A PJ deteve aquele que acredita ser o principal operacional na Europa da organização liderada pelo narcotraficante Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como “Escobar Brasileiro” – também preso, na semana passada, na Hungria. O português Rúben Oliveira, “Xuxas” de alcunha, nasceu e cresceu numa família humilde dos Olivais, em Lisboa, mas o negócio da droga tornaria este homem, de 38 anos, milionário.
Rúben Oliveira tem uma ligação umbilical aos Olivais, mas já era pouco visto no bairro, onde mantém residência, e ainda continuam a viver os seu familiares e amigos mais próximos. Nas redes sociais, não escondia a vida faustosa, com as areias do Dubai, mas também automóveis de alta cilindrada, e hotéis e restaurantes de luxo, a servirem, ao longo do último ano, como cenário para as fotos de família (em que também figuravam a mulher e os seus três filhos). A lua-de-mel, porém, chegaria ao fim – e foi a PJ a assinar os papéis do “divórcio”.
Na juventude, Rúben Oliveira deixou os estudos a meio. Em troca, a rua e o crime passaram a fazer parte do dia-a-dia. Para “Xuxas”, trabalhar no mundo do narcotráfico tornar-se-ia tão natural como qualquer outra profissão. Com passos pequenos, mas firmes, dedicar-se-ia ao tráfico de cocaína, tornando-se rapidamente numa referência deste submundo na região da Grande Lisboa.
Adepto da atividade física, com gostos caros e exuberantes por joias e relógios, Rúben Oliveira sentia ter, finalmente, o controlo sobre o seu próprio destino. Bem sucedido, nunca se preocupou em esconder o fascínio pelo universo em que escolhera viver. Decidiu, então, marcar o corpo com tatuagens dos rostos de dois dos maiores narcotraficantes da história: Pablo Escobar e El Chapo.
Encontros em Alcobaça
Descrito como “eficiente”, Rúben Oliveira seria recrutado pela organização de Sérgio Roberto de Carvalho, um “salto” que lhe mudaria a vida. O ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, no Brasil, que terá liderado, durante décadas, uma rota de tráfico de cocaína que ligava a América do Sul e a Europa, já utilizava Portugal (em muitas ocasiões) como “porta de entrada” para o Velho Continente, como contou a VISÃO numa grande reportagem de investigação publicada em março de 2021. A colaboração com (o agora experiente) Rúben Oliveira seria ideal.
Em 2020, Sérgio Roberto de Carvalho vivia escondido em Lisboa – onde terá detido escritório e apartamentos, na Avenida da República –, procurado pelas autoridades brasileiras e espanholas (neste caso, para quem, supostamente, o Major Carvalho se chamava Paul Wouter, um cidadão natural do Suriname, que até tinha sido dado como morto). Foi precisamente nessa época que Rúben Oliveira terá estreitado laços com o maior narcotraficante brasileiro – e um dos maiores do mundo.
A convite do Major Carvalho, Rúben Oliveira ter-se-á deslocado até à região de Alcobaça, em, pelo menos, duas ocasiões, para encontros que tiveram lugar numa casa particular, com a presença do próprio líder brasileiro (e ainda outras pessoas). Os encontros, realizados à mesa do jantar, terminavam, impreterivelmente, ao sabor do arroz doce, uma das sobremesas favoritas de Sérgio Roberto de Carvalho; foi assim que o (doce) acordo com Rúben Oliveira seria selado.
Rúben Oliveira tornar-se-ia, a partir desse momento, no principal operacional de Sérgio Roberto de Carvalho na Europa, controlando a chegada e distribuição de grandes carregamentos de cocaína.
O dinheiro, a partir daí, começou a entrar a jorros. Para o “lavar”, “Xuxas” aproveitou o legado da família – passou a controlar uma empresa de táxis, que pertencera ao seu pai, e passou ainda a ser dono várias empresas (que permaneciam em nome de “testas de ferro”). Tudo corria bem, até que uma operação da PJ, no passado mês de fevereiro, virou do avesso a vida – que parecia intocável – daquele que era já o maior narcotraficante português.
Fruta Exótica
No âmbito da Operação Exotic Fruit, a PJ apreendeu 354 quilos de cocaína que chegaram a Lisboa, por via aérea, num voo da TAP, proveniente do Brasil, dissimulados numa encomenda de sete toneladas de papaia. A droga, avaliada em 17 milhões de euros – valor que poderia ser multiplicado até dez vezes, depois de a cocaína ser misturada com outros produtos –, tinha cinco homens à espera, entre os 28 e 42 anos, que foram detidos logo naquele momento.
A investigação permitiu perceber que a droga pertencia ao Major Carvalho, e seria distribuída pela Europa, numa ação que seria coordenada – como habitualmente – por Rúben Oliveira. Alertado pela apreensão, o narcotraficante português decidiu sair do País com a família, com a intenção de “deixar as coisas ficarem mais calmas”.
Na noite da passada sexta-feira, dia 24, ainda a saborear o regresso a territócio nacional, Rúben Oliveira seria localizado e detido, precisamente, no “seu” bairro dos Olivais. Os familiares e amigos que o aguardavam continuam, ainda hoje, à espera. “Xuxas” encontra-se detido na prisão de Monsanto.