O político mais popular da atualidade está a viver um período negro. Marcelo Rebelo de Sousa passou 15 anos na televisão, a construir uma relação de confiança com os portugueses e, chegado a Belém, em 2016, os afetos tornaram-se a imagem de marca dos seus mandatos presidenciais, mas Portugal já o viu com melhores olhos.
O desgaste do Presidente começou a sentir-se em abril de 2022, com a saúde a dar-lhe sinal, e o cansaço acumulado de um mandato e meio passado com uma agenda frenética. Uns anos antes, ele próprio reconhecia que “dez anos para um Presidente é demais” (entrevista à TVI, em janeiro de 2014, referindo-se a Cavaco Silva). O ano de 2023 veio acentuar a “erosão”. As dúvidas e acusações de uma possível interferência de Marcelo para agilizar o acesso a um medicamento de quatro milhões de euros a duas gémeas luso-brasileiras e o ponto final na relação com António Costa, com a dissolução da Assembleia da República, queda de um governo de maioria absoluta e antecipação das legislativas para março, podem ter sido fatores a abalar a confiança dos portugueses no chefe de Estado, numa altura crítica, em que Marcelo assume um papel preponderante de regulador de um governo em gestão e pode ter de se tornar ainda mais interventivo, no pós-eleições.