A Inteligência Artificial esteve na berlinda no SAP Sapphire de Barcelona, mas o evento foi igualmente dominado pelo tópico da sustentabilidade. Numa sessão de perguntas e respostas com jornalistas e analistas, Christian Klein, CEO da empresa alemã, salientou que “é preciso tratar a pegada carbónica como dados financeiros”, uma afirmação em linha com a denominada iniciativa Green Ledger da tecnológica, uma espécie de Livro Verde para a Contabilidade.
É que a SAP considera que, há 50 anos, revolucionou a contabilidade financeira com o software de planeamento de recursos empresariais (ERP). Agora pretende reinventar o ‘R’ do ERP ao ampliar a definição de recursos para incluir o carbono.
No fundo, trata-se de tentar conciliar duas tendências crescentes: por um lado, a pressão das empresas para operarem de forma sustentável; por outro, os requisitos regulamentares em rápida mutação. O objetivo da SAP é, portanto, disponibilizar um sistema de contabilidade de emissões que seja tão auditável, transparente e confiável quanto a contabilidade dos seus dados financeiros. E isto permitirá às empresas trabalharem com dados reais de carbono ao invés de estimativas.
Para tal, a SAP anunciou uma atualização à Sustainability Footprint Management, uma solução que calcula e gere toda a gama de emissões corporativas, da cadeia de valor ao produto. Além disso, a tecnológica revelou a nova solução Sustainability Data Exchange, que visa dar as condições para as empresas trocarem, com maior segurança, dados padronizados de sustentabilidade com parceiros e fornecedores, permitindo a descarbonização das cadeias de abastecimento mais rapidamente. E, por fim, a empresa pretende ainda que a iniciativa Green Ledger integre as soluções RISE with SAP e GROW with SAP.
Concertos mais sustentáveis
Mas, para a SAP, a sustentabilidade não se faz apenas com aspetos relacionados com a cadeia de abastecimento. A empresa tem objetivos exigentes para si própria – ser neutra em carbono já em 2023 e atingir as zero emissões em 2030 – e, por exemplo, uma parceria com os Coldplay. Phil Harvey, manager da banda, explicou numa ‘keynote’ do Sapphire que o vocalista Chris Martin tinha expressado numa entrevista à BBC, em 2019, o desejo de só avançarem com uma nova digressão mundial quando fosse possível fazê-lo de forma mais sustentável.
Como consequência, foram inundados de ideias e sugestões de terceiros. Uma das abordagens partiu da SAP e daí resultou uma parceria que permitiu desenvolver a World Tour App (disponível para Android e para iOS). Esta aplicação disponibiliza os tradicionais dados sobre a banda e a digressão, mas acrescenta-lhe informação sobre sustentabilidade.
Além disso, convida os fãs a partilhar a pegada de carbono provocada pela deslocação para os estádios dos concertos. Para tal, a pessoa apenas precisa de identificar o ponto de partida, o ponto de chegada e qual o método de transporte utilizado. Depois são feitos cálculos e, se a pegada for reduzida, o fã até tem direito a descontos. Se a pegada for grande, são oferecidos conselhos para que consiga reduzi-la.
Phil Harvey explicou que os próprios Coldpay tomaram iniciativas para reduzir a pegada carbónica da digressão. Cientes que seria inviável não recorrer a aviões para as deslocações, acabaram por recorrer a voos sustentáveis para minimizar os efeitos. Além disso, os espetáculos são alimentados com baterias que recorrem a energias renováveis e os fãs são desafiados a contribuir de duas formas nos concertos: pedalando em bicicletas que geram energia; e participando num concurso de dança em dois palcos para gerar energia cinética. O manager da banda revelou que a energia gerada por estas iniciativas é suficiente para alimentar o palco secundário onde a banda dá concertos acústicos.