Com o mote “Perspetivas e soluções para o setor agrícola”, o segundo painel, da ESG Talks em Évora juntou Henrique Silvestre Ferreira – presidente da Associação de Jovens agricultores de Portugal – e José Pedro Salema – CEO da EDIA, empresa de desenvolvimento e infraestruturas do Alqueva – para debater os atuais desafios do setor agrónomo e sustentabilidade. O painel contou com a moderação de Tiago Freire, Diretor da Exame.
A primeira intervenção ficou a cargo de José Pedro Salema – CEO da EDIA, empresa de desenvolvimento e infraestruturas do Alqueva – que abordou o Alqueva como um projeto que vai muito para além da barragem e rede de distribuição de água, representando também um centro de energia renovável e polo turístico para a região. “O Alqueva veio resolver muitos problemas que tínhamos na região”, esclareceu. Atualmente, é o Alqueva o responsável pela garantia de abastecimento de duas grandes cidades alentejanas, Beja e Évora. Nas palavras de Salema, o projeto, que criou uma rede de distribuição de água ao ligar as várias barragens presentes na região alentejana, tem gerado um impacto positivo ao “criar valor” e “multiplicar riqueza”. “Há um efeito multiplicador do investimento público em infraestrutura de abastecimento de água”, referiu.
Henrique Silvestre Ferreira, presidente da Associação de Jovens Agricultores de Portugal, refletiu sobre os principais desafios do setor, nomeadamente, sobre o baixo número de jovens profissionais na agricultura. Segundo Ferreira, a média de idades dos profissionais agrícolas situa-se nos 64 anos e apenas 3,7% dos agricultores em Portugal têm menos de 40 anos. Características que, para o presidente da associação, significam que o país “não está a olhar para o futuro”. Ferreira acredita que, aliada à atratividade do setor, deve haver uma maior aposta na formação tecnológica dos profissionais. A formação dos agricultores – sobretudo das camadas jovens do setor – para manuseamento das novas máquinas tecnológicas utilizadas no trabalho agrícola deve ser uma prioridade. “As escolas agrícolas fazem falta a Portugal e ao futuro. A formação é extremamente importante”, esclareceu.
Para Salema, um projeto com as dimensões do Alqueva não será facilmente replicado em Portugal, uma vez que o sucesso da barragem está assente nas características únicas da região, irrepetíveis noutras zonas do país. “Temos de criar dinâmicas de investimento e de inovação. É essa a receita para o sucesso, é termos regularização, ligação, gestão profissional e dinâmica empresarial”, conceitos que, segundo Salema, foram concretizados através deste projeto. No entanto, a lógica na base do projeto do Alqueva, os ensinamentos que trouxe, podem ser aproveitados para outras experiências noutros locais, porque o conceito em si ficou provado.
Por fim, para Henrique Silvestre Ferreira, parte da solução para o problema de atratividade do setor passa por melhorar a comunicação com as camadas jovens. “Para ser atrativa a agricultura tem de ser rentável e, olhando para o futuro, temos de divulgar melhor os nossos produtos”, explicitou. Ferreira acredita que, apesar de serem de grande qualidade, os produtos portugueses necessitam da aplicação de melhores estratégias de marketing de forma a tornarem-se mais rentáveis e, por conseguinte, atraírem a população mais jovem para a profissão.
Esta foi a segunda conferência da terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo novo banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC – que irá percorrer o País desde Sul até Norte. O palco foi o PACT – Parque do Alentejo de Ciência de Tecnologia.