A 15 de julho de 2010, o recém-eleito líder do PSD, Pedro Passos Coelho, revitalizava uma iniciativa política, que, nos últimos anos do pós-cavaquismo, se tinha quase perdido: a Festa do Pontal. Nessa tarde de calor e num espaço renovado, no Calçadão da Quarteira, as equipas de funcionários do PSD e as das empresas de eventos, contratadas pelo partido, azafamavam-se a dispor palco e mesas, enquanto os restaurantes da zona, fornecedores do catering, aqueciam as brasas para grelhar as febras. Num hotel de Vilamoura, paredes-meias com a Quarteira, Passos Coelho confraternizava com alguns dos notáveis locais algarvios, onde pontificava Mendes Bota, o grande animador histórico do Pontal, que não cabia em si de contente: um líder do PSD voltava a pisar o palco da Festa e, o que era mais importante, essa seria a sua primeira grande intervenção pública, o que havia arrastado legiões de jornalistas e todas as televisões nacionais. Figuras como Miguel Relvas ou Nuno Morais Sarmento rodeavam o grande líder, ajudando-o a afinar o discurso. De camisa branca e mangas arregaçadas, Passos Coelho imporia, horas depois, a sua voz de barítono, num longo e sério aviso ao governo do PS, então liderado por José Sócrates, já sem maioria absoluta e dependente da abstenção social-democrata para a aprovação do Orçamento do Estado (OE) para 2011. Ao jantar, ingerido antes das intervenções políticas, mal tocou na comida. Para Vilamoura, estava marcada uma ceia tardia, num restaurante exclusivo, que abriria um espaço especial, num pátio interior, especificamente reservado ao pequeno grupo de dirigentes que ali haveria, agora, sim, de matar a fome, degustando uma ementa mais sofisticada do que a que fora disponibilizada à populaça, no Calçadão. Passos Coelho, o staff mais próximo e alguns notáveis algarvios formaram o grupo restrito, em que foram admitidos dois jornalistas com o compromisso de nada revelarem do que ali fosse dito – até porque Passos Coelho tinha um recado privado que não pudera dar, com palavras tão cruas, em público: “Preparem-se, porque a porrada vai começar.”
Não se sabe que importância terá o Pontal deste ano na agenda política, mas é bem provável que os sonhos – e pesadelos – dos principais dirigentes partidários ocupem muitas das suas noites de verão. É verdade que Marcelo facilitou as coisas, ao promulgar os diplomas fiscais aprovados pela oposição no Parlamento. Esta promulgação, que o Governo teve de aceitar e que vai aplicar ainda no decurso do presente ano fiscal, retira o principal “irritante” político que poderia emperrar as negociações entre o PS e o PSD, no que toca à viabilização do próximo OE. Mas, ainda assim, os líderes terão razões para algumas insónias, durante as férias e o correspondente defeso político: com a economia a dar sinais de abrandamento – soubemos, nesta semana, que o crescimento, no segundo trimestre, foi apenas 0,1%, relativamente ao primeiro, o que se revela preocupante, dado o incremento do investimento e do consumo interno – e com esta descida nos impostos, como vai o Governo compensar e recuperar receita para aplicar o seu programa económico – baseado, recorde-se, num crescimento económico muito superior ao previsto por qualquer entidade independente… – e cumprir os muitos acordos com as classes profissionais da Administração Pública (polícias, professores, oficiais de justiça, militares), que lhe bateram a porta mal tomou posse? E Pedro Nuno Santos, como vai manter o estatuto de líder da oposição, salvando a face, ao mesmo tempo que viabiliza um OE que, palavras suas, seria quase impossível ao PS viabilizar? E André Ventura, como vai continuar a justificar, perante o seu eleitorado, a constante oposição destrutiva a um Governo de direita, liderado por um primeiro-ministro pessoalmente bem-visto nas sondagens e que está a dar sinais de querer “fazer coisas”?