“Quando se trata do dia seguinte na Faixa de Gaza, Netanyahu está a apresentar ideias que sabe muito bem que nunca terão sucesso”, disse Oussama Hamdane.
O documento que Netanyahu apresentou ao gabinete de segurança do Governo na quinta-feira à noite, a que a agência noticiosa France-Presse (AFP) teve hoje acesso, realça no preâmbulo os objetivos do exército em Gaza: desmantelar o Hamas e a Jihad Islâmica e libertar todos os reféns ainda detidos.
O exército israelita “exercerá um controlo de segurança sobre toda a zona a oeste da Jordânia, incluindo a Faixa de Gaza”, “para impedir o reforço dos elementos terroristas” e conter “as ameaças contra Israel”, sublinha o documento, que adianta que Israel manterá “a sua liberdade de ação operacional em toda a Faixa de Gaza, sem limite de tempo”.
“Este plano não se tornará realidade […] porque a realidade de Gaza e a realidade dos palestinianos só podem ser determinadas pelos próprios palestinianos”, declarou Hadmane.
“[Netanyahu] recusa-se absolutamente a reconhecer um Estado palestiniano. […] Isto levanta a questão de saber se ele e outros como ele estão qualificados para discussões políticas com os palestinianos”, acrescentou.
Netanyahu sublinhou que a região será uma área desmilitarizada, depois de destruir as capacidades militares e a infraestrutura governamental tanto do Hamas como da Jihad Islâmica, libertar os reféns e impedir que Gaza volte a ser uma ameaça.
A médio prazo, o primeiro-ministro israelita anunciou que Israel manterá a liberdade de operações militares “sem limite de tempo” na Faixa de Gaza, com um perímetro de segurança na divisa e controlo israelita da fronteira entre Gaza e Egito para evitar o reaparecimento de “elementos terroristas” no enclave.
“A ‘Cerca Sul’ funcionará — em cooperação, dentro do possível, com o Egito e com a assistência dos Estados Unidos – baseando-se em medidas para prevenir o contrabando do Egito, tanto subterrâneo como aéreo, incluindo na passagem de Rafah”, segundo o plano.
Israel afirma também que manterá o controlo da segurança sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, sendo que no enclave palestiniano “haverá uma desmilitarização completa” para manter a ordem pública.
Quanto à administração civil e à ordem pública, seriam reguladas por funcionários locais com experiência administrativa distantes de “países ou entidades que apoiam o terrorismo e sem receberem pagamento destes”, indica o documento, que anuncia um “programa abrangente de desradicalização” de instituições religiosas e educacionais no enclave, com a ajuda de outros países árabes.
A longo prazo, Netanyahu insiste na rejeição de um Estado palestiniano ou de “ditames internacionais de um acordo permanente” e prevê o fim da Agência das Nações Unidas de Assistência para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), “cujos agentes estiveram envolvidos no massacre de 07 de outubro”, afirmou o documento, apesar da falta de provas conclusivas sobre o envolvimento de funcionários deste organismo da ONU no ataque a Israel.
“Israel trabalhará para impedir as atividades da UNRWA na Faixa de Gaza e irá substituí-las por agências de ajuda internacional responsáveis”, consta o plano.
A guerra entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do movimento islamita no sul de Israel, a 07 de outubro, que causou a morte de cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis.
A ofensiva israelita de retaliação, segundo o Hamas, já matou mais de 29.500 pessoas, a maioria civis, em Gaza.
JSD (CSR) // RBF