de paz que respeite os ucranianos e o seu país.
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