Para as empresas, os colaboradores são números. É difícil passar pelo mercado de trabalho sem ter esta sensação, uma vez que seja. O que fazer quando isso acontece? Muitos decidem acreditar que a vida é mesmo assim e conformam-se. Outros, inconformados, procuram outro emprego ou lançam-se por conta própria. Outros ainda arriscam arranjar uma solução ou, melhor dizendo, um antídoto. Foi o caso de Filipe Lacerda: largou o seu trabalho seguro e criou a HumanIT, uma empresa especializada em recrutamento e consulting no setor da tecnologia de informação, onde o foco, como o nome indica, são os humanos. Prova de que este sentimento de metamorfose em modo algarismo é comum é que depressa se lhe juntou o ex-colega e amigo Nuno Viseu.
A HumanIT, uma empresa fundada durante a pandemia, tem hoje 106 colaboradores e uma previsão de faturação no valor de seis milhões de euros. A fórmula do sucesso é revolucionária, mas simples. Filipe Lacerda explica-a assim: “Não trabalhamos projetos nem clientes, trabalhamos pessoas.” Em vez de procurarem profissionais que se encaixem num determinado projeto, fazem o exercício oposto: procuram projetos e empresas que estejam alinhados com as ambições dos seus colaboradores – uma network de humanos especializados em desenvolvimento de software (developers).
Filipe Lacerda diz que o primeiro passo para desenvolver esta rede é ouvir as pessoas: “Temos uma forte componente de gestão de carreira. Queremos perceber o que é que as pessoas querem, o que é que as entusiasma, onde querem chegar, e ajudá-las a dar os passos no sentido desse objetivo.”
Já Nuno Viseu explica que o modelo de negócio da HumanIT tem duas vertentes: fazem a tradicional intermediação de recrutamento, em que o cliente procura alguém para os seus quadros; mas o core business é o consulting, ou seja, têm uma rede de developers que são colaboradores assalariados da HumanIT e que a empresa aloca aos seus clientes para desenvolvimento de projetos. “Mas isto, claro, só quando todos os humanos envolvidos sentem que há um match”, acrescenta Filipe.
De volta à alta taxa de retenção, como é que isto se consegue? O que é que estes profissionais procuram? No topo da lista vem o trabalho remoto. Mas a HumanIT tem muito mais para oferecer. Filipe Lacerda enumera algumas das regalias: “Oferecemos mais dias de férias, nomeadamente, o dia do aniversário, pagamos 15 meses de salário bruto, e temos o HEP (Human Enterpreneurship Program) em que a HumanIT investe nas ideias dos próprios colaboradores, ajudando-os a transformar essas ideias em produtos e a lançá-los no mercado. Queremos que os nossos colaboradores sejam empreendedores e até – por que não? – futuros clientes da HumanIT.”
Liberdade, flexibilidade e empreendedorismo
Nos quase dois anos de funcionamento, Filipe e Nuno têm vindo a expandir a empresa – contam já com 106 colaboradores e o objetivo é chegar aos 150 até ao final do ano – e, até agora, a taxa de retenção tem sido elevada, isto é, poucos se desvincularam da HumanIT. Outros planos de futuro incluem abrir um escritório fora de Portugal. Filipe Lacerda acrescenta que a HumanIT é uma empresa apetecível do ponto de vista do investimento e que já tiveram várias abordagens nesse sentido. “Portanto, é possível que o futuro passe também por criar uma parceria com um grande grupo internacional”, conclui. Ou seja: dois projetos que facilmente se fundem.