Foi com a voz embargada pela emoção que André Ventura fez a sua declaração de vitória. Durante quase 15 minutos, o presidente do Chega atirou aos críticos e “apertou” Luís Montenegro, desafiando o líder do PSD a aceitar um Governo de coligação contando com o partido radical populista como parceiro. “Só um líder e um partido muito irresponsável deixará o PS governar, quando temos na nossa mão a oportunidade de ter um Governo de mudança em Portugal”, afirmou.
Numa noite em que o Chega somou 1 milhão e 100 mil votos – conseguindo eleger 48 deputados –, André Ventura começou por decretar o fim do “bipartidarismo em Portugal”. Aliança Democrática (AD) e PS ainda disputam taco-a-taco a vitória nas eleições (faltam os quatro deputados do estrangeiro), o presidente do Chega afirmou que “a história já fez a sua escolha”, dando ao Chega a vitória nesta noite eleitoral.
Enlevado pela vitória, André Ventura apontou ao futuro, mas também… ao passado. Aproveitou o momento para “disparar” contra o Presidente da República, os partidos da esquerda, os jornalistas, as empresas de sondagens e ainda… o 25 de Abril. “Hoje começou a mudança que o País precisava há 50 anos”, sublinhou.
“Esta é uma vitória que tem de ser ouvida no Palácio de Belém, onde um Presidente da República procurou, à última hora, condicionar o voto dos portugueses”, disse, referindo-se a uma notícia avançada pelo semanário Expresso, na passada sexta-feira, que garantia que Marcelo Rebelo de Sousa não aceitaria um primeiro-ministro que substitua o atual líder do PSD, Luís Montenegro, e que apresentasse uma maioria de direita com o Chega. “O bom povo português sabia o que queria, não se deixou condicionar, e disse ao Palácio de Belém que quem escolhe o Governo são os portugueses”, declarou.
Mantendo a toada de vitimização, André Ventura alegou que o Chega “é o partido mais perseguido em toda a história da democracia portuguesa”, aproveitando para “atirar” aos jornalistas e comentadores: “Espero que engulam muitas das coisas que disseram ao longo dos últimos anos”. “Os portugueses querem futuro e votaram no único partido que lhes garante esse futuro. Trinta e três anos depois, o País deixa de ser de apenas dois partidos [numa referência ao momento em que o PRD implodiu]. E há um distrito inteiro, o Algarve, onde o Chega venceu”, numa referência aos resultados alcançados no círculo de Faro. “Quero que o País tire as conclusões daqueles que tentaram boicotar e prejudicar o partido”, acrescentou.
O entusiasmo crescente, levou o presidente do Chega a censurar as sondagens. “Espero que muito diretores das empresas de sondagens hoje se demitam”, disse, criticando os estudos que davam conta de “uma quebra” nas intenções de voto no partido na última semana da campanha eleitoral.
André Ventura quer governar: “Está escrito nas estrelas”
André Ventura atirou à extrema-esquerda que, diz, “sequestrou” redações, instituições e estabelecimentos de ensino desde o 25 de Abril. O presidente do Chega passou pelas bandeiras do partido – a alegada “ideologia de género” nas escolas continua a levar plateias ao êxtase. A principal mensagem, porém, acabou mesmo por ser dirigida a… Luís Montenegro. “O PS perdeu. O PSD, coligado com o CDS, fica um pouco acima do resultado alcançado por Rui Rio. O Chega quadruplicou os resultados eleitorais”, concluiu.
“O Chega pediu para se tornar a peça central do sistema político português e alcançou esse objetivo. Este país precisa de um futuro na luta contra a corrupção, contra as pensões miseráveis, os salários baixos, um País de futuro para os jovens (…) Encetaremos todos os esforços possíveis para encontrarmos um Governo alternativo ao PS. O nosso mandato é para governar Portugal nos próximos quatro anos. Só um líder e um partido muito irresponsável deixará o PS governar quando temos na nossa mão a oportunidade de termos um Governo de mudança”, disse André Ventura.
O apelo ao entendimento com o PSD – efusivamente saudado pela sala –, terminou com uma nova “certeza”: “Está escrito nas estrelas! Este foi o último degrau, o ultíssimo degrau… Esta enorme força nacional, não sei se daqui a seis meses, se daqui a um ano ou se daqui a dois, vai mesmo vencer as eleições”, concluiu aquele que, de facto, ficará na memória como o grande vencedor das legislativas de 10 de março de 2024.