Silvânia Moraes é professora do ensino básico e vive a 16 quilómetros de Brumadinho, local onde, na última sexta-feira, houve uma rutura de barragem que provocou, até agora, 58 mortos. A professora, que já tinha sido voluntária em vários combates a incêndios, deslocou-se até à zona do acidente para ajudar no resgate de possíveis vítimas.
Depois de lhe ser pedido para integrar uma das equipas do Corpo de Bombeiros e de ter encontrado vários corpos pelo caminho, a voluntária ajudou a levar comida a outros socorristas e auxiliar pessoas que tinham ficado desalojadas. Durante esse tempo, percebeu que o número de vítimas ia aumentando cada vez mais e a necessidade de ajuda também.
Silvânia diz ter passado um dos momentos mais traumatizantes da sua vida. “O que vivi ali foram cenas de terror ao vivo”, conta à BBC. ” A lama não deixou vestígios, passou e varreu tudo”, diz.
Também Diego Dias percorreu mais de 450 quilómetros para ajudar no resgate de vítimas. O voluntário, que já tinha experiência em primeiros socorros, caminhou pela área atingida com uma equipa da Cruz Vermelha, que não encontrou nenhum sobrevivente.
Assim que viam um corpo, informavam uma equipa do Corpo de Bombeiros, que ia até ao local de helicóptero. “Ninguém conseguia andar no barro”, diz. “Somente o helicóptero poderia retirar os corpos”.
A equipa também ajudou a evacuar casas, devido à possibilidade de rutura de uma outra barragem. “Muitas daquelas pessoas eram idosas, sem recursos e nem sequer sabiam o que tinha acontecido”, explica o voluntário.
Ainda assim, muitas pessoas pessoas não quiseram abandonar as suas casas, e algumas pediam esclarecimentos acerca de familiares que tinham desaparecido. “Fiquei muito chocado ao ver famílias gritando desesperadas e a pedir respostas”, conta Diego Dias, que diz que esta experiência foi muito “chocante” e “forte”.
Marcos Dâmaso, fotógrafo e biólogo, juntou-se com um amigo e dois cães para ajudar as vítimas da tragédia. Com o “objetivo de salvar vidas”, assim explica à BBC, os dois deslocaram-se a uma zona dedicada a voluntários e começaram as buscas com a ajuda de um bombeiro, percorrendo, ao todo, 12 quilómetros durante quatro horas.
“No rio Paraopeba, uma parte da água estava clara, enquanto a parte atingida pelos detritos estava muito escura e avermelhada. Foi um contraste muito grande”, conta. O grupo encontrou várias partes de casas, carros a boiar e outros objetos. “Foi a primeira vez que vi uma tragédia desse nível”, diz Marcos Dâmaso. Apesar disso, não conseguiram encontrar nenhum sobrevivente.
Muitos outros voluntários percorreram centenas de quilómetros para ajudar no resgate de vítimas. Denis Valério é bombeiro e, há três anos, atuou como voluntário depois da rutura de uma barragem na cidade de Mariana. Agora, procurou, juntamente com uma equipa, possíveis sobreviventes, mas também não conseguiu localizar ninguém.
Os últimos balanços dão conta de mais de 300 pessoas desaparecidas, sendo que se estima que o número de mortos ainda aumente durante as próximas horas.