Foi enquanto presidente da Associação Empresarial do Minho (AEM) que Ramiro Brito afirmou existir uma “consciência coletiva” na região de encarar a sustentabilidade “como estratégica para o negócio e para a governação das empresas”. Nesse sentido, é vista como “obrigatória, não é uma opção”. Admitiu, no entanto, que “ainda há um caminho por fazer e áreas onde a absorção é mais lenta”.
Muitas empresas inseridas em cadeias multinacionais são já exemplos de adoção de modelos sustentáveis que são economicamente viáveis. “A minha sensibilidade é que somos movidos por autodeterminação empresarial coletiva, e não porque a sustentabilidade é feita por exigência dos parceiros internacionais”, defende. Em contrapartida, “também temos de reivindicar a todos os players que vêm de fora e que estão a dominar a economia europeia que cumpram as nossas normas.”
Nas últimas ESG Talks de 2024, que decorreram nesta segunda-feira no pequeno auditório do Fórum Braga, Ramiro Brito integrou o painel que falou da inovação como motor da sustentabilidade. “O grande desafio para a Humanidade é perceber que cooperar é muito mais importante do que competir”, sublinhou. Até porque, para ganhar escala, qualquer empresa portuguesa tem de olhar para fora. “Nenhuma meta de sustentabilidade será alcançada se não houver uma cooperação global”, acrescentou o também CEO do grupo Erre (que atua em diversos setores: Tecnologias de Informação e cibersegurança; Ambiente, sistemas de informação geográfica e FTTH; comunicação, marketing e editoria).
A dar as boas-vindas na conferência esteve Carlos Silva, da InvestBraga, a agência para a dinamização económica do município, que reforçou ser este um “tema incontornável, essencial para o futuro das nossas empresas, que vamos ter de introduzir e reinventar processos e produtos”, sendo que este é o terceiro concelho mais exportador a nível nacional.
A tecnologia e a construção, áreas muito fortes do tecido empresarial bracarense, refletiram-se no painel de conferencistas. Pedro Fraga, CEO da F3M, uma das maiores empresas portuguesas especializadas em Tecnologias da Informação e Comunicação, reforçou a dificuldade de “ter política de sustentabilidade se não tivermos o envolvimento dos colaboradores das empresas”. “A pegada de empresas tecnológicas é muito baixa”, pelo que, “se não nos preocuparmos em envolver as pessoas, isto é uma moda, tem pouco impacro que se veja”. Afinal, “estamos muito mal se pensarmos que são os acionistas os responsáveis pela implementação de novas ideias. As pessoas não são meras recetoras, têm de ser instadas a inovar”, adiantou.
Já para Regina Ramos, diretora da Engenharia Empresarial da Casais, a representar o setor da construção, a inovação é um caminho que começaram a trilhar há mais de 10 anos. A transformação digital da empresa é já uma realidade, com uma plataforma que é constantemente atualizada com toda a informação sobre cada obra. “Há uma maior transparência e agilidade. Mudou a forma de trabalharmos. Ganhou-se eficiência no processo, maior sustentabilidade, controlo de qualidade e garantiu a satisfação de todos”, testemunhou. Ao nível social, falou também da preocupação com o bem-estar dos colaboradores. “Nas zonas onde operamos, procuramos dar primazia aos parceiros locais, para alavancar a nossa presença”, exemplificou.
Recorde-se que as ESG Talks são uma iniciativa promovida pelo novobanco, que conta com as revistas VISÃO e EXAME como parceiros, e com o apoio da PwC. Nos últimos três anos, percorreram o País para falar sobre sustentabilidade empresarial nos diversos setores. “Houve uma evolução significativa neste tipo de temas, notamos muito mais interesse das empresas e a forma como o diálogo se processa é diferente”, apontou Rui Fontes, Chief Credit Officer do novobanco, na abertura da conferência. “A Banca, enquanto financiador, incorpora as competências ESG, e os bancos vão começar a pedir às empresas informação sobre a pegada carbónica”, acrescentou.
Uma posição reforçada por Inês Soares, responsável ESG do novobanco, que tem sido, defende, “uma peça fundamental e um impulsionador desta sustentabilidade, fazendo o apoio para esta transição”, seja ajudando as PME a encontrarem parcerias para ajudar na transição, seja com iniciativas deste género, onde partilham as melhores práticas. A ideia-chave é que as empresas, enquanto clientes, não se assustem com o desafio e não se sintam sozinhas ao enfrentá-lo.
Na short talk mantida com Cláudia Coelho, a responsável pela área de Sustentabilidade e Alterações Climáticas da consultora PwC alertou para a nova legislação, a entrar em vigor em 2025. “Estamos no centro do furacão, há uma nova diretiva muito exigente em termos de divulgação de estratégia de sustentabilidade, e não só de métrica, mas ainda não há um domínio da legislação [por parte das empresas]”, sublinha Cláudia Coelho. O certo é que quem não tenha um plano de transição está atrás dos seus pares.
A conversa foi marcada por dicas mais práticas para as empresas, nomeadamente as que estão a começar este caminho, destacando-se uma ideia forte: é mais útil ir dando passos intermédios do que enfrentar todo o processo de uma vez, que pode ser assustador e desincentivar as empresas com menos meios.