A iniciativa Festa da Espiga ‘23, organizada pelo Livre, que decorreu no passado fim-de-semana, no Largo do Cabeço de Bola, em Lisboa, terminou com um momento de tensão devido à presença de um grupo de autodenominados “nacionalistas” que se deslocaram ao local depois de André Ventura e outros deputados do Chega terem partilhado publicações críticas sobre o evento nas redes sociais.
No passado sábado, 20, perto das 23h, o grupo de três homens, entre os 40 e os 50 anos, chegaram ao local onde decorria um espetáculo com drag queens para “perceberem se se estava a passar alguma coisa de mal”, segundo explicou à VISÃO uma testemunha. Os “nacionalistas” começaram por adotar uma “atitude provocatória”, mas, apesar da tensão, o episódio “não ganhou contornos mais graves”, descreve a mesma fonte. “Os membros ligados à organização do Livre optaram por falar com eles, com calma, para tentarem perceber porque é que aquelas pessoas estavam ali e o que queriam, mas também para lhes mostrarem que não se estava a passar nada de mal. Pouco depois, [os “nacionalistas”] acabaram por ir embora”, conclui.
Segundo foi possível apurar, os três homens pertencem a um grupo nacionalista de extrema-direita, que, nesse mesmo dia, terá estado presente nas manifestações contra a reunião do Clube de Bilderberg que se realizou em Lisboa.
Entretanto, o Livre, num texto partilhado nas redes sociais, responsabilizou o Chega pelos acontecimentos, considerando que estes “nacionalistas” terão sido “irresponsavelmente incitados pelo líder e deputados da extrema-direita”. Em causa, está uma publicação de André Ventura em que este destacava que a “entrada gratuita para crianças numa festa com drag queens”. A nossa esquerda está podre e doente”, acrescentava o presidente do Chega, apontando a Livre, PS e Bloco de Esquerda.
No comunicado divulgado, ontem, o Livre afirma que “o líder e os deputados da extrema-direita parlamentar fizeram circular uma montagem fazendo crer que o espectáculo de encerramento com drag queens, depois das 22h, seria destinado a crianças”.
“A Festa da Espiga teve atividades para todas as idades e contou com documentários, debates, música ao vivo etc., incluindo um espaço infantil com atividades supervisionadas por educadoras, que encerrou às 22h”, esclarece o partido liderado por Rui Tavares. “Deixamos este alerta contra manipulações da extrema-direita que poderiam ter tido consequências graves”, lê-se na nota.
À VISÃO, fonte do Livre esclarece que “era importante denunciar este episódio, não porque houvesse algum mal [em as crianças assistirem ao evento com drag queens], mas porque consideramos que estas situações não devem ficar sem ser reportadas”. “Assistimos, muito recentemente, ao papel das teorias da conspiração, da desinformação e das mentiras nas campanhas eleitorais nos Estados Unidos e no Brasil… Por vezes, a esquerda nem se dá ao trabalho de desmenti-las por serem tão absurdas, mas, na verdade, muitas pessoas continuam a acreditar nelas, o que mostra como é necessário continuar a desmontá-las”, diz.
“Nacionalistas” reagem
Entretanto, os “nacionalistas” que estiveram presentes no evento contactaram a VISÃO, por email, afirmando serem “falsas” as “declarações proferidas pelo partido Livre nesta reportagem”. Os três elementos afirmam serem “membros do grupo da Resistência Portuguesa do Movimento Defender Portugal”, associação nacionalista e identitária, fundada pelo ex-militar Luís Freire Filipe, que a VISÃO deu a conhecer, em setembro de 2021, numa reportagem sobre os movimentos antissistema e contracorrentes em Portugal. Negam, porém, qualquer ligação ao Chega.
“Não existiu por parte dos mesmos elementos qualquer conduta imprópria como é referido na reportagem. Mais informamos que durante a tarde de sábado, procedemos ao contacto com as forças de segurança (PSP) no sentido de alertar para a possibilidade de menores de idade assistirem a um espetáculo de cariz sexual, portanto somente de acesso a maiores de 18 anos”, lê-se na mensagem.
Notícia atualizada, às 13h00, do dia 24 de maio de 2023, com a reação dos três autodenominados “nacionalistas” que estiveram presentes na Festa da Espiga ’23, após contacto com a VISÃO através de uma mensagem enviada por email.