Catarina Martins anunciou, esta terça-feira, que não se vai recandidatar a mais um mandato à frente do Bloco de Esquerda. Na sede nacional do partido, a coordenadora bloquista disse que “no Bloco de Esquerda há muita gente com capacidade para assumir estas funções”.
Com a convenção do partido agendada para o final do mês de maio, Catarina Martins encerra, assim, com uma pequena declaração esta manhã e com poucas respostas aos jornalistas, um trajeto já de 11 anos – que começou com dois primeiros anos, em 2012, numa solução que ficou conhecida como a liderança bicéfala com João Semedo, que sucedeu a Francisco Louça; a que se seguiram, em 2014, estes mais de nove anos como coordenadora única.
Segundo Martins, após uma década na liderança, “o que mudou agora é a instabilidade da maioria absoluta”. “Esta crise no governo, com a luta popular, é o sinal do fim de um ciclo político. Chego portanto à razão da minha decisão. No Bloco, não há períodos muito longos de funções como a coordenação”, disse, salientando que este era um anúncio que se impunha face “a um partido de milhares de aderentes”, “com relações quotidianas de tantas lutas, de tantas causas, de dezenas de milhar de pessoas e com centenas de milhares de eleitores”.
“É agora que o BE deve começar a preparação da mudança política que já aí está”, apontou, acrescentando de forma um pouco emocionada – “garanto que não vou andar por aí”. Aliás, quanto ao futuro, não só não esclareceu se vai se manter como deputada após a convenção, como não adiantou se o seu nome é equacionável para uma candidatura ao Parlamento Europeu, em 2024.
“Ao longo dos 10 anos em que tive a felicidade de coordenar o Bloco tivemos vitórias e derrotas – uma pesada derrota eleitoral há um ano e vitórias eleitorais em 2015 e 2019, em que alcançámos e mantivemos os melhores resultados de sempre”, assumiu, reivindicando o surgimento da Gerigonça, ao obrigar o PS a assinar um acordo para a criação da solução governativa que durou de 2015 e 2019.
Ainda como independente, Catarina Martins foi eleita deputada pelo círculo do Porto, nas eleições legislativas de 2009, em que José Sócrates venceu com uma maioria relativa. Só depois se tornou militante do BE. Após a ineficaz liderança a duas vozes, com Semedo, em 2014 passa a única porta-voz do partido. Depois, só em 2016, assume o cargo, entretanto criado, de coordenadora.
As últimas legislativas, em janeiro de 2022, foram um desaire para o BE, que passou de 19 deputados, eleitos em 2019, para cinco. Desde então, algumas críticas internas, levadas a cabo por alguns rostos como o ex-deputado Pedro Soares, colocaram Catarina Martins sob alguma pressão.
“Esta renovação que pretendo promover vai renovar a energia do BE”, apontou Catarina Martins, que assim coloca o partido na linha da sucessão de líderes partidários que aconteceu com o PSD, PCP, IL e CDS após as legislativas.