É muito difícil conceber o que é um buraco negro, estes monstros de energia e massa, tão densos que nada nas redondezas lhes escapa, nem sequer a luz. O que dizer de um buraco negro gigante com 32,7 mil milhões de vezes a massa do Sol? Localizado no centro de uma galáxia a 2,7 mil milhões de anos-luz da Terra, o buraco negro anunciado por uma equipa da Universidade de Durham, no Reino Unido, é o primeiro a ser identificado graças ao efeito das lentes gravitacionais – uma técnica que interpreta a forma como objetos com elevadas massas tendem a moldar e dobrar a luz devido à sua forte gravidade. Vítor Cardoso dedica-se ao estudo destes mistérios do Universo, “com caneta e papel”, ou com computadores. Um trabalho teórico, mas baseado nas observações feitas por equipas que têm uma componente mais experimental. “O meu trabalho é perceber como podemos usar observações para entender a natureza e comportamento destes objetos misteriosos. Por exemplo, se eles catalisam matéria escura, ou de que forma podemos mesmo afirmar que é um buraco negro.”
De que forma é que a identificação e caracterização destas estruturas absurdamente gigantes contribui para a compreensão do mistério em torno dos buracos negros?
Estas observações são muito importantes para percebermos o nosso universo, como a resposta às questões “onde é que estão os buracos negros e como é que se formaram”. Ainda não sabemos bem como é possível formar “bestas” com tanta massa. O colapso gravitacional de estrelas ou mesmo de nuvens não parecem conseguir resultar em buracos negros com tanta massa, portanto existe algo mais em jogo que ainda não percebemos bem. Ao certo, o que é que esteve na origem destes buracos negros? Para compreender isso temos de saber onde estão, quantos são etc.
Já há algum tempo que se fala no potencial das lentes gravitacionais para descobrir ou identificar buracos negros. Mas só agora se conseguiu o primeiro resultado. O que foi preciso atingir para chegar lá?
Estudamos lentes gravitacionais há décadas e muitas das galáxias que estudamos têm buracos negros no centro. Contudo, para usar esta técnica para estudar o buraco negro central temos de ter mais ingredientes: o buraco tem que ser muito massivo e temos que ter acesso a luz que tenha passado relativamente perto do buraco negro. Precisamos para isso de um bom instrumento, alguma sorte e depois um bom método para “andar para trás”, isto é, partir das observações para perceber o que estava a causar essa lente.
É de prever que agora venham a surgir mais anúncios do género?
Agora que a técnica foi anunciada é expectável que se sigam mais, mas não muitos mais deste género. O Universo não tem um grande número de buracos negros assim, e muitos deles estão demasiado longe de nós. Repare-se que a massa deste buraco negro é quase a mesma da nossa galáxia inteira!