Se segue a carreia de Kanye West – agora Ye -, lembra-se da situação polémica que envolveu o rapper norte-americano e Taylor Swift, que, em 2009, subiu ao palco para receber o prémio de “Melhor Vídeo Feminino” pelo vídeo da música “You Belong With Me”, nos MTV Video Music Awards. Descontente com a vitória de Swift, West decidiu interromper o seu discurso e dizer que Beyoncé tinha “um dos melhores videoclips de todos os tempos”, referindo-se ao videoclip de “Single Ladies (Put a Ring on It)”, que também estava nomeado para aquela categoria.
Este momento deve ter sido um dos primeiros mais marcantes que impactaram negativamente a imagem do rapper (as polémicas com a cantora, agora com 32 anos, não ficaram por aí), mas agora, em 2022, o ex-marido de Kim Kardashian não deixa de surpreender com comentários que lhe têm valido cortes de contratos com marcas gigantes.
Na última terça-feira, a Adidas anunciou publicamente, em comunicado, que a sua parceria de vários anos com o rapper Kanye West – agora Ye – chegava “imediatamente” ao fim. Para justificar este fim de relação, a marca alemã apontou para os comentários ofensivos e ameaçadores contra a comunidade judaica, que West partilhou nos últimos tempos nas suas redes sociais.
“Depois de uma revisão intensiva”, escreveu a empresa, foi decidido terminar, “com efeito imediato”, a “parceria com Ye, terminar a produção de produtos da marca Yeezy e parar todos os pagamentos a Ye e às suas empresas”. “Os recentes comentários e ações de Ye foram inaceitáveis, odiosos e perigosos, e violam os valores de diversidade e inclusão da empresa, bem como o respeito mútuo e a justiça”, lê-se no documento. A marca Yeezy foi desenvolvida por Kanye West, contudo, os direitos de design são propriedade da Adidas.
A marca, que refere que o rendimento líquido deste ano para a empresa vai sofrer um impacto de cerca de 250 milhões de euros devido a este corte, escreveu ainda que vão ser reveladas novas informações a 9 de novembro, no momento em que forem anunciados os resultados do terceiro trimestre do ano. David Swartz, analista do Monrnigstar, afirmou, citado pelo The Washington Post, que a parceria com o rapper norte-americano dava cerca de 2 mil milhões de euros por ano à empresa, cerca de 10% do seu rendimento total.
Na segunda-feira, o estúdio MRC já tinha anunciado que, após um debate com os seus realizadores e parceiros de distribuição, tinha sido tomada a decisão de cancelar um documentário sobre Ye devido aos comentários antissemitas do rapper norte-americano, no mesmo dia em que a agência de talentos CAA publicou um comunicado a referir que deixaria de o representar. “O silêncio de líderes e corporações no que toca a Kanye ou antissemitismo em geral é desanimador, mas não é surpreendente”, escreveram os representantes do MRC, numa nota publicada pela Variety.
Dias antes, a Balenciaga já tinha anunciado o corte de relações com o cantor, tal como a GAP. A JPMorgan também já anunciou o afastamento do artista, que foi forçado a retirar os seus bens desse banco.
No início de outubro, o rapper tinha sido criticado por usar uma camisola com a inscrição “White Lives Matter”, frase associada a supremacistas brancos (em contraste com a expressão Black Lives Matter, movimento que ficou conhecido como uma forma de demonstrar a luta contra o racismo), que usou na Paris Fashion Week, na apresentação de um desfile surpresa – esta situação tinha levado a Adidas a afirmar, já na altura, que iria repensar a ligação que com o rapper.
Durante a apresentação do desfile, Gabriella Karefa-Johnson, editora da Vogue, partilhou nas redes sociais várias críticas ao rapper, que não se deixou ficar e atacou Karefa-Johnson, gozando com a imagem da editora. No último domingo, foi anunciado por um porta-voz da Vogue ao site Page Six que Anna Wintour, editora-chefe da edição norte-americana da revsita, tinha cortado qualquer relação com Kanye West.
Depois dos acontecimentos recentes, o rapper foi impedido de publicar comentários que violavam as políticas do Instagram, incluindo antissemitas (em março, já tinha sido suspenso desta rede social após fazer um comentário considerado racista, dirigido ao comediante Trevor Noah). Como foi restringido no Instagram, recorreu ao Twitter, onde já não fazia publicações há cerca de dois anos. “Como é que me expulsaste do Instagram? Costumavas ser o meu ‘nigga’”, escreveu o rapper, dirigindo-se a Mark Zuckerberg. “O engraçado é que não posso ser antissemista porque os negros são também judeus. Vocês brincaram comigo e tentaram tirar de jogo qualquer pessoa que se oponha à vossa agenda”, declarou ainda. Depois da publicação, foi bloqueado também nesta rede social.
Foi também através do Instagram e Twitter que West já tinha referido, por exemplo, que a escravidão era uma escolha e que a vacina contra a Covid-19 era a “marca da besta”.
Ao longo deste mês, a família de George Floyd também anunciou que iria processar Kanye West por difamação, devido às suas declarações no podcast “Drink Champs”. Nesse episódio, Ye afirmou que a morte de Floyd se deveu ao consumo de drogas e não à violência policial.
O diretor-executivo da United Talent Agency (UTA), Jeremy Zimmer, condenou as atitudes do rapper e Kim Kardashian, a ex-mulher, escreveu, nas suas redes sociais, que “o discurso de ódio nunca é aceitável ou desculpável”. “Estou com a comunidade judaica, e peço pelo fim da violência e da retórica odiosa contra ela”, referiu.
Segundo a revista norte-americana Rolling Stone, que cita conversas de Donald Trump, até o antigo presidente dos EUA, que já teve o apoio de Kanye West, referiu, este mês, que o rapper “está maluco”, acrescentando que o artista precisava de “ajuda profissional”.