A nova política do Twitter, destinada a proteger os utilizadores contra assédio na plataforma, está a ser explorada por grupos de direita para conseguir remover conteúdos que consideram incómodos. Na sexta-feira, a plataforma assumiu que a nova política está a ser usada abusivamente, mas ainda não há indicações de eventuais alterações ou medidas de mitigação. A empresa reconhece em comunicado que assistiu a uma atividade de “volume significativo, coordenada e maliciosa” que conduziu a “vários erros” na aplicação da nova política. “Corrigimos estes erros e estamos a realizar avaliações internas para nos assegurarmos de que esta política é usada como devia – para evitar o mau uso dos media para assediar ou intimidar indivíduos privados”, reforça a Twitter.
A nova política entrou em vigor na terça-feira passada e proíbe a partilha de imagens de privados sem o seu consentimento. O objetivo seria evitar que as imagens partilhadas no Twitter pudessem ser usadas para assediar e intimidar pessoas, nomeadamente mulheres, ativistas e minorias. Grupos anti-máscara e ativistas de direita, no entanto, encontram na nova política uma forma de remover os conteúdos de que não gostam. Em apenas alguns dias, surgiram denúncias concertadas que inundaram os sistemas do Twitter contra ativistas de esquerda, investigadores dos incidentes do Capitólio dos EUA a 6 de janeiro e jornalistas que fazem a cobertura de manifestações e comícios de direita. Todas as denúncias contam que foi feita a publicação dos seus rostos sem o consentimento, noticia a CNN.
Como exemplo, surge o caso de Samuel Braslow que, em janeiro, estava a fazer a cobertura de um protesto anti-máscara em Los Angeles para um órgão de comunicação local. Durante o evento, o jornalista publicou no Twitter um vídeo de um confronto entre ativistas anti-máscara e um funcionário do centro comercial onde decorria a manifestação. Esta semana, a sua conta foi alvo de denúncia e o Twitter suspendeu-a até o jornalista apresentar um apelo ou apagasse os tuítes ‘ofensivos’.
No Telegram, estes grupos de direita partilham mensagens a apelar à concertação e organização para envio de denúncias para o Twitter. Algumas delas são depois reencaminhas e têm um alcance de milhares de utilizadores, contendo listas de contas de Twitter que devem ser alvo de denúncia, alegando violações da nova política.
Esta campanha mostra que a nova política não terá sido bem pensada e está a ser alvo de interpretações abusivas, mas a Twitter não revela quais as denúncias que são moderadas por algoritmos de IA ou por moderadores humanos. Alegadamente, as novas regras não se aplicam a imagens de indivíduos em eventos públicos, como “protestos de grande escala” ou desportivos, nem a conteúdos que possam ser “parte de um evento digno de notícia devido ao interesse público”.
Ken White, advogado de um ativista anti-fascista, refere que a “nova política é mais do mesmo. Veja-se como está a ser usada para remover as contas que têm estado a identificar e a documentar os intervenientes de 6 de janeiro. É impossível que não soubessem que algo como isto ia acontecer e, inexplicavelmente, não se prepararam para isto”.